2.6.13

Sobre o Diálogo

Por Fernando Salvino (MSc)
Parapsicólogo, Psicoterapeuta
Parapsicólogo (FEBRAP/IPCM)
Mestre em Educação (UFSC) e Esp. Educação (UDESC)




Um ensaio sobre o diálogo me parece essencial nesta fase de meus trabalhos e principalmente de minha vida. Em ciência fala-se muito em debate e pouco em diálogo. Nos relacionamentos, o debate é o principal agente desagregador do amor. As críticas excessivas e a incapacidade temporária de trazer em relevo o que o outro tem de melhor, as qualidades, o que fez e faz de bom. Aprendemos a criticar e criticar e criticar. E a crítica já é uma verdade, ela só é ensinada. Faz parte do ensino e não da educação. Quando nos sentimos encurralados diante de uma força autoritária que tenta nos persuadir de tal e tal argumento, de tal e tal doutrina, ou saímos ou lutamos. Em nenhuma das duas alternativas existe diálogo. Porque a saída, embora seja uma excelente alternativa de não-violência, nada resolve. A luta (debate) também não. O debate é ato de desamor. Já a saída pode conter em si o amor, o respeito e a decisão por não brigar ou conflitar quando o diálogo se mostra inviabilizado. Mas observamos que temos dentro de nós uma compulsão por discussões. E isto serve para a grande maioria da humanidade que ainda cultua a guerra e a competição, mesmo sem saber pelo que competem.

Diálogo é amor, respeito, ética, paz, não-violência, harmonia. Debate é raiva, ódio, controle, subjugação, belicismo, violência, desarmonia. Diante disso vou estabelecer algumas noções que considero importantes sobre as diferenças entre diálogo e debate.

O debate é a disputa, a luta intelectual, que testa capacidades persuasivas, autoritárias de convencimento sobre um outro ou sobre um argumento, teoria ou tese, visando sua anulação ou diminuição e mesmo em muitos casos, a humilhação pessoal para finalidades de vitória intelectual ou de manutenção do paradigma. O debate carrega a intenção de vencer o outro; carrega o desrespeito ao que é diferente daquilo que vivemos, experienciamos, sentimos e pensamos. Ao debatedor seu mundo é o mais certo, suas teorias são melhores, seus paradigmas são de ponta, suas verdades são mais avançadas. Então, ele já sabe que sabe, então só lhe resta vencer ou mesmo, em atos de arrogância e prepotência, demonstrar seu saber ao mero ouvinte. O debate é assim a essência do ensino. O ensino é o ato de ensinar, ou seja, de colocar signos noutro, passivo. Somente no ensino é possível que haja professor e aluno. O aluno é aquele é que alimentado. Vem da sua origem, a pedagogia, ou a condução das crianças pelos escravos.

O diálogo é a relação comunicativa donde existe harmonia, respeito e concessão mútua do direito de ser quem somos e de pensar/sentir o que bem entendemos. Neste não existe a intenção ou esta é minimizada a um nível bastante baixo, de agressão e guerrilha, ou de vencer o suposto oponente para convence-lo da verdade. No diálogo a intenção é de troca, de uma espécie de construção de conhecimento mútua, sincrônica, harmônica, sem instalações de campos de resistência energética, de domínio mental e intimidações. No diálogo existe concessão de direitos de ser quem somos, então, inexiste intimidação, mas liberdade de expressão. É mais como uma dança, como um jogo de frescobol, como uma conversa informal sem pretensões de vencer o outro, porém, com alto nível de seriedade. Para mim somente pelo diálogo é possível a educação. E onda há educação, não há professores. Nada há a se professar, a se declarar, a se comunicar, a se expor, porque não há aluno, não há o sujeito passivo, tábula rasa que nada sabe, e que é mero receptor de informações. Então, onde há educação, há sim, educadores. Educação é o movimento de edução, de eduzir, extrair. A extração da informação (educação) ao invés do depósito de informação (ensino). Na educação o educador facilita a edução, ou seja, a extração do conteúdo principal a se aprender: os próprios conteúdos internos do educando. Educando é aquele que solta, expõe e trabalha seus próprios conteúdos sob orientação do educador.

Assim, a educação por excelência é sempre psicoterapia. E o ensino por excelência é mais um desastre autoritário de imposições de currículos e de depósito de conteúdos geralmente inúteis à vida real do educando do que aprendizagens significativas. Considerar uma pessoa um aluno é desvalorizar completamente aquilo que ele já traz: conteúdos e mais conteúdos e uma herança histórica palingenética.

E penso que, somente numa relação dialógica que por natureza, uma relação educativa, é possível uma ciência pacífica e uma sociedade amorosa, pautada no respeito intercultural e cosmológico.

E uma ciência pacífica é aquele onde concedemos a nós mesmos o direito de sermos quem somos e aos outros o mesmo direito.

E onde há esta concessão existe a possibilidade de diálogo e de construção.

Alegra-me realmente que eu seja capaz, não sempre, de estabelecer diálogos até mesmo com pessoas que nada sabem do que estudo e ainda sim, criar nesta relação um aprendizado significativo, que é o objetivo essencial, a razão de ser da educação. Enquanto a aprendizagem significativa é a razão de ser da educação, o diálogo é o método universal. E para haver diálogo é necessário um único princípio, da ordem ética e mesmo jurídica: o de conceder a si mesmo e ao outro o direito de livre expressão de si mesmo e do que pensa, sente, vivencia e dogmatiza.

Porém quando não capaz de estabelecer uma relação dialógica com alguém, frustra-me, e dependendo da pessoa com o qual ocorra tal impossibilidade, entristece-me. Apesar de entristecer-me diante da frustração de não estabelecer diálogo com algumas pessoas que amo ou que considero importantes, ainda sim, motiva-me compreender-me sobre os porquês não consegui e diante disso, extraio de mim mesmo os conteúdos necessários para que possa ver, trabalhar e superar, e diante disso lançar-me novamente ao diálogo com o outro, usando da melhor linguagem e visando somente um único objetivo: a harmonia e a construção significativa de uma relação de diálogo. E considero que, onde há diálogo, há amor. E o que falta ao planeta é diálogo.

Diálogo consigo.

Diálogo com os companheiros, cônjuges, esposas, esposos, filhos, filhas, pais, mães, irmãos... nossos semelhantes, independente de quem quer que seja.

Diálogo com os animais.

Diálogo com as plantas.

Diálogo com a natureza.

Diálogo com a vida.

Diálogo com o cosmo.

Diálogo com o infinito.


E não é o discurso, não é uma filosofia. É uma práxis. E a resultante desta práxis em maior ou menor escala está no sentimento geral de paz interna, serenidade e sentido.

O diálogo é o fundamento da holocosmologia. E por ser o diálogo seu fundamento, o amor é seu substrato.

E pergunto também a mim mesmo:

Estamos realmente dispostos a estabelecer relações de diálogo com tudo e todos? E arcar com as consequências de, em determinados casos, sair (ausentar-se, silenciar-se) mais ao invés de debater?