Como tudo começou...
Há cerca de 4 anos, venho usando um conceito com meus pacientes para tentar esclarecer um comportamento da mente. A este comportamento mental chamei de “armadilha da mente”. É esta armadilha que considero como um dos fatores mais sérios na manutenção e cristalização dos estados patológicos da mente e da vida da pessoa. Desarmar esta armadilha não só leva a pessoa a sair do estado emocional doentio como também prepara-a para um caminho sem retorno de autodomínio mental e autoconhecimento mais profundo de sua mente e de si mesmo como um todo. Mas este caminho começou há anos atrás, no começo de minha vida clínica. Tinha cerca de 20...21 anos de idade, quando passei por um acidente quando realizava ciclismo.
Estava descendo uma ladeira quando o garfo dianteiro da bicicleta simplesmente teve seu parafuso quebrado e, preciso continuar? Estava a quase 50km/h e somente despertei na ambulância do SAMU. Nos diagnósticos médicos, descobriram que eu tinha fraturado um pedacinho da cervical, sem risco de vida. Precisei usar durante 6 meses um protetor de coluna. Na época era estudante de Direito e acabei fazendo a fase em casa, isolado de meus colegas e da realidade. Minha vida na época era dinâmica e já atuava clinicamente, como atividade paralela. Estava nos primórdios de minha atividade clínica. Devia estar no primeiro ano de consultório, já atendia cerca de 5 a 10 pacientes por semana. Até então não sabia o que era um estado depressivo avançado. Durante os 3 primeiros meses tive de me adaptar a realidade osciosa e puramente mental de minha rotina. Antes, era ciclista, pedalava kilômetros diariamente e praticava o surf cerca de três vezes na semana. Após o acidente, tive de parar tudo. Esta mudança radical me gerou um estado de inaceitação. Eu criava pensamentos de inaceitação regularmente. Queixava-me e reclamava da situação. Negava a realidade e não conseguia aceitar o que estava ocorrendo. Tinha uma vida pela frente e acreditava que aquilo poderia ser uma ameaça. Tive de interromper todos meus atendimentos clínicos. Nestes 3 primeiros meses afundei-me num estado emocional depressivo profundo. As experiências parapsíquicas e mediúnicas se intensificaram de forma aguda. Passei por várias experiências conscientes para fora do corpo, certamente, como recurso de fuga da prisão corporal que estava. Uma pessoa, que não me lembro quem, apresentou-me um livro sobre o "poder da mente". Não lembro o autor, creio ter sido de Lauro Trevisan (o poder infinito da mente). Li o livro em pouco tempo, uma hora ou pouco mais. No livro dizia que "os pensamentos geram sentimentos". Dizia mais: "você tem o poder de mudar seus pensamentos". Eu lia aquilo e sentia alguma alteração em meu estado depressivo. Eu estava engolido por aqueles sentimentos. Começei a fazer experiências comigo mesmo de criar outros pensamentos. Eu dizia a mim mesmo com bastante força mental: "eu posso, eu consigo". Escrevi no espelho do banheiro estes dizeres e repetia-os com freqüência diária. E tentava perceber os resultados em meus sentimentos. Eu percebia que me sentia mais confiante, melhor, mais forte, mais parecido como me sentia antes do acidente. Então, permaneci dizendo mentalmente: "eu posso, eu posso, eu posso". Ao examinar meus pensamentos, identifiquei que fazia a mesma coisa para o lado negativo: "não vou aguentar ficar 6 meses com essa merda!" Eu repetia muitas vezes mentalmente isso. E o resultado? Desânimo generalizado... Até que fui percebendo que eu lidava com meus pensamentos como se estes fossem reais. Como se estes fossem a realidade. Quando descobri que quando eu mudava os pensamentos e modificava meu estado emocional imediatamente, eu sai imediatamente do estado depressivo. Este experimento durou cerca de 2 dias. Assim, hoje eu brinco dizendo de que é possível sair de uma depressão em 1 minuto. Basta para isso, modificar com potente força de vontade os pensamentos negativos e gerar pensamentos positivos, regularmente e habitualmente, sentindo as emoções dos pensamentos novos e positivos. Faço isso até hoje, diariamente, como medida preventiva de higiene mental. Passaram-se anos e especializei-me neste processo de autoconhecimento mental, adentrando nas esferas inconscientes da mente, pela hipnose, terapia de regressão e outros recursos. Atualmente realizo experiências psicoterapêuticas comigo mesmo e com meus pacientes de técnicas cognitivas, comportamentais e mesmo das ciências mentais como forma de dinamizar os resultados terapêuticos.
