31.3.10

Por que fazer terapia? A ressurreição de si mesmo.

Por Dr. Fernando Salvino - Parapsicólogo Clínico
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Amigos(as),

Hoje, após meus atendimentos matutinos, como toda semana, estava a pensar sobre o que escrever esta semana para as mais de 1.000 pessoas que hoje recebem o Parapsicologia Clínica NEWS em seus e-mails, semanalmente. Na maioria das vezes, pergunto a mim mesmo sobre o que escrever. Fico sentado na cadeira da sacada de meu apartamento, diante do imenso mar da praia do Campeche, deixando minha mente vagar pelo infinito daquele horizonte, refletindo sobre a Vida, o Sentido e a Existência e aguardando que a “Inspiração” se manifeste. No entanto, desta vez, antes de ficar pensando muito a respeito, a “Inspiração” indicou-me consultar minha esposa a fim de que me pudesse passar a sua posição. Aproveitando a Pascoa e s eu significado, resolvi unir as coisas neste texto.

- Que tema achas interessante escrever para esta semana?

Ela respondeu prontamente, após explicar o perfil do público leitor:

- Porque tu não escreves sobre “Por que fazer Terapia?”

Este texto é a resposta a esta simples pergunta.

POR QUE, AFINAL DE CONTAS, FAZER TERAPIA? E O QUE TEM A VER COM RESSUCITAR A SI MESMO?

Quando eu era pequeno, lembro que os adultos em geral me ensinavam algo estranho a respeito. Diziam eles:

“Quem faz terapia é doido, tem problemas mentais...”.

Parecia-me quase como uma infecção, como se a insanidade pudesse me infectar, como se as pessoas que faziam terapia fossem diferentes, tivessem algo que não tinha, um vírus estranho, uma bactéria maligna... sei lá o que realmente eu pensava, eram sensações estranhas que me davam quando os adultos falavam sobre terapia.

Lucas e a fabricação de sua insanidade....

Um amigo de infância, que chamo aqui de Lucas, era um desses. O pai surrava-o de cinta quando mexia no trem elétrico do pai, guardado a chaves no escritório, para os filhos não mexerem. Ele um dia me disse que ia ao psicólogo ou psiquiatra. Ele tomava drogas psicotrópicas aos 11 anos. O pai fumava cerca de quatro maços de cigarro por dia e, às vezes, acendia um cigarro quando o outro ainda estava aceso no cinzeiro. O filho tem problemas, diziam os adultos.... No seu quarto, Lucas tinha uma tabela com todas as coisas que tinha que fazer, desde o acordar até o dormir. Caso não fizesse, apanhava. Lucas era um desses que os adultos temiam: infectado pela loucura, insanidade ou algum distúrbio mental. Lembro-me de sua euforia ao me chamar no quarto do pai, para mostrar-me a arma do pai, guardada no criado-mud o, ao lado da cama.

Outro amigo, que diziam que ele precisava ir a um ‘psicólogo’, a um ‘psiquiatra’, lia Isaac Asimov (famoso autor de ficção científica) desde sua tenra idade, apresentava comportamento evidente de isolamento e restrição de relações de amizade. Eu era seu único amigo. Ele raramente saia de seu mundo, seu quarto, seu universo. O estranhamento que causava em mim seu mundo marcou-me profundamente. Aprendi com este amigo a ficar sozinho. Ele tinha um saber que poucos tinham: ele sabia ficar a só confortavelmente. Ficava horas num transe calmo e tranqüilo. Apresentava como dizem os psiquiatras, comportamento de traços psicóticos, esquizofrênicos e traços de um pré-autismo. Tinha grave problema de adaptação social e de inserir-se no mundo. El e poderia ter ido a um terapeuta, mas nunca o foi. Foi acusado de “demônio” no colégio de freiras que estudava. Ele tem o “vírus da insanidade”, infectado pela loucura ou por algum distúrbio mental ou emocional, diriam os adultos. João nunca foi a um terapeuta. Dizia ele: “eu não preciso de terapia”.

