Parapsicólogo Clínico e Psicoterapeuta
Conscienciólogo e Projeciólogo
Mestre em Educação (UFSC)
Esp. em Educação (UDESC)
Caro leitor, antes de ler este artigo sugiro formular seriamente para si mesmo, em sua intimidade mental, qual é o seu conceito pessoal de doente mental e personalidade psicopática.
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Introdução
O assunto é muito, mas muito delicado e refere-se ao polêmico conceito, predominantemente clínico, do que vem a ser uma pessoa "doente mental" e ainda uma pessoa que pode ser chamada de "personalidade psicopática". Para tal irei literalmente me debruçar nos trabalhos de meus colegas no campo da Psiquiatria, área mais dedicada ao diagnóstico médico de tais taxonomias clínicas e mesmo psicofarmacológicas.
O motivo maior do clareamento destes conceitos clínicos veio-me devido ao seu uso que me pareceu em muito: inadequado, superficial e livre da complexidade que encerra o tema.
Atualmente é comum abrirmos jornais, revistas e mesmo em conversas cotidianas ouvirmos a respeito de rotulações de ordem das psicopatologias, onde pessoas dizem de forma convencente que fulano é bipolar, ou que beltrano deve ter esquizofrenia. A última que ouvi foi uma acusação pública onde a pessoa acusa a outra de ser uma doente mental e uma personalidade psicopática.
Todos nós distorcemos a realidade devido a complexidade dos processos cognitivos, que incluem além da atividade mental, as experiências passadas (desta e de vidas anteriores, incluindo o útero), as significações das experiências e as crenças nutridas que formam o paradigma de cada um de nós.
A História e a Personalidade Psicopática
Ao longo da história foram ocorrendo classificações diante do comportamento mental e social de pessoas que foram chamadas de doentes mentais. E uma categoria de doença mental foi chamada de personalidade psicopática. Um dos primeiros médicos a pensar em termos desta doença mental foi Girolano Cardamo, que a partir da morte por envenenamento de sua esposa por seu filho, Cardamo começara a criar o conceito, no speculo XIV. Após, Pinel (1801) e Prichard (1835), e, este último começa a delinear o conceito de insanidade moral que é equivalente ao conceito de psicopatia usado atualmente. Em seguida, Morel (1857), Koch e Gross (1888), Kraepelin (1904), Shneider (1923), Cleckley (1941). A classificação de Cleckley somado a contribuição de Hare, Hart e Harpur, em 1973, exporam 19 critérios para o diagnóstico da personalidade psicopática, senão vejamos:
Critérios para diagnóstico do Psicopata (Hare, Hart , Harpur)
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1. Problemas de conduta na infância.
2. Inexistência de alucinações e delírio. 3. Ausência de manifestações neuróticas. 4. Impulsividade e ausência de autocontrole. 5. Irresponsabilidade 6. Encanto superficial, notável inteligência e loquacidade. 7. Egocentrismo patológico, autovalorização e arrogância. 8. Incapacidade de amar. 9. Grande pobreza de reações afetivas básicas. 10. Vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada. 11. Falta de sentimentos de culpa e de vergonha. 12. Indigno de confiança, falta de empatia nas relações pessoais. 13. Manipulação do outro com recursos enganosos. 14. Mentiras e insinceridade. 15. Perda específica da intuição. 16. Incapacidade para seguir qualquer plano de vida. 17. Conduta anti-social sem aparente arrependimento. 18. Ameaças de suicídio raramente cumpridas. 19. Falta de capacidade para aprender com a experiência vivida. |
Os autores acima não apresentam consenso entre si, porém, ao longo do tempo o conceito, a etiologia e os critérios de diagnóstico foram sendo cada vez mais mapeados.
Ainda entre 1837 e 1847, nos EUA, especialmente Nova Georgia, fora criado o maior Hospital Psiquiatrico do planeta o Central State Hospital, local que trabalhei como médico neste século e tive o contato direito com o fenômeno da doença mental e insanidade mental, desajustes sociais e a questão de depósito de pessoas que eram consideradas anomalias sociais sem qualquer critério diagnóstico. O caso fora publicado em minha bibliteca digital de artigos científicos, com o nome de "O Caso de Thomas Green" (clique aqui). Por exemplo, a pessoa perdia o emprego, ficava desempregada e seu transtorno devido a isto levava-a a ter comportamentos desajustados (crise existencial) e o internamento por estes motivos eram comuns.
