10.5.12

Síndrome do Pânico: Uma Oportunidade Evolutiva

A Confiança em Si, na Vida e na Existência
Por Dr. Fernando Salvino
Parapsicólogo Clínico e Psicoterapeuta



A Síndrome do Pânico é um assunto que me interessa muito. Uma vez tive isso em minha vida. Pela primeira vez pude sentir ter toda minha vidar fora de qualquer controle de minha parte. Isso faz muito tempo, foi em 1993, 1994, quando sofri um acidente grave de bicicleta, quando fazia meu ciclismo de rotina. Meu destino naquele momento se alterou por completo: relacionamento amoroso, direção de vida, interesses existenciais, etc. E minha sensação foi de perda total de controle de tudo que poderia ter como "minha vida".

Naqueles tempos comecei a procurar auxílio psicoterapêutico. Eu previa meus surtos de pânico e direcionava toda energia na produção artística e estudos. Creio ter pintado e desenhado centenas de quadros. O produto desta "emergência espiritual" (Grof) foi duas exposições de artes plásticas realizadas aqui em Florianopólis e, a última, que seria o ápice de toda minha produção artística não fora realizada, que atravessava o tema da extraterrestriologia e suas relações com as atividades criativas, artísticas e parapsíquicas. Foi uma época rica de experiências psi. Desta forma, curei-me pela criatividade, minha mente começou a explodir idéias, insights e comecei a escrever, a pesquisar a fundo. Foi exatamente nesta época, que comecei a encarar de forma séria os estudos parapsíquicos e da consciência. Estudava de tudo, inclusive biografia de pintores. O meu pânico gerou-me uma intensa oportunidade evolutiva e aprendizados inigualáveis. A experiências fora do corpo e o parapsiquismo se intensificaram e pude expandir o espectro de minhas percepções para o além vida e para um universo mais essencial da existência.

Naqueles tempos a experimentação pessoal do pânico levou-me a compreender este estado estranho de consciência, onde a pessoa sente realmente estar perdendo ou estar sob a ameaça de perder o controle sobre si e sobre sua vida, numa ameaça catastrófica surreal e não compreendida. O processo pode estar acompanhado com o que chamei noutro estudo de "angústia do nada", angústia esta que aparece no campo da consciência e a pessoa não sabe e não identifica a causa de sua própria angústia. E ainda, comprovei experimentalmente estar o pânico, ligado às personalidades hiperssensíveis ou sensitivas, e esta síndrome ancora-se numa etiologia também parapsíquica, ligada às consciências extrafísicas perturbadas que pioram o quadro crítico do paciente hiperfóbico. Assim, a correção da síndrome se associa com um amadurecimento da paranormalidade do sensitivo, inevitavelmente.

Assim, compreendo experimentalmente o pânico como um estado de consciência desagregador do ego ou personalidade, intimamente ligado à SPI - Síndrome da Personalidade Intrusa


Esta desagregação parece ser uma ameaça de desintegração, de morte, de aniquilação, onde o campo de consciência se defende das potentes pulsões fóbicas através do surto. O surto de pânico é assim uma reação sistêmica do organismo inteiro para a auto-preservação do ego, ou a parte limitada do eu.

O pânico pode ser definido com uma potente pulsão fóbica. Esta pulsão gera perturbação aguda no corpo, nas emoções, na mente, na alma. Os sintomas desta perturbação são bem conhecidos pela psicopatologia: sudorese fria, sensação de vertigem, disritmia cardíaca, traquicardia, alucinações visuais em determinados casos, imaginações catastróficas, tontura, etc.

No campo mental, o fenômeno é mais complexo ainda, pois as pulsões fóbicas estão acompanhadas de pensamentos que prevém muitas vezes desastres pessoais, e podem fazer a pessoa pensar, fantasiar suicídio ou imaginar seu próprio velório ou enterro. Estes detalhes variam de pessoa a pessoa, mas de forma geral, o surto de pânico ou quando a potente pulsão fóbica atinge o apogeu de sua influência, leva o sistema ao colapso.

A desagregação, por outro lado, balança toda a estrutura rígida da personalidade que acredita que necessita ter o controle de tudo ou quase tudo para ter uma vida razoavelmente boa. Existe nesta estrutura um problema na ordem da confiança em si e na vida, confiança na existência e no cosmos. É necessário o fortalecimento da confiança.

A personalidade hiperfóbica e a confiança

A pessoa rígida é aquela que se defende rigidamente, evitando sentimentos, evitando maiores aproximações afetivas e entrega ao amor. Evita com isso basicamente sentimentos. O problema da confiança se estende à vida. A pessoa tem dificuldade de confiar em praticamente tudo. O fluxo cósmico e a vida a amedrontam. Ela cria uma vida "segura". Provavelmente terá um emprego, ou priorizará uma estabilidade funcional quase absoluta, ou um concurso público, para ter o máximo de segurança possível e estabilidade rígida.