Maria é outro exemplo. Aos 7 anos, o pai abusara dela sexualmente. Hoje, aos 26 anos, sente que tem algo errado em sua vida, apresenta problemas de várias áreas de sua vida. Sente que pode enlouquecer a qualquer momento. Maria foi infectada pelo “vírus”. Robson também, o pai e a mãe lhe abandonara e o deixara aos cuidados dos avós. A mãe sempre privando-o de dar sua opinião sob ameaças de agressão, Robson hoje tem medo de decidir, medo da vida, encolhe-se dentro de si e se acovarda. Robson infectou-se. Exemplos não param. Todos eles pararam num terapeuta. Mara e Robson eram meus pacientes. Poderia ficar aqui citando exemplos e mais exemplos de pessoas que se “infectaram com o vírus”.

Acha que me livrei do "vírus"?

Eu também convivi com o “vírus da insanidade” desde pequeno. Aos nove anos, no colégio tomei água da torneira, o que acabei por me infectando pela hepatite. Tive febres fortes de mais de 39°. Numa destas febres aconteceu algo estranho: eu começava a sair para fora de meu corpo e ficava flutuando no teto do quarto. Senti muito medo por causa daquilo. Via espíritos no quarto me olhando em pé ao redor da cama. Meus pais, ninguém sabia explicar. Nesta idade, fui a exames de eletroencefalograma, para ver se tinha algo de estranho no cérebro: e nada. Bom, desde os nove anos, acabei pertencendo a classe dos infectados pelo “vírus”. Achava eu que não era normal. Algo de estranho existia em mim que não havia nos outros. Eu acreditava nisso. Neste caminho, busquei ajuda e fui pa rar num terapeuta. Como muitos de meus pacientes, passei por tudo que possam imaginar. Desde os pretos-velhos até os cientistas e filósofos, como Heidegger, Sartre, Husserl e Hegel. Nesta caminhada tornei-me adulto também. Mas sentia-me um adulto diferente, minhas idéias eram outras, minha visão de mundo era diferente. Eu praticava Tai Chi Chuan, estudava língua chinesa sentado na grama com os alunos, surfava e apreciava o pensamento chinês. O “normal” não me atraía, as “convenções”, o “comum”. Atraia-me as pessoas incomuns, as ciências incomuns, as filosofias incomuns, as que fugiam da regra, que transcendiam o “normal”. No Direito, estudei os criminosos quando estagiário da 1ª Vara Criminal de Florianópolis, ainda na segunda fase. Quando formei-me advogado, fui estudar o hospital psiquiátrico de internamento de criminosos insano s. Descobri a insanidade social instalada naquele presídio e naquele manicômio, na forma de tratamento e nas instalações desumanas. Tive contato com os casos extremos da insanidade e aos poucos fui expandindo meu interesse para toda a gama de pessoas incomuns e descobri o incomum em todas as pessoas. E o “incomum” tornou-se o “normal”. Descobri a insanidade latente em todos nós. Então descobri a função da terapia nos tempos atuais.

Tornei-me então Parapsicólogo Clínico para ajudar os que necessitavam de ajuda. Larguei a profissão de advogado. Acharam que eu estava louco. Terminei o mestrado em educação, trabalhei com professores, ajudando-os. Descobri que a maioria necessita de ajuda e todos, sem exceção, carregam a pressão da insanidade dentro de si. Pessoais “normais” podem, no outro dia, acordar deprimidas sentindo-se loucas, insanas e profundamente odientas perante a vida, os filhos, a esposa e o esposo, as pessoas, a sociedade, etc. Podem ser amadas em um dia e, no outro, serem pressionadas a tomarem drogas sob acusações de que estão “infectadas”, sendo odiadas pelas mesmas pessoas que a amavam. Estas pessoas podem num dia serem normais e terem uma vi da comum e, no outro dia, podem estar presas num hospital psiquiátrico devido a um surto emocional grave, onde quebrou a casa inteira devido ao ódio reprimido anos a fio. Ela tem problema mental, diz os rótulos. Pessoas trabalham em coisas que odeiam ao longo de suas vidas, relacionam-se com que não amam durante anos a fio e, quando surtam, eis o que ocorre: “ela está ficando louca, ela tem algum problema, tem depressão, é bipolar”. Os rótulos já estão prontos, como um fast-food da mente, os pacotes prontos para serem vendidos. Ela acredita que é anormal, que tem uma espécie de “vírus” que tem algo que precisa ser tirado de dentro dela. Um desequilíbrio neuroquímico, dizem que ela tem que tomar lítio, ingerir umas pílulas que geram uma euforia e que a longo prazo gera dependência e mais depressão.