Esclarecem Balone e Moura:
"Tem havido bastante controvérsia em relação ao conceito de Personalidade Psicopática ou Anti-social. Há autores que diferenciam psicopata de anti-social, mas, em nosso caso, essa distinção é dispensável em benefício do melhor entendimento do conceito. Howard sugere que os conceitos de psicopatia podem agrupar-se em três tipos:
Conceitos de Psicopatia de Howard
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1) Um tipo Sociopata, caracterizado por conduta anti-social crônica que começa na infância ou adolescência como Transtorno de Conduta;
2) Um tipo Secundário,
caracterizado por um traço de personalidade com alto nivel de
impulsividade, isolamento social, e perturbações emocionais (a conduta
sociopática seria secundária à essas alterações emocionais e da
sociabilidade); e 3) Um tipo Primário caracterizado apenas por a impulsividade sem isolamento social e perturbações emocionais (a qual pode-se aplicar aos criminosos comuns). |
Isso não implica que cada um desses três tipos seja mutuamente excludente; a sociopatia é vista como um conceito amplo que engloba tanto a psicopatia primária como a secundária, assim como uma alta proporção de criminosos comuns."
Já Otto Kemberg "classifica a sociopatia de modo diferente. Para ele é extremamente difícil fazer o diagnóstico da psicopatia, quando a situação clínica não está claramente definida."
Assim de acordo com a posição mais atual temos as seguintes características das personalidade psicopáticas:
1. Encanto superficial e manipulação
2. Mentiras sistemáticas e comportamento fantasioso
3. Ausência de sentimentos afetuosos
4. Amoralidade
5. Impulsividade
6. Incorregibilidade
7. Falta de adaptação social
Sobre Rotulações-Diagnósticos feitos por Pessoas e Profissionais não-Psiquiatras
Como conclusão preliminar é notório que os critérios são altamente subjetivos e na mesma ótica que Otto Kemberg, somente a clínica psiquiátrica e o médico Psiquiatra dentro dos critérios estabelecidos pela ciência médico-psiquiátrica atual poderá dizer se tal pessoa é ou não, uma personalidade psicopática ou mesmo um doente mental.
Caso contrário, se houver a rotulação pública poderá o sujeito rotulado haver-se do Direito para fins de processo crime e mesmo de danos morais. De qualquer forma, cada caso é um caso.
A pessoa que publicamente rotula outro sujeito de doente mental e personalidade psicopática, por exemplo, pela internet com acesso por milhares e milhares de pessoas, não apresenta uma noção clara dos danos que podem advir de tal comportamento. Merece por parte da vítima, o processamento para que o acusador prove o alegado judicialmente até mesmo pela via de perito médico-psiquiatra e mesmo perícia psicológica.
A Parapsicologia Clínica limita-se ao campo da Psicoterapia de natureza Transpessoal, Integral, Evolutiva, portanto, obedece a outro critério de entendimento da pessoa humana, além da doença mental, opero com a noção de personalidade palingenética e a compreensão da doença enquanto processos de conversão e inversão PK, produtos de dissociações cognitivas que podem ter origem em traumas e significações de experiências antigas, ainda antes desta vida humana. De qualquer forma, nem toda pessoa possui condições psíquicas de enfrentar uma psicoterapia, e, como diz meu amigo psiquiatra, existem pacientes psicóticos que não conseguem estar em psicoterapia e necessitam de terapia ocupacional.
O Respeito a Dignidade da Pessoa Humana
É importante que possamos diagnosticar como funciona os processos de manipulação interconsciencial, no uso profissional de argumentos e retórica para o convencimento de outros diante de um fato ou suposto fato, no caso, o ato de convencer um determinado grupo de que fulano é um doente mental e uma personalidade psicopática.