A personalidade hiperfóbica e seu modelo cosmológico pessoal

Existe uma relação direta entre o tipo de personalidade acometida pelo pânico e sua cosmologia pessoal, ou aquilo que ela acredita ser a vida, a existência, a criação, Deus, a vida e a morte, o sentido da vida, o que vem a ser o "carma" para ela, e assim por diante. O modelo cosmológico pessoal da personalidade hiperfóbica está enredada em crenças distorcidas da realidade, tais como estas:

1. O Cosmos é um local perigoso, desconhecido e muitas vezes pode ser hostil: assim, como se entregar à vida? Como confiar na existência, se o cosmo é tão perigoso?

2. Se eu sair da linha Deus irá me castigar, me punir, me lançar no Inferno após morrer: assim, como posso arriscar, sair da linha que me disseram que é a verdade?

3. Fantasias de desamparo total: assim, como posso arriscar uma vida mais feliz se tenho pânico de estar numa situação de profundo desamparo?

4. A morte para mim é o fim de tudo: assim, para que entregar-me a vida se tudo acabará? Então, apego-me a meus parentes e entes queridos com toda minha força, porque tenho medo da solidão... (e assim por diante).

5. Estar sozinho é uma experiência muito desagradável, angustiante e tenho muito medo: assim, como poderei ser eu mesmo se não aprecio estar comigo mesmo, sozinho?

6. Tenho medo de qualquer mudança de estado mental, emocional, físico. A simples sensação de alteração leva-me ao medo de perda de mim mesmo, medo de morrer, de enlouquecer, de ficar insano e parar num hospital psiquiatrico (em último caso): assim, como poderei ficar a só, com mais autonomia, se a simples idéia do hospital psiquiatrico ou a "loucura" me gera tamanha ansiedade que leva-me a bloquer-me e a ficar parado?

Os exemplos acima evidenciam que determinadas crenças potentes geram estados emocionais e orgânicos correspondentes ao pânico.

Assim, a crença gera o pensamento.

O pensamento gera o sentimento, a emoção.

A emoção gera a perturbação orgânica e reações neuroquímicas e bioquímicas hiperfóbicas.

As reações neuro-bioquímicas geram efeitos sistêmicos no corpo, similar ao efeito de uma droga.

Podemos comparar o estado de pânico com um pesadelo acordado.

A pessoa pode sair do estado de pânico como ela sai de um pesadelo: acordando.

O pensamento é o potente agente gerador do medo e, também, do pânico. Uma boa técnica é você listar todos os seus medos, um a um, da seguinte forma:

Eu sinto medo de....... porque penso que........ .

Exemplo:

Eu sinto medo de morrer, porque penso que vou morrer morimbundo, entrevado numa cama, sofrendo.

Assim, este idéia da morte, que na verdade é uma crença sobre o como irá morrer e não sobre a morte propriamente dita, gera automaticamente sentimentos de ansiedade e repercussões orgânicas, como aceleração cardíaca, sufocamento, impaciência, irritabilidade, ou mesmo estados depressivos e assim por diante, até por fim, o pânico.

De forma geral, uma pessoa com alta sanidade mental vive em paz com as seguintes questões cosmológicas e ontológicas:

1. O que é o universo?

2. Qual o lugar de Deus em minha vida? O que é Deus para mim?

3. O que é a morte? Como visualizo-a, como entendo-a?

4. O que é a vida?

5. Qual o sentido geral da minha vida?

6. Qual a minha religião pessoal?

7. O que vim fazer e estou fazendo aqui, no planeta?

8. O que é reencarnação para mim? Eu acredito em vida após a morte e vida antes desta vida? Eu existia antes de nascer?

9. Considero de forma honesta a existência dos espíritos ou das inteligências que povoam o cosmo?

10. Como entendo minha família? Qual o sentido de eu ter nascido nesta família? Já estou resolvendo as pendências neste grupo?

11. Qual minha posição perante as religiões e seus saberes sobre o cosmos, a ciência e seus saberes cosmológicos, a filosofia e o misticismo? Onde me situo?

12. Quem sou eu?

13. De onde realmente vim? Minha origem?

14. Para onde irei após morrer?

15. Estou na profissão correta?

E assim por diante.

De forma geral, se você mudar de forma potente os pensamentos diariamente, você irá neutralizar os pensamentos desagregadores.

Se algumas dessas questões lhe deixaram com ansiedade, angústia, resistência em pensar sobre o assunto e mesmo princípio de pânico, é importante parar e encarar seriamente esta condição.

Os espíritos superiores apresentam alguns traços de personalidade sempre evidentes nos contatos que estabeleço, tais como:

1. serenidade e ausência completa de ansiedade

2. profunda confiança na vida e na existência

3. amorosidade pura, universalista, cósmica

4. inteligência fecunda, de nível cósmico

5. saber inimaginável para nós

Então, como imaginar um espírito superior numa crise de pânico? É impossível, porque estes espíritos sustentam tudo o que ocorre em seu interior.