Existem várias maneiras de estudarmos a mente humana, tais como:
1. Do ponto de vista corporal ou "externo": a mente humana enquanto um veículo ou corpo de manifestação da consciência, também chamado de corpo mental (Leadbeater) ou mentalsoma (Vieira). Este ponto de vista pode ser classificado em sub-grupos, tais como:
- Parafisiologia do corpo mental: estrutura, forma, expessura e outras propriedades deste veículo.
- Parapsicopatologias do corpo mental: doenças, distúrbios e problemas gerais restritos a este corpo.
- Projetabilidade do corpo mental: o fenômeno da projeção consciente para fora tanto do corpo humano como do psicossoma (corpo astral, corpo psíquico) através do corpo mental.
2. Do ponto de vista mental ou "interno": a mente humana enquanto uma realidade interna, cujo comportamento básico da mente se dá pela geração contínua de pensamentos, tais como as frases internas (diálogos internos), imagens e cenas pictóricas ("novelas" mentais), sonho diuturno ou o sonhar acordado (onirismo sem controle), etc. A vivência mental, interna, ocorre simultaneamente com os fenômenos parafisiológicos, parapsicopatológicos e projetivos do corpo mental. A pessoa projetada para fora do corpo, em projeção mental, permanece pensando, raciocinando, sentindo e percebendo a realidade de si e do ambiente. Assim, a dinâmica interna ocorre em qualquer estado de consciência, esteja a pessoa aqui, nesta dimensão, projetada ou, noutro caso, na condição extrafísica ou desencarnada.
Apesar de trabalhar com uma concepção sistêmica unindo as duas concepções, estarei dando maior prioridade ao ponto de vista interno, da dinâmica intrapsíquica ou mental propriamente dita.
A armadilha da mente é um conceito que nasce da minha experiência pessoal no estudo da minha propria dinâmica mental e no contexto da psicoterapia clínica, como falei acima. Nunca sequer tinha lido nada a respeito. Somente anos após ter usado este nome encontrei em Leahy, em sua obra "Técnicas de Terapia Cognitiva - manual do terapeuta", noções similares a este conceito, em ciências mentais, PNL e outros recursos da terapia avançada.
Ao longo dos anos de prática clínica percebi o quanto também meus pacientes - especialmente alguns mais sensíveis aos pensamentos (pessoas hiperssensíveis ao pensamento) - tratavam seus pensamentos como se os mesmos fossem realidade de fato. Eles realizavam previsões do futuro; julgamentos acerca de seus maridos e esposas; expressavam opiniões sobre si mesmos crendo ser muito verdadeiras e inquestionáveis; expressavam uma certeza de que estavam sendo obssediados; etc. Ao perceber o movimento que eles faziam, fui percebendo junto a minha própria dinâmica mental.
Estes pensamentos sobre o futuro, a realidade de si e dos outros eram tratados como "verdades"; eram tratados como "fatos", como "realidade objetiva", concreta. Em muitos casos, os relatos de suas vidas e de acontecimentos eram confundidos com pensamentos acerca do que realmente houve. Havia muita confusão sobre o que seriam os fatos, a realidade, e o que seriam os pensamentos sobre os fatos. Os pacientes iam falando, relatando suas questões e a cada "golfada" de frases ditas, aparecia uma crença central, uma idéia matriz, um conjunto muito atrelado e agrupado, "grugado", de pensamentos supostamente verdadeiros: as crenças, verdadeira matrizes cognitivas. Os pensamentos que eram tratados como o próprio fato ocorrido estavam atrelados a um sistema de crenças, escondidos e diluidos, em todo discurso, fala, emoções, sentimentos, postura física, sintomas, etc.