Sylvan Muldoon foi o primeiro cientista, ao que parece, ter exposto a máxima "não desejo que acredite em nada que escrevo. Digo experimentai e então saberás". Esta máxima expõe que é necessário que nos ancoremos em nossas experiências, idéias e sentimentos em relação aos fatos, antes, para depois, darmos ouvidos ao mundo externo, sem nega-lo mas sem hipervaloriza-lo.
Os pesquisadores que investigam os processos de manipulação em massa sabem muito bem do poder de determinados sujeitos na escravização mental, emocional e intelectual de determinados grupos de pessoas e que, não importa ser um grupo de religiosos, agnósticos ou mesmo políticos, podendo ser um grupo de cientistas. A fascinação grupal é factível de ser encontrada em grupos que seguem modelos pré-concebidos e caminhos rígidos como se fossem os melhores caminhos e os únicos. Isto ocorre com a política, onde partidos defendem que suas idéias são as melhores em detrimento dos demais, que são colocados como inferiores. Ocorre na religião, onde grupos dizem ser melhores que outros e até mesmo podem criar uma guerra para a exclusão definitiva daquele agrupamento.
Quando um sujeito expõe seu ponto de vista antagônico num grupo homogêneo que é regido por determinadas crenças arraigadas, este sujeito pode ser rotulado e tratado como uma anomalia no sistema grupal. Esta anomalia pode ser acompanhada por processos difamatórios e discriminatórios e mesmo aquele famoso rótulo: "esse cara é doido!", "esse cara é maluco", "é doente mental", "ele precisa é ir para um psiquiatra tratar dessa doença mental" e assim por diante.
A rotulação do outro que se diferencia do grupo, seja por que motivo for, é comum que seja pelo rótulo de "louco", ou noutras palavras de "doente mental", o que expõe a intenção do sujeito acusador em expulsar o indivíduo (antes um sujeito coletivo) do grupo homogêneo, pois o mesmo ameaça a integridade homogênea do grupo, as lideranças, as estruturas de poder, crenças e paradigmas.
É perigoso dar voz a uma personalidade antagônica, ela pode atrair para si adeptos e foi o que ocorreu ao longo da história da ciência, tais como nos seguintes exemplos:
1. Freud e seus famosos conflitos com Carl Gustav Jung e as questões do que é ou não é Psicanálise.
2. Os conflitos de Wilhelm Reich e a comunidade psicanalítica e sua teoria da orgasmoterapia, orgonoterapia e o de energia orgonótica, couraça de caráter, etc.
3. Os conflitos conhecidos entre o renomado parapsicólogo e psicobiofísico Hermani Guimarães Andrade, sua teoria corpuscular do espírito e modelo organizador biológico e o espiritismo instituido.
4. A discordância aparentemente interminável entre os Parapsicólogos sobre uma suposta teoria geral da parapsicologia e sobre um paradigma unificador e a existência de diversas escolas de parapsicologia.
5. As discordâncias aparentemmente também intermináveis entre os paradigmas da Psicologia, também disseminada em múltiplas escolas, paradigmas e técnicas.
6. A dissonância até hoje existente sobre uma teoria geral da sexualidade humana e os ataques ainda ocorridos contra a pessoa de Sigmund Freud e a Psicanálise.
7. Os ataques ainda existentes contra Allan Kardec e o espiritismo pelo meio científico.
8. As divergências entre os Conselhos profissionais da área Médica e Psicológica antes a prática médica e psicológica, sendo que é comum no Brasil ambos profissionais atuarem com a área que atuo, com Psicoterapia profunda e técnicas proibidas pelos conselhos acima.
Ou seja, a uniformidade é praticamente impossível de se alcançar. Um paradigma único e legalizado é praticamente uma utopia irrealizável.
Diante disso, é importante expor que nem toda discordância num grupo é antagonismo assediante num grupamento, sendo, portanto, necessária para a transcendência do estagnado em direção ao exercício cada vez mais pleno da liberdade ética.