Você pode ser esta pessoa.... qual problema?

Você pode ser esta pessoa que me lê. Você mesmo pode ser a pessoa que falo aqui. Que hoje é insegura, com auto-estima comprometida e que se acovarda diante de toda mudança profunda que a vida lhe pressiona a tomar. Você mesmo foi enganado pelos adultos quando pequeno. Acontece que os adultos também foram, um dia, pequenos e enganados pelos adultos. E hoje, você é adulto. E hoje, você pode estar enganando seus filhos ou alunos.

Infância dolorida: eis nosso patrimônio

Desde criança aprendemos a não ser quem somos. Isto já disse noutro texto, mas é importante contextualizar aqui também. Aprendemos muito pouco sobre nós mesmos e muito sobre o que “deveríamos ser”. Os adultos, pais, professores e autoridades da infância, nos ensinaram muito sobre os ideais daquilo que deveríamos ser e seguir. Eles nos apresentaram os ideais de Cristo e de outros como norteadores de nossas ações. Eles nos apresentaram para modelos quase perfeitos de ser humano. Eles nos ensinaram a negar a nós mesmos e a seguir os ideais, numa fantasia sem fim. Os adultos em nossa infância, não nos ensinaram sobre nós mesmos. Raros foram aqueles que ouviram de seus pais: “ seja você mesmo”. Escutávamos cada um de seu modo: “não seja você mesmo”. Aprendemos a nos rejeitar, a nos odiar, a sentir raiva de nós mesmos por sermos quem somos, por termos um ou outro traço de personalidade, por sermos muito ativos ou passivos, por não gostarmos da escola ou de desejarmos ficar o tempo todo nela. Fomos ensinados a não amar nosso corpo também, a rejeitá-lo. Muitos pais diziam: “você está gordo... você está magro demais... seu cabelo está feio, arrume estes dentes...........”. Acontece que seus avós faziam a mesma coisa quando seus pais eram crianças. Um ciclo vicioso se instalou. Há muitas vidas ocorre assim. Conflitos são gerados devido a estas incompatibilidades, e “carmas” são criados devido a isto. E temos de repetir, nascer junto das mesmas pessoas que tentar fazer diferente. Tent ar aprender outras formas de ser e estar no mundo.

Mas onde irei aprender isto?

É aqui que entra a importância de fazer terapia e respondo a pergunta de minha esposa: “por que fazer terapia?”

Porque necessitamos aprender a ser quem somos, aprender a nos conhecer.

Terapia: aula-particular de si mesmo.

A terapia é um tipo de “educação de adultos”, onde o “professor” é o terapeuta e o “aluno” é o paciente. A relação terapêutica é diferente da que ocorre em sala de aula ou aula particular tradicional. O terapeuta não está no centro da aprendizagem e nem existe um livro ou matéria que precisa ser ensinada. Não importa o que dizem os livros ou o que a universidade falou, ou o que as praticas e experiência diz. O que importa é o livro da vida do paciente, uma pessoa humana. O conteúdo do “livro do paciente” precisa ser estudado, e existem técnicas para se estudar os conteúdos do livro de nossas vidas. O terapeuta facilita o caminho que o paciente tem, em sua frente, de se conhecer. O conhecimento na terapia é o conhecimento de si mesmo. O paciente é uma pessoa. O terapeuta também. Ambos criam uma atmosfera de franqueza onde a aprendizagem de si mesmo torna-se possível.

