Trajeto evolutivo da consciência e a formação da personalidade palingenética |
Por Dr. Fernando Salvino
Parapsicólogo, Parapsicólogo Clínico e Psicoterapeuta
Núcleo de Investigações Avançadas da Consciência (NIAC) - FEBRAP/ABRAP
A terapia de vidas passadas vem se mostrando mistificada e embriagada por paradigmas e axiomas que podem ser prejudiciais ao paciente bem intencionado e carente de assistência ética.
Um exemplo, já citado, é a TVP a distância, cursos de TVP online, e a TVP pura e simples baseada em concepções epistemológicas não tão coerentes com o fenômeno psigama, a retrocognição.
Então, o ponto de partida é a retrocognição como fenômeno psi, estudado cientificamente pela ciência reconhecida oficialmente, a Parapsicologia. Muitos pesquisadores de renome mundial debruçaram-se na investigação do fenômeno, tal como o médico Ian Stevenson. Outros associaram a retrocognição a terapêutica e misturaram concepções místicas, esotéricas e outros referenciais para usar de arcabouço teórico para uma metodologia similar de base: a hipnoterapia.
Apesar de que a hipnoterapia possa se manifestar a partir de várias abordagens, aqui consideramos como o método de indução de um estado alterado de consciência, o estado de transe hipnótico, que pode variar de intensidade (similar a hipnopompia e hipnagogia) e que facilita o aparecimento do fenômeno psi, chamado de retrocognição: um tipo de fenômeno extrassensorial (ESP ou PES) onde a consciência do sujeito se percebe situada num passado, que pode ser nesta vida, dentro do útero, entre as vidas encarnadas e em vidas passadas longínquas. Em síntese resumida, são experiências com carregadas de sentido e geralmente, de emoção e sentimentos, ligada a momentos passados de trauma ou de felicidade aguda, nos extremos da emoção associada a memórias organizadas do modo como Grof nomeou: sistema COEX - condensed experience.
O problema não é tanto de método, visto que considerarei aqui que a grande maioria se utiliza da hipnoterapia para a indução do fenômeno em pacientes, no contexto clínico. O problema é quanto ao todo, à terapêutica.
Os profissionais em geral são terapeutas holísticos com formações em hipnose, ou psicólogos e médicos com formações universitárias completamente dissociadas à realidade palingenética, que traduz uma outra episteme clínica e cognitiva. Ademais, no Brasil, médicos e psicólogos são legalmente proibidos de atuarem com tal terapêutica de vidas passadas, por ser considerada pelos conselhos, como pseudo-ciência.
O profissional legalmente habilitado para pesquisar e atuar neste âmbito, associando-se ao campo psicoterapêutico, é o parapsicólogo legalmente habilitado pela associação competente, a ABRAP - Associação Brasileira de Parapsicologia ou outra do gênero, como a ABPCM - Associação Brasileira de Parapsicologia e Ciências Mentais. O parapsicólogo é o profisisonal realmente qualificado legalmente e teórico-experimentalmente para atuar com o método de hipnoterapia com mais precisão, visto que estará penetrando num campo transpessoal, parapsiquico, que opera com uma realidade que transcende a visão geral da ciência e adentra no campo psi, fenômenos de ordem psigâmica, que podem estar entrelaçados, um no outro. O profundo conhecimento da fenomenologia psi, por parte do parapsicologo lhe facilita a entender o que se passa com o paciente quando em transe retrocognitivo e, posteriormente, poderá como psicoterapeuta de abordagem parapsicológica e evolutiva, dar o devido suporte e a consequente terapêutica no pós-retrocognição.
Desta forma quando falarmos em TVP estamos falando de uma terapêutica praticada por uma gama de profissionais não-parapsicólogos, podendo ser terapeutas holísticos, apometristas, médicos e psicólogos (mesmo na ilegalidade) e outros, como hipnoterapeutas. E estes profissionais cada um utiliza-se de abordagem que lhe é mais adequada, como a espírita (Allan Kardec), como a transpessoal (Grof e cia) e assim por diante, até as interpretações mais místicas. Assim, TVP é aquela terapêutica mística que visa pelo uso da hipnoterapia a indução de retrocognição para finalidades terapêuticas ou suposta finalidade terapêutica, podendo dar ou não suporte posterior ao paciente bem intencionado.
