4.1.12

Onde a Ciência Termina?

Cosmoconsciência
Por Dr. Fernando Salvino (MSc.)
Parapsicólogo Clínico, Psicoterapeuta, Conscienciólogo


Onde a ciência termina?

Eis a questão que há décadas vem me ocupando a reflexão. A pergunta foi inspirada na recente obra do ex-padre jesuíta e conscienciólogo Marcelo da Luz: "Onde a religião termina?" (leia aqui na íntegra). Nesta obra o autor procura desmontar o paradigma religioso situando a ciência como uma referência mais adequada para a evolução lúcida da consciência.

Mas meu interesse aqui neste artigo não é atacar a ciência, mas situá-la dentro de seu exato raio de abrangência: a zona cientificável. A ciência é uma boa opção e seu conhecimento é útil para o que precisamos saber para evoluirmos em nosso atual degrau de evolução. Mas e além desta zona científica? A transciência. A translinguística. Aliás, trans-qualquer-coisa-passível-de-ser-conhecida-por-um-ser-humano.

É a área maior do sistema cósmico. É a área onde reside o Sentido. É a área onde escapa, onde não alcança a ciência, por mais que se esforçe. É o que faz um fenômeno parapsíquico não ser passível de controle num laboratório. É o que controla o aleatório, a sincronicidade dos fenômenos e a congruência de sistemas e sistemas cósmicos, galácticos, orquestrados multidimensionalmente. É o que foge do controle. Por mais que construa os equimanentos mais modernos e eficientes, ainda assim, luta em vão a procura de um Nada inacessível ao nível evolutivo e cognitivo humano. A ciência vai até onde vai a cognição possível humana. Este é o limite da ciência e também o limite da religião. Ambas vão até onde é possível ao humano. Onde termina a ciência? Na fantasia de que as explicações científicas esclarecem as experiências/fenômenos. Para cada explicação, uma dúvida ou um conjunto de dúvidas. Para cada verdade, um conjunto de perguntas e reinicia o ciclo do não-saber em direção ao saber. Mas será que sabemos? Ou conhecemos?

Além da ciência: a epistemologia

Assim, a ciência termina na sua própria epistemologia. De acordo com Houaiss:

"Reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano, esp. nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duaels polaridades tradicionais do processo cognitivo; teoria do conhecimento;

2. estudo dos postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das teorias e práticas em geral, avaliadas em sua validade cognitiva, ou descritas em suas trajetórias evolutivas, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade e a história; teoria da ciência".

Assim podemos distinguir ciência de conhecimento. A ciência, sendo essencialmente o que é seu método de investigação, visa conhecer objetos, sejam eles quais forem. E apresenta-nos conhecimento sobre o objeto. E, na medida em que o sujeito visa conhecer a si mesmo, tornando-se objeto de si mesmo, eis que encontramos os limites da ciência. Porque?

Porque epistemologicamente como o sujeito pode ser ao mesmo tempo sujeito e objeto? O que é que estamos conhecendo quando investigamos cientificamente a nós próprios? Se identificamos como objeto algo que estamos pesquisando sobre a nós próprios, seria então a nós próprios, pelo simples fato de ser nosso objeto? Pela teoria dos objetos (Reale), temos além dos objetos do mundo físico, os objetos psíquicos: as idéias, os sentimentos, a energia consciencial, o campo de energia. Mais fisicamente, temos o corpo como objeto de investigação, até seus confins do DNA e estruturas neurológicas e neuroquímicas do cérebro.

Este estudo pode se expandir para o "invisível": o cordão de prata, os corpos das consciências extrafísicas e a personalidade das consciências extrafísicas e assim por diante. Podemos investigar como nos sentimos fora do corpo, como é estar fora dos restritos limites do cérebro, a manifestação multidimensional, a sensação de volitação e assim por diante. Podemos encontrar amparadores evoluídos, lúcidos e hiperlúcidos transitando pelo cosmo afora. E as possibilidades do conhecimento são infinitas, mas a ciência é finita, ela tem limite assim como a religião.

A Transciência.

A transciência é o campo do conhecimento da consciência pertencente à metacognição ou aos processos mais avançados dos atributos intrínsecos da consciência, o mentalsoma e a consciência em si mesma. A experiência que mostra onde a ciência termina, chama-se projeção de mentalsoma e cosmoconsciência. Ali é a fronteira e a zona transcientífica.

A consciência é uma realidade íntima, quem realmente somos, a inteligência lúcida operante. Esta consciência, eu e você, não somos o corpo, a energia, as emoções, as idéias, a aura, o cérebro e qualquer coisa que podemos tomar como objeto da nossa atenção. Não é possível fazermos ciência da consciência tal como estamos habituados a fazer. Para fazermos ciência da consciência, precisamos ultrapassar os limites da ciência e adentrar na experiência em que eu e você, como consciências, sentimos a presença somente da consciência que somos, sem qualquer corpo, energia ou apêndice visível: consciência sem corpo, livre, puro centro de inteligência operante. Mais que isso não existe como comunicar como a clareza científica exige, porque tal experiência é translingüística: ela pertence ao campo da Transciência.

E nada disso tem a ver com religião, com Deus, com qualquer coisa humanamente criada, porque o conhecimento acessado em tal espectro de realidade cosmo-multidimensional transcende qualquer sistematização criada por uma cognição humana. Eis o limite básico da religião: a de que livros sagrados são a pura e honesta expressão do campo do Infinito Cósmico e a de que humanos aqui, em carne e osso, são os representantes diretos da Unidade Absoluta (Deus). E o limite básico da ciência também é partir da hipótese de que pode desvendar o que a religião tentou desvendar. A ciência tenta investigar quantos anos tem o Cosmos, como originou-se, sem se dar conta que tal campo pertence à Transciência e não está disponível à cognição ordinária humana.