Mas o que é Terapia?

Terapia é a aula particular de si mesmo. É onde a pessoa podem se despir de todas as suas máscaras e convenções sociais, despir-se da moral, da forma correta de falar, e de tudo que “entope” a si mesma para que, enfim, comece novamente a ser a si mesma, ser quem ela é. Autêntica, honesta consigo e franca com seus sentimentos e pensamentos. Ela pode falar o que quiser, tem liberdade de ser quem ela é. Ela pode aprender a confiar e a mostrar, falar e expressar conteúdos de sua vida que nunca ou raramente pode compartilhar com alguém. Ela sai da solidão, do isolamento, encontra na terapia um local de ancoragem para se restabelecer, conhecer-se e voltar a ser quem ela é.

Poucos espaços sociais permitem sermos quem somos. Nem a Igreja permite; você não pode questionar o sacerdócio, as regras, as normas católicas ou evangélicas. Nem no centro espírita pode: Kardec é inquestionável, a moral cristã é intocável. Quando pensa algo diferente em seu grupo de amigos, muitas vezes não se sente a vontade para se manifestar: irá contra a cultura e a moral do grupo. A mesma coisa no trabalho: você tem idéias diferentes, pensa diferente, e se cala muitas vezes. Tem medo de se passar por ridículo, idiota, tanso ou burro. Duvida de sua capacidade intelectual e emocional. E acaba por isolar-se no grupo. A maioria dos espaços não permite que seja você mesmo. Diria mais, a cultura é uma cultura que sufoca o Ser. E quando este começa a se expressar, existem “drogas” que o anestesiam. As “drogas” podem ser o assédio moral, o preconceito, os “tarjas-pretas”..........

A clínica, especialmente, a Parapsicológica é o espaço onde o paciente pode ser quem ele é em sua inteireza, dentro de sua natureza real, autêntica e honesta, incluindo o que foi em vidas passadas e o que se passa dentro de si que ultrapassa todo o convencional. E dentro desta condição de liberdade, pode se conhecer e a partir da segurança de ser quem ele é, retorna ao mundo com os pés firmes no chão e mais seguro de si mesmo e de tudo que acontece consigo mesmo. E com isto, compreende mais as pessoas a partir da compreensão de si mesmo. Vencendo sua insanidade e o preconceito que sente de si e do ódio de si mesmo, passam a se amar mais e, com isto, abre-se ao amor ao próximo naturalmente, progressivamente, a cada passo que dá no caminho de autodescoberta.

Terapia Parapsicológica e Propósito de Vida

Num dado momento da história da criação cósmica, os Seres foram criados. Eu nasci, você nasceu. Num destes trilhões e trilhões e trilhões de Seres estava você. Você foi criado com um propósito. Por esta razão é diferente e singular a todas as outras pessoas. Estamos aqui para nos realizarmos como pessoas e esta realização passa por realizarmos nosso propósito na vida.

A terapia é o caminho seguro de identificarmos e começarmos a realizar o nosso propósito. A felicidade que tanto sonhamos está ao nosso alcance, dentro de nós, nas profundezas de nosso Ser. O Poder Divino ou a Vida Maior nos criou por algum motivo e, por este motivo somos diferentes um do outro. Por este motivo passamos por esta ou aquela experiência ou temos este ou aquele trauma. Nada há de errado conosco. Pertencemos a um processo evolutivo espiritual infinito, onde não sabemos quando começou e se terá fim. A terapia é o aprendizado da tomada de responsabilidade por nossa evolução e por tudo que ocorre dentro de nós e em nossas vidas. Estamos no exato ponto onde nos encontramos. Você está aí, lendo este texto. Eu estou aqui escrevendo par a você. E eu e você decidimos para onde iremos e o que faremos de nossas vidas, após este momento. Eu te ajudo a ser quem você é. Mas você é responsável por tudo aquilo que é e por ser quem é. Aprender isto é terapia.

Paz e Luz!

Fernando.