Diante do todo exposto e de tudo que já expus e que já foi debatido nesta revista, proponho o nome "retrocognição clínica ou retrocognoterapia" para designar uma das técnicas usadas por parapsicólogo/psicoterapeuta para finalidades terapêuticas, dentro de abordagem parapsicológica, ampla e científica, sem qualquer conotação mística ou esotérica, aplicada pela escola fundada pelo médico brasileiro e parapsicólogo Dr. Eliezer Mendes e obedecendo aos referenciais mais profundos da ciência da consciência, em abordagem transcisciplinar, porém, científica e clínica. Esta técnica visa a indução por métodos que podem ser caracterizados por hipnoterapia ou não, como a técnica da dissolução da couraça psicoafetiva, que, dependendo do caso, desencadeia a memória associada ao bloqueio do chacra cardíaco (emocional/sentimentos), localizado psicobiofisicamente na região fisiológica cardiorespiratória.
O nome "regressão", portanto, é inadequado e não-científico, para nomear este fenômeno psigâmico já amplamente estudado pela parapsicologia e projeciologia e já nomeado cientificamente de "retrocognição", que é um conceito muito mais preciso para designar tal fenômeno que inclui os múltiplos níveis da cognição humana, direcionadas para a alteração de consciência potente para o deslocamento do espaço-tempo ao passado, seja já de que época ou momentum da consciência.
A cognição envolve um "conjunto de unidades de saber da consciência que se baseiam em experiências sensoriais, representações, pensamentos e lembranças" (Houaiss). Quando este conjuntos de unidades de saber da consciência adentram noutro estado de consciência, ocorrente no passado, a consciência acha-se situada noutro momentum, com a sensação de que o passado ocorre no presente. Por outro lado, nem sempre a consciência percebe tal profundidade experimental, mas pode perceber seu passado como numa tela projetiva, um filme ou algo do gênero, ou até flashes fugazes e sensações difusas. Estas últimas são o começo do transe retrocognitivo.
Assim, ao falarmos em retrocognição, estamos falando de um dos fenômenos psigâmicos mais profundos e impactantes na parapsicologia e, na parapsicologia clínica, tal fenômeno mostra muitas vezes o panorama etiológico da patologia de muitos pacientes, podendo ao trazer à consciência lúcida do presente, o alinhamento espaço-temporal com o atual momento desta atual existência e favorecer a evolução pela autosuperação. Quando estudamos o fenômeno retrocognitivo cientificamente, estamos na parapsicologia. Quando usamos dos conteúdos retrocognitivos para finalidades terapêuticas, então, estamos na parapsicologia clínica e sua técnica, a retrocognição clínica ou retrocognoterapia.
Esta técnica nada tem a ver com a técnica adotada pela psicoterapia reencarnacionista, ou outras técnicas utilizadas similares a esta. A psicoterapia reencarnacionista é focada em "sessões de regressão", não existe a psicoterapeutica propriamente dita. Apesar de Kwitko (ABPR) afirmar não se tratar de uso de hipnose e que o processo é totalmente comandado pelo mentor espiritual do paciente, então estamos num campo mais da religião e seus axiomas inverificáveis, do tipo, ou aceitamos esta premissa inquestionável, ou estamos fora. Porque não existem evidências científicas e clínicas suficientes até agora para nos ancorarmos nestas premissas.
Cientificamente, parapsicologicamente, não há como saber exatamente quando eu ou quando uma inteligência theta especializada na terapêutica (amparador, mentor, etc.) é quem de fato está no comando de uma sessão retrocognitiva. Outra questão é que, nós terapeutas podemos ser amparadores encarnados, o que derruba o mito de que somente os espíritos são evoluídos. Existem médiuns mais evoluidos que as supostas entidades evoluídas que através dele se manifesta. Outro falo clínico é que, qualquer procedimento em que um profissional induz relaxamento e expansão de consciência em outrem, por fala dirigida e técnica, estamos no campo da hipnoterapia. Outro fato parapsicológico é que não temos evidências suficientes para afirmar com certeza científica e clínica de que as memórias do paciente são escolhidas pelo amparador extrafísico do mesmo. Isto é um axioma inverificável. Entendo que pode ocorrer ambas as coisas: o paciente por seu sistema de radar COEX (Grof) rastreia a informação que está dentro de si mesmo (inconsciente) para a superfície da consciência e, o amparador mais lúcido pode ou não estar ali, junto, neste processo, podendo estar mais de retaguarda, preservando o campo de intrusões theta (SPI - síndrome de personalidade intrusa). E tudo isto associado principalmente ao psicoterapeuta e seu caráter, sua benevolência, sua amparabilidade e sua generosidade, discernimento, acuidade, parapsiquismo e experiência no campo das retrocognições em si mesmo. Todo este campo multidimensional, interconectado, é que se caracteriza pelo que chamo de retrocognição clínica.