Superando o pânico: lidando com tudo o que ocorre conosco, de frente e com coragem

E assim começa a superação definitiva do pânico. A pessoa começa a aceitar e lidar com tudo o que lhe ocorre dentro de si, de frente, com coragem. Assim, qualquer alteração de seu estado de consciência, que antes lhe gerava ameaça, agora poderá ser encarado como um problema de pesquisa.

O que é isso que me ocorre? Ao invés de reagir com medo, poderá pesquisar, perguntar para as pessoas ou especialistas, ler livros e mesmo sentir o que ocorre consigo mesmo, de frente, investigando a si mesmo de forma honesta até compreender-se mais e até ter maior domínio sobre si mesmo.

O maior aprendizado da personalidade hiperfóbica é ter maior domínio sobre si mesmo e não sobre o ambiente. O ambiente não é passível de ser dominado, como forma de evitar que o pânico se instale. É uma estratégia não muito boa tentar controlar o ambiente e as pessoas para evitar que as variáveis que geram pânico se instalem. Uma estratégia mais eficaz é o auto-domínio. E este começa por aprendermos a lidar com tudo o que ocorre dentro de nós e que diz respeito a nós.

O autodomínio do pânico necessita conhecer o espectro do pânico

O espectro do pânico é simples:

1. Período anterior: em uma escala de 0 a 100, onde 100 é o surto de pânico, o período anterior abarca do 0 à 70. Onde 70 é o ponto de não retorno. A pessoa ao alcançar o 70, não consegue mais voluntariamente retornar ao estado anterior de consciência.

2. Surto de pânico: ao chegar no 70 fenômenos de alteração de consciência começam a ocorrer e vão acelerando até o pico do pânico, ou o 100. Após o pico, o organismo tende  a regredir ao estado anterior naturalmente.

3. Período posterior: se ocorreu a instalação do pânico, a pessoa vive uma espécie de ressaca fóbica.

O autodomínio do pânico passa por lidar com a consciência ou o si mesmo nos 3 estados ou períodos:

1. No período anterior, a pessoa precisa aprender a dominar a si mesma, no que diz respeito às fantasias ou novelas mentais geradoras ansiedades, fobias e que no fim das contas levará a mesma ao ponto de não retorno, o 70, e a partir daí, ao pânico. Se a pessoa dominar esta fase, ela não terá mais o que é chamado de síndrome do pânico. Isso não quer dizer que não sentirá mais os picos de ansiedade e medo, que percorrem do 0 à 69, nesta escala hipotética. A pessoa pode chegar ao 69 e ali, conseguir reverter, e retornar gradualmente ao estado mais normal de consciência. Ou poderá chegar no 49, mais brando, e após, retornar ao 10, 20, 30. Aqui, para o autodomínio efetivo a pessoa obrigatoriamente precisa dominar a respiração. Tudo aqui começa pelo domínio da respiração, em primeiro lugar, e, em segundo, pelos pensamentos. Respiração lenta e profunda, muitas e muitas vezes, bem controlada e concentrada. Se a pessoa sentir estar subindo ao 70, ela respira e respira e domina-se. Ao mesmo tempo, cria pensamentos realistas mais positivos para si. Este procedimento orientado gera maior serenidade íntima.

2. No surto de pânico, a pessoa precisa esperar. Somente isso. Como num estado de embriaguez, a pessoa precisa esperar passar o efeito do álcool. Se o surto for muito potente e não existe mais tempo para o autodomínio, então a terapia medicamentosa pode ser útil. Mas o saudável é a pessoa dar conta de si mesma, para sentir-se capaz de dominar este estado de descontrole psíquico. Aqui a respiração é essencial.   E saber esperar, ter a confiança de que o estado vai passar é a base do pânico. O simples fato da pessoa saber que é passageiro, que não irá morrer, já estabelece outro modo de pensar que previne a instalação do pico máximo do pânico. Porque após o 70, a pessoa poderá instalar um pânico de 75, 80, 85... e não permitir-se ir ao 100. Aprender a lidar com tudo que ocorre em nós é o tratamento definitivo do pânico. Em casos mais sérios a pessoa pode evitar de ficar sozinha e aproximar-se de amigos e familiares para sentir-se mais segura.

3. Após o surto de pânico ocorre geralmente uma ressaca neuro-bio-química, que se espalha pelo corpo, mente, emoções e espírito. A pessoa sente-se exaurida, anestesiada. Mas se ela conseguiu dominar-se na fase 2, então ela se sente segura e pensamentos positivos vêm em sua mente, como estes: eu posso, eu consigo, eu acredito em mim, eu tenho condições de me dominar e vencer o pânico, e assim por diante. Se ela dominou o pânico já na fase 1, então ela pula a fase 2, e sente-se completamente segura de si mesma, na certeza de que domina o pânico e reconquista a confiança em si mesma.

O processo todo demanda prática de técnicas de respiração, autodomínio e principalmente uma mudança geral nas crenças, concepções de mundo e da vida, da existência, da morte e do cosmos.

O pânico é uma excelente oportunidade evolutiva, se bem aproveitado!