Exemplo de caso clínico (modificado e adaptado)
A paciente observava seu marido, sentado na sala, quieto e deprimido e concluia que "havia algo de errado com ela". Ela queria provar que ela não era merecedora de amor. Sua provável crença matriz. Ao observar o marido sentado e deprimido, ela tenta investigar o porquê o marido está daquele jeito. Seu método de investigação é falho na medida em que deduz ao invés de interrogá-lo. Ela teme interrogá-lo e conversar com ele com medo de ouvir aquilo que teme: o medo de ser rejeitada e de não ser merecedora de amor. Ao prever erroneamente a situação futura de rejeição (porque ele também poderia não rejeita-la não é? E ao contrário acolhê-la), acaba usando do método dedutivo. Ela deduz que ele está assim há X tempo porque "ela pensa não ser merecedora de amor". Ela esconde com isso um ódio e uma aversão de si mesma. Esta aversão está ancorada em sua infância. A paciente é negra e passou por discriminações raciais na infância e, com isso, guardava um profundo sentimento de auto-rejeição. O que ela mais temia era o que ela mais fazia consigo. Ao procurar a "verdade" diante de toda esta confusão de percepções, fatos, memórias, sentimentos e idéias, previsões e comportamentos, a paciente começa a desenvolver um discernimento mais aguçado e inicia o processo de reprogramação mental, ajustando sua percepção para a realidade usando do método científico mais indutivo ou experimental para alcançar suas conclusões. Para isto, ela reaproxima-se do marido e inicia uma série de diálogos. Ela descobre que o problema de sua depressão transcende a si mesma e, ajuda-o a buscar auxílio psicoterapeutico. Inicia-se assim, uma psicoterapia de casal, onde atendia os dois separadamente. A depressão do marido era profunda e de múltiplas causas, eram múltiplos fatores atuando sistemicamente em conjunto, ao mesmo tempo. Fêz-se inclusive sessões de terapia de regressão a vidas passadas, quando o mesmo estava sintonizado em experiências fóbicas antigas, bastante traumáticas. Em cerca de 6 meses de psicoterapia semanal, bastante comprometida por ambos, foi possível ajuda-los no realinhamento existencial praticamente integral, com mudanças sistêmicas iniciadas a partir do modelo de pensamento e rumando para os outros setores da vida de ambos, como a relação com os filhos, profissão, aposentadoria, etc. Muitos outros casos foram atendidos com bastante êxito nos resultados psicoterapêuticos e evolutivos. O começo da psicoterapia se dá pela reprogramação mental. E isto inclui uma alfabetização mental, onde o paciente pode usar destes instrumentos para ter maior segurança interna e autonomia. No caso acima, a paciente quando realmente discerniu pensamento de realidade, a mudança foi inevitável.
O que é esta armadilha?
No momento em que estamos pensando temos uma forte e potente tendência em acreditar que o pensamento é um fato, correspondente direto e exato da realidade. Tendemos a acreditar que o pensamento é realidade. E esta é a armadilha.
Então, se pudesse medir esta força e esta poderosa tendência podemos supor a hipótese de que, em 100% da humanidade, ou seja, 7bilhões de pessoas, cerca de 6.300.000.000 (6 bilhões e 300 milhões) apresenta poderosa e forte tendência a crer que os seus pensamentos são fatos (realidade). Aplico a estatística hipotética de 90% da humanidade. O restante dos 10%, cerca de 1% ou menos têm pleno domínio mental. Os 9% restante apresentam maior domínio, porém, ainda não pleno. Os 1% são aqueles chamados de "serenões".
Assim, se temos 99% da humanidade, nesta estatística hipotética, submetida a esta tendência, assim, é fácil compreendermos o porquê temos tantos problemas sociais, econômicos, ecológicos, espirituais, mentais, emocionais, etc.
Como iniciar o processo de auto-domínio mental?
