O Orgulho |
Parapsicólogo Clínico, Psicoterapeuta, Conscienciólogo
O orgulho é a atitude de prepotência e desprezo perante o outro. A definição é simples, porém suas manifestações acarretam danos quase irreparáveis nos relacionamentos. No relacionamento amoroso o assunto merece maior atenção, visto que o orgulho faz o casal fechar-se em si mesmo, delegando o diálogo necessário para as contínuas sincronizações do casal para o baú do egoísmo. Em determinado caso, é um dos parceiros que se fecha, impondo ao outro o local do desprezo e da culpa. A culpa leva quase que inevitavelmente ao sentimento de humilhação. A defesa contra a humilhação é o orgulho. E assim prossegue o círculo vicioso. E este fechamento pode levar a conflitos e a separação conjugal.
A patologia do orgulho acomete a todos nós, imaturos no processo de reconciliação e prevenção de conflitos cármicos nos relacionamentos interpessoais e interconscienciais. A humilhação se deve ao processo do abuso que ocorre nos relacionamentos: o abuso interconsciencial.
O que me motiva a escrever sobre isto é, logicamente, minha experiência de vida e, a de meus pacientes, diante dos relatos agudos de abuso e mais abuso, e no extremo da escala, o abuso sexual. Assim, venho resumir neste espaço a minha abordagem no tratamento dos casos de abuso, tratamentos lentos em geral, e que demandam a prática do auto-respeito honesto que na essência é o aprendizado de amar a si mesmo.
Sobre o abuso interconsciencial: sintoma do desamor (ódio, raiva...)
O abuso interconsciencial é a ação intencional ou não de ultrapassar os limites de si mesmo e dos outros, gerando danos psíquicos e, em determinados casos, físicos. Ou seja, a grande parte dos relacionamentos humanos, sejam conjugais ou não, são atravessados por atos abusivos de desrespeito dos limites intrapsíquicos e interpessoais.
O abuso leva à mágoa e o ressentimento e estes à humilhação. Assim, como disse acima, a defesa contra a humilhação é o orgulho. O orgulho com isso é uma estrutura defensiva da personalidade diante da incapacidade pessoal de lidar com o sentimento de humilhação diante de determinado ato ou atos de abuso interconsciencial. Por outro lado, o orgulho é, em si, um tipo específico de abuso interconsciencial.
O orgulho como contra-abuso: a agressão silenciosa
Nós, quando estamos orgulhosos diante de algo, que pode ser a nós próprios ou mesmo diante de nossos parceiros ou parceiras, estamos abusando de si e/ou do outro. O abuso gerado pelo orgulho se deve ao procedimento de manter o outro no "gelo", "à deriva", "de lado", num ato de prepotência agressivo-silenciosa, dando o recado: "eu estou certo(a), você é o(a) culpado(a), portanto, merece ser punido(a)". Esta crença nutre a atuação do sistema de defesa do orgulho e torna o outro um desprezado levando-o à humilhação. E a humilhação parece ser um dos piores sentimentos a se vivenciar e tentamos evitar de todas as formas. O orgulho é um dos meios usados. E, se não existem ninguém para nos hummilhar e nos punir, surge a figura do "Deus" punidor e humilhador, e do "religioso" para dar a absolvição do pecado. E o ciclo patológico prossegue institucionalmente.
Reconhecendo nosso lado abusador: o auto-abuso como núcleo gerador do orgulho
A grande maioria da humanidade está ainda manifestando o traço do abuso nos relacionamentos consigo e com o outro. Desta forma, o auto-abuso é o núcleo gerador do orgulho. Porquê?
Ao instalarmos o orgulho como defesa da humilhação, acabamos por bloquear nossos centros de sentimento de amor e fraternismo perante o outro. Assim, privamos a nós mesmos de sentir amor e nos entregar aos relacionamentos, necessários para nossa saúde mental e existencial. Isto gera consequencias desagradáveis nos relacionamentos. O orgulho gera um enrijecimento do sistema emocional, tornando-o rígido nas idéias e percepções do outro como "o culpado" e do eu, como "a vítima", tornando o corpo rígido e a musculatura pode comprimir sistemas esqueléticos, tornando-os dolorosos até a doença física. O "orgulhoso" crê ser superior aos outros, quando encobre traços de inferioridade, numa oscilação de distorções cognitivas, onde na essência nem é inferior nem superior.
Interrompendo o ciclo vicioso do auto-abuso e do orgulho
Se conseguirmos nos respeitar mais, dando maior espaço para o respeito aos nossos limites dentro daquilo que nos faz bem e evitando o que nos faz mal, poderemos evitar o abuso vindo das outras pessoas, energias e consciências. Desta forma evitaremos a mágoa e o ressentimento e, por consequencia, a humilhação. Para os fatos danosos de nosso passado, a catarse psíquica e fisiológica, bioenergética, pode funcionar para a dissolução das couraças do caráter, exalando a agressividade contida no campo, corpo, idéias e sentimentos, fazendo a energia retornar a circular mais livremente no corpo. Mas, nada adianta se padrões de crenças distorcidas e o entendimento da dinâmica não for aplicada visando a reciclagem de si mesmo.
Assim, precisamos parar de nos abusar. Isto significa uma vida prática, no dia a dia, de maior respeito perante nós próprios. Ao interrompermos dia a dia, o auto-abuso, poderemos lidar melhor com as tentativas inevitáveis dos abusos cometidos pelos outros, com uma atitude mais lúcida e fraterna, e menos orgulhosa e retaliadora. O orgulho é uma fachada de não honestidade
Metabolizando o abuso pelo auto-respeito
O orgulho é uma fachada de não-honestidade de nós mesmos diante de nós mesmos, para depois, ser diante dos outros. Se formos honestos, precisamos migrar para dentro de nós, visando metabolizar os sentimentos de abuso cometidos contra nós, nossos núcleos de humilhação, para gradualmente, irmos lidando melhor com os relacionamentos. Este metabolismo do abuso tem como sintoma a reconciliação consigo e com o(a) abusador(a). Este processo foi chamado de "perdão", e não quero aqui situar o perdão dentro do contexto consolador da religião, mas antes disso, o perdão como uma resultado de atos honestos por parte de nós, visando o restabelecimento da saúde mental, emocional e existencial.
O auto-respeito é a prevenção definitiva do auto-abuso e, por consequencia, dos atos abusivos dos outros.
Finalizo este pequeno artigo com a máxima de Confúcio:
"Aquele que ama a benevolência não pode ser derrotado, porque ele não permite que a não benevolência contamine a sua pessoa".