25.8.11

O voluntariado: ferramenta de mutação social como forma de cura para a sociedade corrupta

Por Dr. Fernando Salvino (MSc.)
Parapsicólogo Clínico, Psicoterapeuta, Conscienciólogo
Psicoterapeuta Voluntário do Projeto Amanhecer (HU-UFSC)


A corrupção é todo processo de deterioração ou quebra de um estado funcional ou organizado. Assunto tão em voga, a corrupção social, política e profissional tornaram-se atualmente e, em tese, até nunca registrado na história, como um epidemia socio-psico-patolólgica com graves consequencias na saúde mental da população de forma geral.

Este processo de deterioração é o que fez a transparênciabrasil, ONG de respeitada atuação, a publicar coisas como do tipo, que tornam irrelevantes maiores comentários:

"Dados do projeto Meritíssimos, da Transparência Brasil, mostram que três dos dez ministros em atividade no Supremo Tribunal Federal (Joaquim Barbosa, Marco Aurélio e Dias Toffoli) acumulam, sozinhos, 50% dos 64,4 mil processos que permanecem sem resolução na Corte (congestionamento). No caso de Dias Toffoli, a quantidade elevada se deve ao fato de ele ter "herdado" mais de dez mil processos que o ex-ministro Menezes Direito deixou sem resolução quando morreu, em 2009."

A ONG elenca uma série de investigações no campo da rorrupção política, tais como:



Ou seja, os dados falam por si mesmos. O ponto onde quero chegar é justamente o impacto corrosivo, bactericida, virulento, da corrupção na saúde mental da população, e incluindo, eu, você e as pessoas que conhecemos, tais como meus pacientes, os seus ou seus familiares e amigos.

A corrupção torna o Direito uma promessa. É a própria corrupção que faz a si mesma ser o principal problema ecológico, visto ser a grande contaminante das entidades e órgãos ambientais, no favorecimento de licenças, expedições de alvarás, autorizações e propinas. Senão vejamos a Operação Curupira ocorrida na Amazônia comandada pela Polícia Federal Brasileira (clique aqui):


"A operação Curupira prendeu dezenas de pessoas em vários Estados, entre elas o Secretário Estadual do Meio Ambiente, o Superintendente do IBAMA (acusado de fraudes nas ATPFs de mais de 1 (um) bilhão de reais) e o Presidente da FEMA (Fundação Estadual do Meio Ambiente), todos do Estado de Mato Grosso".

O impacto mental da corrupção possui impacto educativo, ou melhor, deseducativo. A população aprende a ser corrupta e a tornar tal fato um comportamento normal ou, noutro olhar, inevitável para a sobrevivência social. A corrupção é o que leva empresas a levarem receitas para o exterior, para os paraísos fiscais, com finalidade de driblar a Receita Federal: o órgão responsável pela apropriação indébita legalizada do dinheiro da população, com finalidade de aplicação tributária da renda em projetos fantasmas. A situação da saúde pública e da educação pública no Brasil denuncia a corrupção na gestão da receita tributária, colocando tal finalidade arrecadatória, como ilegal e legítima apropriação indébita realizada pelo Estado de Direito (?).


Estas incoerências expressas pela corrupção geram uma sociedade contaminada, poluída. Em mais de 400 a.C, Confúcio dizia: "Ainda estou para conhecer um homem que tenha tanta afeição pela virtude quanto pela beleza feminina". Esta fala já denuncia a corrupção na China antiga e ao longo da história, com o patrocínio das orgias de prostituição dentro dos governos, que colocam a sedução, o sexo, o poder, acima de qualquer virtude ética que, em tese, deveria estar sendo cultivada. Mas não está devido a própria função e razão de existir de um Estado de Direito. Um Estado de Direito é, por excelência, um instrumento de coerção. E por agir através da violência legítima, mostra sua total incoerência constitucional em elencar como princípios magnos, a igualdade, o respeito, a dignidade humana, etc. Pois, se houvesse o respeito aos princípios, assim, deveriam ser abolidos os presídios, penitenciárias, instituições estas incapazes de recuperar um ser humano poluído pelo proprio sistema que julga capaz de restringir as liberdades individuais e impor as penalidades do Código Penal. E as incoerências não param por aqui. Você pode fazer um teste: leia bem atento a Lei de Execução Penal e visite um presídio e um hospital de custódia e tratamento psiquiátrico. Compare a teoria com a prática e terá um diagnóstico da corrupção e dilaceração do Estado.