Sobre a cognição extra-ordinária ou transcognição e a cosmoconsciência.

A cosmoconsciência demarca o limite e o fim da ciência e o começo da transciência. A transciência é um novo tipo de conhecimento, resultante de uma outra cognição: a metacognição ou a cognição extra-ordinária (para-ordinária). A cosmoconsciência é a experiência de percepção pura de nós mesmos enquanto consciências, vivas, sem qualquer corpo, ocupando um local no espaço de uma forma também não compreensível para nosso nível evolutivo.

Podemos com isso compreender que a epistemologia é cognitivamente mais avançada que a ciência. O exaurimento epistemológico vem sendo usado por mim como técnica de projeção do mentalsoma, levando minhas reflexões até o limite possível e suportável por meu cérebro. O êxito de tal aplicação se deu poucas vezes, conforme relatos já descritos noutros artigos.

Técnica do exaurimento epistemológico

Esta técnica consiste em reflexões contínuas e progressivas em complexidade e aprofundamento, visando realizar perguntas cada vez mais profundas para si mesmo e procurando achar respostas dentro daquilo que sabemos em direção ao campo que não sabemos. Visa levar a mente encarcerada pelo cérebro ao limite cognitivo, tal como tento levar o leitor com todas estas reflexões. Desta forma, alcançamos um exaurimento epistemológico, onde não existe mais possibilidade, chegamos em limites instransponíveis pela cognição. Forçamos a mente a arrebentar a barreira cognitiva que nos impede de saber de fato: o cosmo-conhecimento. Este movimento de arrebentar a barreira é experimenciada como espécie de "cãimbra mental", levamos o cérebro a um pico de atividade máxima, tal como um maratonista leva seu corpo em seus treinamentos.

Esta técnica visa desconstruir as resistências mentais-cerebrais, as neuro-psico-couraças, preparando a estrutura cerebral para soltar a consciência em direção a uma projeção de mentalsoma e à cosmoconsciência. O exaumento epistemológico visa a formulação honesta de todas as dúvidas que suscitam questionamentos em todos os dogmas, limites e padrões do conhecimento científico e religioso. Cada formulação visa uma pequena expansão da consciência, pequenos saltos. Por exemplo, partimos de um conhecimento cientificamente aceito como postulado de verdade: os sonhos existem e foram provados cientificamente. Cada item representa um salto de exaurimento epistemológico, onde tentarei demonstrar neste exemplo, o processo de transcendermos com perguntas "verdades" hipoteticamente válidas até a expansão máxima que podemos chegar visando preparar o cérebro-mente para as projeções do mentalsoma. Ao final, termino com uma pergunta intencionalmente, para não fecharmos em qualquer conclusão e sim, abrirmos as portas da mente ao movimento holotrópico (em direção ao Todo), o campo livre de concepções, conceitos prontos e verdades. Todas as perguntas estão além do território da ciência humanamente possível, pertencendo a transciência. Partirei da hipótese de que o acesso a tal conhecimento só é possível fora de qualquer corpo, quando a consciência está sozinha, em projeção mental ou de consciência pura.

Postulado: os sonhos existem e foram provados cientificamente.

Exemplo de questão inicial:

1. Como sabemos que os sonhos existem se os métodos científicos não conseguem expor as imagens pictóricas que repousam dentro de minha mente? Então, o que é provado são dados fisiológicos de processos psíquicos mais profundos?


Exemplos de perguntas que podem ser formuladas visando a expansão holotrópica pelo exaurimento epistemológico:

2. Se os sonhos são processos psíquicos profundos o que geram os sonhos? É a mente? O que é a mente? Onde se situa?

3. Enquanto ouço a voz supostamente dentro de mim mesmo, localizo a mim mesmo como consciência? O que é a consciência, de fato? Sou eu? E onde estou quando estou In-consciente? Existe In-consciência absoluta?

4. Você pode tentar: pare, respire, feche os olhos, repita seu nome em silêncio mental para você mesmo escutar. Repita lenta e várias vezes, preste bem atenção na voz interna. De onde vem a voz? Onde se situa este local íntimo? É no cérebro? Poderia o cérebro ter vóz própria?

5. Este local é outra dimensão? Existem outras dimensões? O universo possui múltiplas, infinitas dimensões?

6. O que é o Infinito? Qual o limite de Tudo? Até onde vai a evolução? Qual o sentido de evoluirmos?

7. Mesmo que saibamos que existimos em vidas anteriores e mesmo que saibamos que iremos sobreviver, ou que existe extraterrestres, espíritos, enfim: para que sobreviver e quando de fato nascemos, surgimos? Para que existe a consciência?

8. O nosso surgimento como consciências coincide com a gênese cósmica? O que existiu antes do Big Bang?

9. Qual o Sentido de tudo Existir? Para que evoluir? Onde iremos chegar com a Evolução e com a autotransformação?

10. Porque e como o Infinito transcende a si mesmo?

11. O que é o Espaço? O que é o tempo?

12. O que é o agora? Se o agora segue o tempo no presente em movimento? Como podemos estar no futuro, agora? Como podemos estar no passado, agora? A consciência é a-temporal? Ou a consciência é o tempo? O tempo é feito de consciência? O Cosmos é consciência e intenção?

13. O que é a Vida?