2.8.11

Ultrapassando a Fronteira do "Ego": minha experiência com Cosmoconsciência

Por Dr. Fernando Salvino (MSc.)
Parapsicólogo Clínico, Psicoterapeuta


Minha trajetória investigativa da consciência é quase completamente independente e autodidata. A começar que, aos 9 anos de idade, por motivo de força maior, iniciei minha aventura pelas pesquisas da projeção consciente para fora do corpo sem precedentes. Amadureci as questões "espirituais" muito cedo e fui aprendendo a lidar com tudo isso quase que inteiramente sozinho. Os anos foram passando, experimentei uma gama de métodos e em dado momento, estudando a fundo as obras do antropólogo brasileiro Carlos Castaneda interessei-me pela possibilidade de indução da experiência fora do corpo através de uso de substância especializada. Obviamente não tinha acesso na época a ayahuaska ou peyote, porém, circulava na minha mocidade uma substância que chamavam de LSD. Moro numa ilha no Brasil, Florianópolis, e aqui subsiste uma certa cultura hippie o qual participei modestamente quando jovem. Então um amigo um dia me disse que tinha conseguido LSD. A substância é ilegal, porém, meu interesse era puramente experimental. Fazia a faculdade de Direito na época e soube que poderia não ser ilegal se tal substância fosse utilizada para finalidades científicas. Minha ética interna estava tranquila.

Convidei um grande amigo, hoje médico, a acompanhar-me no experimento. Eu tinha receio de dar algum tipo de efeito colareal imprevisível, pois conhecia o potencial ativo de tal substância através das experiências de outras pessoas e leituras da área. Fomos para as dunas da praia da Joaquina, no meio do deserto, tal como orientava o xamanismo yaqui exposto nos livros de Castaneda. No deserto não tem música, rituais ou outro agente que poderia atuar como ação sugestiva. Montamos a barraca no meio das dunas. Eu já tinha ingerido a substância nestas alturas.

Em dado momento, eu estava em profundo estado de expansão da consciência. Nosso intuito foi acampar e avistar mais um céu estrelado, trocar idéias profundas e presenciar o nascimento de mais uma Lua cheia. O céu estava radiante, com um brilho diferente e a quantidade de “estrelas cadentes” era astronômica. Não havia luz artificial alguma, somente a escuridão da noite iluminada suavemente pela luz das estrelas. No auge de meu estado de expansão, comecei a sentir minhas capacidades visuais aumentarem significativamente. O conjunto de estrelas presentes no céu começaram a me apresentar como objetos pulsantes, vivos. Elas latejavam como uma célula, pulsando conforme eu aprofundava minha capacidade ampliada de visão. A clarividência me colocava numa realidade em que não mais havia um céu, como sempre, transparecendo meio estático, mecanicista, tal como uma engrenagem cósmica com ritmo mais ou menos constante. Não mais percebia este nível. O que “via” era um céu vivo, pulsante e isto começou a chamar cada vez mais minha atenção, a ponto de minha consciência estar totalmente entregue a tal realidade. Não existia mais nada para mim naquele momento, somente a realidade das estrelas pulsando como seres vivos. Meu centro mental, o
frontochacra, estava aberto estendidamente para o foco das estrelas. Na noite fria, estrelada, permanecia
deitado no chão frio das dunas, agasalhado, percebendo a magnitude do céu inteiro pulsando como um ser
vivo. Não havia palavras. Queria comunicar aquilo para meu amigo, mas não conseguia. O fluxo começou a
direcionar-me para reflexões profundas acerca da natureza da realidade, da vida e do Universo. Em dado
instante, iniciei a focalização de uma única estrela, escolhida por sua pulsação peculiar. A focalização de
minha atenção plena na estrela provocou uma alteração maior e aumento em meu estado de consciência.
Para mim, naquele momento, só havia a realidade daquela estrela, pulsante, viva, tal como um ser vivo. Não
eram mais objetos astronômicos, físicos, mas seres vivos que respiravam num fluxo de dimensões cósmicas.
O aumento crescente de minha atenção em relação ao fluxo estelar provocou uma expansão de meu chacra
mental para fora de minha cabeça física. Neste momento senti que realmente poderia ir até a estrela por
intermédio de minha vontade decidida. Era como se minha mente estivesse solta, livre, minha cabeça física
já não podia mais segurar a expansão de consciência que estava imerso. O cérebro físico, neste momento, era somente um aglomerado de carne limitada, uma prisão consciencial. A clarividência proporcionou o
aumento do fluxo de expansão de meu centro mental até que comecei a experimentar algo que nunca havia
experimentado. Podia sentir “minha mente” sair da cabeça física de meu corpo. Comecei a experimentar esta
saída algumas vezes, indo e vindo. Tinha somente a percepção da mente, não podia me ver, não havia corpo,
forma. Mas estava ali, vivo, livre para migrar até a estrela, em foco ininterrupto. Sentia que o corpo mental
de minha consciência saia diretamente da cabeça física.

A experiência aproxima-se desta
imagem cedida pela NASA, onde
mostra a aproximação de uma
nave espacial
a um "buraco de minhoca".
É visível uma galáxia
nas proximidades da outra boca.