Assim, vamos aprendendo a nos corromper. O processo de aprendizagem é metahistórico, começou h=a milhares de anos, estando pois na raíz do surgimento do Estado e da primeira instituição de governo instituido do planeta. Russerl não soube precisar bem como se deu a origem do Estado, mas não nos importa aqui entrarmos nesta investigação. O Estado de Direito é um sintoma socialmente manifesto do núcleo de insanidade mental em cada um de nós. É a manifestação legitimada da vingança, da coerção e da imposição, pela violência sutil ou expressa. O Estado de Direito, por ter um germe contraditório em sua base, necessita da corrupção para existir. Pois, sem corrupção social, inexistiria Estado. Não precisaríamos de Leis tal como conhecemos hoje. Bastariam os princípios éticos mais amplos de respeito em alto grau de discernimento, sabendo o limite de cada um nos relacionamentos. Haveria confiança, logo, não haveria trairagens e, com isto, a Justiça tornar-se-ia irrelevante. Continuando esta lógica, o Estado se dissolveria naturalmente com a própria elevação da maturidade moral, ética e psíquica individual, socialmente e ecologicamente, pelo respeito aos demais seres vivos, maioria no planeta. Mais libertos do egoísmo intoxicante que impossibilita a interrupção da Copa do Mundo para a nutrição da Somália, assim, a sociedade alcançaria maior equidade natural. Viveríamos um Direito Natural, sem governo e Estado, tal como conhecemos e vivenciamos hoje.

Por outro lado, no atual sistema que vivemos, precisamos desenvolver uma capacidade aguda de conseguirmos nos sustentar, vivermos dignamente e, ainda assim, não nos metermos nas tramóias sedutoras que chegam e tentam nos atravessar. Quando permitirmos que a corrupção se instale em nossa mente a partir do desejo de enriquecimento fácil, de ganho de oportunidades sem esforço, e assim por diante, ocorre, antes na mente, um tipo específico de corrupção: a auto-corrupção, isto é, quando a pessoa trai a si mesma, priorizando seu egoísmo em detrimento do bem estar social, coletivo e mesmo difuso (ecologia, planeta).

A corrupção, com isso, se origina na autocorrupção. Finca suas raízes nas mentes de cada um de nós a partir da priorização dos interesses puramente pessoais impondo-os sobre os interesses coletivos/difusos. E o processo da autocorrupção finca suas raizes, por sua vez, na falta de amor que sentimos perante nós mesmos e perante os outros, os animais, plantas, planeta, vida. O desamor gera a autocorrupção. A autocorrupção gera a corrupção. A corrupção provoca a deterioração social progressivamente. Esta deterioração por sua vez, faz o feedback, o retorno do ciclo, contaminando as pessoas e incentivando-as a se corromperem. Isto se instala uma moral social doente, onde torna isto uma referência de normalidade.

Indo mais a fundo, o desamor que sentimos em relação a nós mesmos, ou noutras palavras, o ódio de nós mesmos, já foi apontado por Brennan, como a causa básica de todas as doenças humanas. E tal ódio, aversão e rejeição que sentimos em relação a nós próprios, finca suas raizes num medo existencial profundo, de uma falta de sentido de vida, de uma incompreensão profunda do Logos, do Tao de si mesmo e do mundo. Um vazio corrosivo que precisa ser preenchido de alguma maneira. A corrupção social leva o sistema à sua morte. E se tal sintoma está se manifestando em nível social, senão vejamos os casos de suicídio atualmente realizadaos e mesmo as tentativas. Poderia aprofundar se conseguisse contar quantas fantasias e pensamentos de suicídio os 7 bilhões de seres humanos criam em suas mentes por dia. Tal fato é o que evidencia o porque tantas notícias de morte diariamente publicadas na Folha de São Paulo, por exemplo.

Para superarmos a autocorrupção, precisamos aprender a nos amar e a amar as pessoas e a Terra, amarmos a vida. Isto significa uma profunda mutação palingenética, na estrutura do self, no Eu real, para que tal mutação se propagasse socialmente até a formação progressiva da futura e, no meu ponto de vista, inevitável Sociedade sem Estado.