Mas, é claro, o assunto precisa ser muito mais aprofundado. E isto não quer dizer que é uma técnica que cura tudo ou a tudo ajuda. Não. A pessoa interessada pode começar apendendo a acessar sua memória antiga e, após, dar continuidade em esforços pessoais, autoditadas, pelo resto de sua vida, após sua melhora, para compreender-se mais profundamente, sua origem, por onde passou, o que fez, como fez, quem era, como era e assim por diante, seus padrões de repetição, desafios até aos poucos compreender seu padrão de personalidade palingenética, formada ao longo dos milênios.
Então, estamos noutra epistemologia, outra episteme e outra cognição científica e clínica. Está além de remissão de patologias e adentra no caminho de um autoconhecimento profundo, sério, sem mística e da forma mais lúcida. Adentra no caminho natural da evolução em sabermos quem de fato somos e quem de fato fomos, por onde caminhamos em nosso passado, nossa origem, nosso big bang.
As sessões clínicas obedecem à característica de todo fenômeno psi, ou parapsiquico/paranormal e sua dificuldade de controle e instabilidade de ocorrência, dependendo de uma soma vetorial de fatores atuando sistemicamente. Depende do grau de sensibilidade do paciente e quanto mais o paciente for um AGP - agente psi confiável, mais sucesso terá nos experimentos. Caso contrário, terá de aprender antes para depois dar continuidade. Em alguns casos, as sessões são experimentais e pedagógicas, para o paciente aprender a relaxar, a suportar estado de consciência mais alterado e retornar saudavelmente destes estados. Isso sem entrar em retrocognição. Porque o fenômeno exige saber experimental prévio por parte dos pacientes. Caso contrário o paciente é levado a sessões e os resultados são psicoterapeuticamente insatistafatórios. E nós, parapsicólogos clínicos, vamos aprendendo com nossos erros, principalmente com nossos erros. Os acertos, são acertos. Ótimo, prosseguimos nos acertos. Mas nossos erros são eles que nos mostrarão o caminho de correção de rota. E uma das coisas que aprendi neste caminho é que é urgentemente necessário caracterizar o perfil sensitivo dos pacientes antes de usar desta técnica. Um parapsicólogo experiente sabe se o paciente é clarividente ou que tem facilidade no processo de acesso holomnemônico. Ele olha e sabe, capta, percebe, extrassensorialmente. O parapsicólogo precisa ser sensitivo e mais experiente que o paciente, ou se não for, usar de sensitivo auxiliar ou equipe de sensitivos junto com ele, para fazer a captação e o paradiagnóstico, conforme as orientações de Eliezer Mendes, fundador da parapsicologia clínica. O campo empírico é complexo e carente de investigações sérias.
Diante disso, adentramos no campo complexo da ética em psicoterapia parapsicológica que utiliza da retrocognição clínica. Em síntese, não é técnica indicada para todo e qualquer caso clínico e, mesmo que o paciente assim deseje realizar quando não for o caso, o psicoterapeuta deve negar fazer e esclarecer que outras coisas são mais relevantes, como o fortalecimento da personalidade deprimida, a elevação da energia e a amparabilidade, antes de qualquer procedimento clínico como este ou mesmo análise aprofundada dos processos cognitivos e suas distorções. Esta me parece ser a regra, mas existem exceções. Em alguns casos, o paciente deprimido sai da depressão após uma sessão como esta. Os critérios que estabelecem o uso ou desuso de RC, estão ainda em desenvolvimento pelos parapsicólogos clínicos e será assunto do próximo ensaio, a parte II deste. E este presente ensaio, é um ensaio, portanto, nada definitivo, nada conclusivo e assim que o campo experimental exigir modificações, assim ocorrerá. E, se algum dia o campo experimental me exigir abandonar esta ou aquela técnica, por variadas razões, assim ocorrerá, tudo em prol do melhor para o paciente.