19.2.12

O Caso dos Homens-Dominó: do Sonho Lúcido à Projeção Consciente e Outras Considerações

Por Dr. Fernando Salvino
Parapsicólogo, Parapsicólogo Clínico e Psicoterapeuta
NIAC - Núcleo de Investigações Avançadas da Consciência
FEBRAP-ABRAP
MSc. Educação (UFSC); Esp. Educação (UDESC).


I - Da experiência consciente fora do corpo.

A experiência ocorreu-me na madrugada do dia que antecedia o reveillon, no ano de 2011. Minha filha Yasmin (9) me perguntava se poderíamos acampar na virada do ano devido ao fato dela gostar muito de natureza e da experiência de acampamento. Falei a ela que iria pensar no caso, mas que provavelmente seria difícil porque já tínhamos combinado de passar a virada em família. A noite, quando dormíamos, tive um sonho.

Estava sonhando que estávamos acampando num local que não reconheço onde, e ao abrir a lona da barraca deparo-me com quatro homens amistosos vindo em direção da barraca. Eles estavam cerca de 200 metros de nós. Eu imediatamente ergüi minha atenção concentrada aos homens fitando-os profundamente no sentido de uma acareação defensiva. Estava alerta no sonho, raciocinando. Em dado momento pensei com clareza: "estes homens são produtos de minha mente". Ao pensar isso, permaneci olhando-os e suas imagens pictóricas simplesmente cairam como peças de dominó no chão do campo psíquico do universo que estava naquele momento. E, quando eles cairam no chão, senti estar fora do corpo e pensei comigo mesmo, em estado de euforia: "estou fora do corpo!". A euforia foi intensa e creio que segundos após, vi-me despertando dentro de meu corpo, com a memória de toda experiência acessada em bloco, sem ter tido a consciência do deslocamento extrafísico para o interior de meu corpo.

II - Breve Análise Parapsicológica

O modelo aqui adotado é o autoexperimental, fundado por Sylvan Muldoon. A experiência mostrou-me a gradação do espectro de lucidez extrafísica, indo do sonho comum, passando ao sonho lúcido e terminando com a projeção consciente propriamente dita, fora do corpo. Cada extrato de experiência mostra-se com características específicas, onde confundimos as imagens pictóricas com imagens reais de sujeitos ou coisas existentes independente de nossas mentes. A experiência provou ser de fato o sonho uma experiência onde o sujeito interage com seus próprios conteúdos mentais tal como eles correspondessem ao campo de realidade. No caso narrado, os homens-dominó eram peças mortas, conteúdo onírico pertencente ao campo da fantasia fóbica inerente ao meu instinto de proteção em relação a minha filha, em virtude das ameaças rotineiras de acampamentos, assaltos, etc. Pressuponho que o medo fantasiado pertença ao meu núcleo fantasístico fóbico o qual expressou-se em sonho. Estava eu estudando a técnica projetiva ensinada por Juan Matus a Carlos Castaneda, em fitar profundamente as imagens dos sonhos para averiguar se as mesmas se caracterizam por seres inorgânicos ou meras imagens pictóricas sem importância substancial. Creio que o fato de ter fitado os quatro homens tenha esta programação subconsciente relativo ao livro que estava lendo antes de dormir, contribuindo como fator de autoindução subconsciente. A passagem do sonho somum para o sonho lúcido é evidenciado pela intensificação da atenção para um único objeto, no caso, os quatro homens. E como fiquei lúcido?

Ocorre um fenômeno que é realmente estranho. Simplesmente emerge em minha mente uma pergunta disparadora de um tipo específico de reflexão onde expando minha lucidez e tomo ciência da existência de minha mente, apenas, ali, diante do objeto. Donde provém o pensamento? Para Muldoon esta é a lei básica da ciência da projeção, a de que o fator de comando das experiêncisa é o subconsciente. Então partirei desta hipótese, visto ter vindo meu pensamento de área subconsciente a meu campo de consciência ali, desperta. Ocorre também outro fator nesta projeção, a coragem. Lembro que precisei acumular coragem para fitar os quatro homens no olho, sem medo, firme e inflexível. Esta postura de coragem está associada a lucidez extrafísica de alguma forma. O medo contribui para a geração de imagens oníricas sem consciência, meras projeções do inconsciente fóbico. A coragem, por outro lado, contribui para o fortalecimento da lucidez e para a sustentação da atenção, atributo básico para a experiência fora do corpo consciente. Ao questionar na experiência de serem as imagens dos quatro homens, oníricas, ocorre outro fator aqui, embora estando mais de fundo e no campo da intenção, que é o querer saber a verdade real dos fatos. A pessoa que não quer saber a verdade dos fatos, não tem este tipo de experiência. Sonha como se estivesse dentro de um filme real, mal sabendo ela estar dentro de sua mente e seus medos e anseios. Este estudo ali expresso no universo mais extrafísico, é o de discernir o que é conteúdo de minha mente e o que pertence ao campo da realidade externa a mim. O raciocínio parte deste método. Desta forma, o exercício do discernimento em fazermos ciência de nossa própria atividade mental é essencial para termos uma projeção consciente. Este exercício significa investigarmos continuamente o que é conteúdo projetivo de nosso inconsciente fóbico e neurótico (sonho comum e sonho lúcido) do que é conteúdo pertencente ao campo do real, externo a nós (embora a fronteira entre o eu e não-eu seja porosa). Sem este discernimento a pessoa fica incapaz de saber se está num sonho ou se está fora do corpo, projetada.

III - Breves Considerações Finais

Este exercício serve para nossa vida, estejamos em qualquer dimensão da realidade. Quando estamos aqui, nesta dimensão, ou nas dimensões extrafísicas, o discernimento entre o eu e o não-eu, entre aquilo que nos pertence e aquilo que não nos pertence é básico para nossa saúde mental e mesmo para o domínio progressivo das aptidões parapsíquicas, sensitivas, extrassensoriais. Daí a importância de uma ciência mental auto-investigativa como pressuposto para experiências fora do corpo conscientes bem sucedidas, no sentido da autoconsciência progressiva dos processos de criação mental e de nossas reações as criações mentais, incluindo, as fantasias e devaneios diuturnos.