Os movimentos sociais em terapias integrativas, alternativas e complemenares e em tantos outros setores sociais, principalmente a humanização através do voluntariado consciente, assistencial, parece-me serem indicativos poderosos do início desta sociedade. Muitos movimentos estão sendo realizados, como na própria UFSC, no Hospital Universitário, pelo Projeto Amanhecer, composto por terapeutas voluntários e prestando atendimentos gratuitos em alto nível para a população.

Abaixo cito uma história, narrada por Milena Mascarenhas que mostra o poder do voluntariado como ferramenta de mutação social, transcendendo o governo, a corrupção, e instalando a sociedade da generosidade, amorosidade e benevolência:

"Algumas pessoas resolveram fazer a diferença e ao realizar o seu projeto de vida estão impactando diretamente a vida de milhares de outras pessoas. É o exemplo de Ryan Hreljac.
 

Com apenas seis anos, Ryan Hreljac estava assistindo uma aula na sua escola em Kemptville, Canadá, quando a professora disse que todos os anos milhares de crianças africanas ficavam doentes ou morriam por ingerir água contaminada. As condições de saneamento eram péssimas e as crianças tinham que andar vários quilômetros por dia para conseguir um pouco de água. Suja e escura, longe de ser potável.

Ryan se comoveu com a história, e perguntou para sua professora qual o valor que precisaria para levar água para as crianças africanas e ela se lembrou da ONG WaterCan que perfurava poços na África e que um poço pequeno deveria custar cerca de 70 dólares.

Ryan, para conseguir o dinheiro, trabalhou durante 4 meses, fazendo tarefas domésticas. Mas na ONG informaram que somente a bomba manual custava 70 dólares! Para a perfuração do poço o valor era 2.000 dólares. A energia e determinação de Ryan animaram vizinhos, irmãos e amigos. Todos se propuseram a trabalhar, vender produtos e conseguir doações. Em pouco tempo arrecadaram 700 dólares e a WaterCan prometeu que completaria o restante do valor.

Em 1999, o tão almejado poço foi construído na Angolo Primary School, em Uganda, beneficiando milhares de pessoas com água potável. A história, porém, não termina aí. Essa foi apenas a realização de uma pequena parte do sonho de Ryan.

Depois da construção do poço, foi feita uma parceira entre a escola do Canadá (Holy Cross Public School ) e a de Uganda (Angolo Primary School), pela qual as crianças podiam trocar correspondências. Numa dessas correspondências Ryan conheceu Jimmy Akana, um garoto que antes da construção do poço tinha que andar oito quilômetros para buscar água imunda. Ryan queria conhecê- lo pessoalmente, sentir a realidade dele e das outras crianças. Os pais de Ryan percebiam que mesmo com a construção do poço, o filho não parava e continuava dedicado, lutando por mais doações e com muito esforço financeiro lhe presentearam com uma viagem para Uganda.

Em 2000, Ryan, seus pais e o guia chegaram de caminhonete por uma estrada de terra ao pequeno vilarejo onde foi construído o poço. Ryan ficou surpreso, pois havia milhares de crianças enfileiradas batendo palmas para ele. Os líderes da aldeia levaram Ryan até o poço e lhe pediram pra ler o que estava escrito no concreto:“Poço de Ryan. Financiado por Ryan Hreljac. Para a comunidade de Angola”.

A Ryan’s Well Foundation, criada em 2001, acaba de completar 10 anos. Ajudou a construir mais de 630 poços e 700 latrinas, levando água potável e serviços de saneamento básico para mais de 705.000 pessoas.
Ryan é reconhecido pela Unicef como Líder Global da Juventude e continua dedicado e empolgado com seu trabalho na Fundação, dando palestra em vários países, escolas, igrejas, clubes, eventos e conferências, falando de forma apaixonada sobre a necessidade de água limpa em todo o mundo. Ensina também a população local a cuidar corretamente dos poços e da água.

Vejam o quanto a decisão de uma pessoa, neste caso de uma criança, pode melhorar a vida de milhares de outras pessoas. E você, qual a diferença que quer fazer para o mundo?

Fonte: http://papodehomem.com.br/homens-que-voce-deveria-conhecer-17-ryan-hreljac/"