Num estado de consciência paranormal, numa nítida projeção de mentalsoma, comecei a ir de fato até a estrela, em direção à sua luz. Abriu-se um “túnel de aura” gigantesco, absurdamente imenso e eu comecei a atravessar, numa velocidade acima da luz, na velocidade de minha vontade decidida, de meu pensamento. Não havia gravidade, tempo ou espaço, só a minha mente e minha vontade. Não havia emoções, estava sereno, calmo e num estado profundamente amplificado de lucidez. As paredes do “túnel” pulsavam vivas, com as cores básicas do arco-íris. O branco da estrela se decompunha nas cores do arco-íris cada vez que aprofundava para dentro do túnel. Fiz este percurso várias vezes, ida e volta. Não cheguei a “lugar” algum. Num dado momento, me deu um insight de ao invés de focalizar somente uma estrela, focalizasse todo o espaço visível naquele momento; todo o imenso céu estrelado. Prestes a obter a experiência mais significativa de minha vida, ao focalizar todo o espaço cósmico, senti-me num continuun cosmodifuso lúcido, profundamente espalhado pelo universo. Minha mente se diluiu e me tornei o próprio foco, tornei-me o espaço, as estrelas, o Universo. Minha mente não mais tinha forma, mas a forma do Universo focado. O Universo que antes era somente um aglomerado de “bolas” que giravam e mantinham ritmos mecânicos de rotas e trajetórias newtonianas, agora me apresentava como uma Consciência Viva, numa presença de espírito irracional e ao mesmo tempo, extremanente lógica, coerente, como uma verdade de fato. Não mais era eu mesmo, como me conhecia até então, mas Tudo; ainda assim não deixara de ser eu mesmo, mas, paradoxalmente, conservava, intensificava e aprofundava minha individualidade. Era o próprio holomovimento em sua expansão. A irradiação consciencial cosmodifusa invadiu meu ser num nível tão profundo que as palavras apresentaram-se pobres e não merecedoras de expressão. Só havia o silêncio profundo. Não havia palavras, mas uma sensação íntima de que existia uma imensidão, um infinito, por trás de nossa identidade pessoal, por trás do que chamamos de Universo, sociedade ou o que quer que seja ou exista. A vivência falou por si, e por si mesma me mostrou a realidade transpessoal de mim mesmo e do Cosmos. Não há argumentos contra; a vivência fala por si só e, por si só é auto-comprobatória. Num universo infinitamente vasto, a matéria apresenta-se como o “1% essencial”. Na experiência da irradiação consciencial cosmolúcida, entendo que a realidade da consciência se evidencia como em nenhuma outra vivência que passei. As experiências fora do corpo através do veículo emocional (psicossoma) parecem ser o degrau para chegarmos até nossa real identidade, mas ainda é pouco. As experiências de exoprojeção para fora do Planeta não se comparam a cosmoconsciência. Após esta transcendente experiência, entrei subitamente em crise, queria chorar mas não conseguia, queria falar mas não saiam palavras, queria sumir, mas não podia mais. Sumir para onde, se não existe Onde? Se eu acabara de ser Tudo? Não podia mais negar a mim mesmo como sendo o Todo, pelo menos durante um instante, relativamente eterno.

Processo de expansão e contracção
de um wormhole de Schwarzscild.
Créd:
http://casasrv.colorado.edu/~ajsh/schww.html
Anos após acessei as obras de Stanislav Grof, o qual narrava sua experiência cósmica dentro de um laboratório com o LSD. Grof foi o precursor e o maior contribuinte para a Psicologia Transpessoal.  O uso do LSD foi justamente proibido devido a sua utilização indevida como droga.

Apesar disso, após tal experiência, pude obter experiências análogas sem qualquer uso de psicotrópico projetivo, caracterizando daí a experiência fora do corpo como um fenômeno que pode ser induzido de várias formas, sendo que a mais saudável é a pura, autoinduzida com metodologia natural, baseada na vontade.

Em determinados casos pessoas de muitos lugares vêm tentando induzir experiências holotrópicas através da ayahuaska e peyote. Processos xamânicos e mesmo linhas como união do vegetal ou comunidade do santo daime. Porém o uso extensivo de tais substâncias, como qualquer psicotrópico, acaba gerando algum tipo de dependência psíquica, porque o sujejto não faz esforço para ter a experiência.

Para nós pesquisadores, o uso técnico e científico, auto-experimental, é aconselhado na medida que possibilita ao parapsicólogo ou conscienciólogo obter maior espectro de atuação das experiências transcendentes. Para os não-pesquisadores não aconselho o uso. Estas substâncias, se a pessoa não tem estrutura interna e estrutura energética para suportar o potente efeito na psique, pode desencadear surtos psicóticos e outros distúrbios, gerando resultados que podem ser muito graves e com pouca possivbilidade de retorno. Assim, em regra, não use. Prefira, antes, métodos naturais, técnicas meditativas e outros recursos que não coloquem em risco a sua saúde. A experiência em si já é potente e basta por si só.