1. Começe de forma simples. Questione mais seus pensamentos. Não acredite de imediato. Desconfie quando usar palavras como: "sempre", "nunca", "jamais", "toda vez" e assim por diante. Geralmente elas são distorções e fazem com que você sinta não ter saída para seu problema. Observe seu discurso interno. Observe o que fala para si e para os outros. Você pode fazer um registro ou diário dos pensamentos mais comuns e repetidos.
2. Questione a validade dos pensamentos. Este pensamento é real? Olhe agora para os fatos. Para as evidências e confronte o pensamento com a realidade. Com a sua memória. Você está lembrando um fato passado ou está lembrando um pensamento ou tendo um pensamento sobre o fato? Use o máximo seu discernimento.
3. Busque evidências reais. Confronte o pensamento com a realidade. Fatos e se for o caso, pergunte diretamente às pessoas aquilo que deseja confrontar. O confronto direto com o real anula o poder do pensamento distorcido. Um paciente classificado como esquizofrênico, afirmava com absoluta certeza que estava sendo perseguido por uma emissora de TV. Ele afirmava coisas com uma força de certeza e denotava muita inteligência ao tentar convencer-me. Mas como iria provar a ele sua distorção? Num dado momento relatou outro fato onde ele poderia ir diretamente à pessoa e interrogá-la para confrontar a validade seu pensamento. Desafiei-o. Eu dizia a ele: a minha hipótese é que teu pensamento é falso. A tua é que teu pensamento é verdadeiro. Algumas sessões foram gastas para pelo menos ajuda-lo a situar seu pensamento não como verdadeiro, mas como uma hipótese. Eu dizia a ele: me prova que é verdade teu pensamento. Ele dizia: "não tem como provar". Até que houve a oportunidade de testar um pensamento. Ao testa-lo o paciente, realmente em estado psicótico, comprovou estar errado. Ele por fim, conseguiu com isso situar todos seus delírios mentais no campo da hipótese. Ficou muito melhor depois disso e voltou a ter convívio social normal.
4. Reprograme sua mente, suas idéias. Estabeleça uma lista de pensamentos positivos reais sobre você, que tem correspondência com o real, com sua vida e fatos passados ocorridos. Escreva alguns pensamentos deste na forma de frases, tal como: "Eu sou vencedor. Eu consigo vencer." (lembre-se de suas vitórias anteriores e lembre-se de que consegue vencer). Não crie frases como esta se após um exame real de sua vida você detecta que passou por muitas experiências desagradáveis e no fundo sente-se mais frustrado que vencedor. Não importa. Encontre outro pensamento positivo que está ancorado em outros fatos positivos a respeito de você. Este é um modo simples de fazer. Existem muitos outros modos. Outro modo é você repetir as frases em estado de relaxamento. Compre um CD de relaxamento, preferencialmente os conduzidos, para que você entre no estado da mente relaxado e leve as frases para o subconsciente. É importante que sejam frases suas, que você mesmo elaborou.
5. Procure auxílio profisisonal. Em casos sérios onde a pessoa não consegue por si realizar o movimento, é aconselhável procurar ajuda psicoterapêutica com profissional da área da reprogramação mental.
O trabalho de reprogramação mental não cura tudo e nem é o recurso ideal para qualquer problema. É mais um recurso que podemos usar para uma vida de autonomia e segurança interior. Por autodomínio não podemos considerar repressão ou recalque das emoções. Significa uma vida emocional mais livre e fecunda.
O domínio da mente leva inevitavelmente, ao domínio das emoções. O domínio das emoções leva inevitavelmente ao domínio dos estados emocionais patológicos, como depressão, tristeza, etc.
Questão para auto-reprogramação mental:
1. Faça uma lista de pensamentos negativos sobre você mesmo que o perturba (faça na forma de frases afirmativas) e busque evidências de sua validade na realidade.
2. Se for preciso entreviste pessoas, pergunte, relembre fatos, faça o que for necessário para confrontar suas idéias com a realidade.
3. Reformule os pensamentos distorcidos e corrija as frases para a orientação correta.
4. Faça a experiência de repetir as novas frases e perceba os novos sentimentos gerados pelos pensamentos reformulados.
5. Avalie os resultados. E caso queira, comente sua experiência aqui neste artigo.
Ótima experiência!!!