Outro fator sério é o conceito de ética e, mais sério ainda, do que cosmoética. Digo na prática operacional da vida e não na teoria e no campo reflexivo, pois em nome de uma suposta moral e de uma suposta ética, temos guerras santas e outras atrocidades, como a famosa guerra ao terrorismo. Assim também, temos expulsões de pessoas com personalidades mais fortes que não aceitam a homogeinidade de certos agrupamentos e de suas características de seita, assim como fizeram certos físicos como Fritjof Capra e David Bohm, ao instalarem no campo da ciência, novos rumos de paradigmas mesmo estando no contra-fluxo dentro de sua própria área científica.
É comum também que gênios sejam chamados de "loucos", e Einstein deve ter lidado bem com estes rótulos ao não dar muita importância para as críticas severas que deve ter recebido diante de sua proposta para a física. Assim como tantos outros cientistas e filósofos que até hoje carregam pesadas críticas. Quanto mais antagônico com o sistema vigente, quanto mais libertário é o pensamento maior será o ataque, senão vejamos em Osho que, apesar de seus defeitos (que todos temos), afirmava categoricamente não pertencer a nenhuma seita, religião ou ciência e defendia a livre manifestação do pensamento e a meditação que independia de conhecimento intelectual e formação acadêmica. Isso abala muita coisa.
O respeito a dignidade da pessoa humana é a máxima constitucional e da ética universal e nós psicoterapeutas, parapsicólogos e cientistas do campo mais sutil da ciência, a consciência (psiqué, psi, mente, alma, espírito, atman) temos que nos ancorar nesta máxima, sempre respeitando o livre direito das consciências se manifestarem, direito este natural e irrevogável, por mais penoso que seja tal e tal manifestação. Nenhuma agressividade desmedida, nenhuma coerção física ou moral se justifica diante de uma manifestação pública de uma posição científica.
E como Jung, quero finalizar este artigo com a sua frase:
"Eu não tenho Igreja, eu sou a minha Igreja".
Referência bibliográfica integral deste artigo:
Ballone GJ, Moura EC - Personalidade Psicopática - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br/, revisto em 2008. (clique aqui e acesse)
Ballone GJ, Moura EC - Transtornos da Linhagem Sociopática - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2008.
(Meus agradecimentos ao psiquiatra GJ Balloone e EC Moura pelo artigo esclarecedor)
Referências adicionais para aprofundamento da pesquisa:
1. Bercherie P - Los fundamentos da clínica, editorial Manantial, Buenos Aires, 1986.
2. Berrios G - Puntos de vista europeos em os transtornos da personalidad, Comprehensive Psychiatry, Nº 1, 1993.
3. Bruno A, Tórtora G - Las psicopatías, Psicologia forense, Sexologia e praxis, año 3, vol. 2, Nº 4, año 1996.
4. Garrido GV – Psicópata, Editorial Tirant Lo Blanch; Valência; 1993.
5. Hare RD, Forth AE - Psychopathy and lateral preference. Journal of Abnormal Psychology, 94(4): 541-546, 1985
6. Howard RC - Psychopathy: A Psychobiological perspective. Pers. Indiv. Diff. 7 (6): 795-806; 1986
7. Kernberg O - Diagnóstico Diferêncial da Conducta Antisocial, Revista de Psiquiatría, 1988,volúmem 5, página 101 a 111, Chile
8. Laplanche J, Pontalis B - Diccionario de psicoanálisis, Editorial Labor, Barcelona, 1981
9. Lewis CE - Neurochemical Mechanisms of Chronic Antisocial Behavior (Psychopathy). The Journal of Nervous and Mental Disease. 179(12):720-727, 1991.
10. Pinel P - Tratado médico filosófico da enajenação mental o mania, Edições Nieva, Madride 1988.
11. Schneider K - Las personalidades psicopáticas, Edições Morata, 8º edição, Madrid, 1980
12. Zuckerman M - Impulsive unsocialized sensation seeking: the biological foundations of a basic dimension of personality, in Temperament: Individual differences at the interface of biology and behavior, Washington D.C. American Psychological Association, 1944 (Edited by J.E.Bates & T.D. Wachs).
13. Zuckerman M - Psychobiology of Personality. Cambridge University Press, New York, USA, 1991.