25.10.11

Sobre as Camadas e a Dinâmica da Resistência no Acesso às Memórias de Vidas Passadas, o Ponto de Ruptura, o acesso ao Infinito e Transciência.

Holomemória e Paragenética
Por Dr. Fernando Salvino (MSc.)
Parapsicólogo Clínico, Psicoterapeuta, Conscienciólogo


O que venho escrever neste artigo é curto e objetivo e se refere a dinâmica da resistência que ocorre de uma maneira que tenta impedir a pessoa, no caso clínico, o paciente, de acessar o campo de memória de vidas passadas (faixas de personalidade subconsciente, holomemória). E a resistência neste caso nada tem a ver com algum tipo de "lei do esquecimento" ou "ordem divina". Tem relação com uma dinâmica interna, que está ancorada em muito, no medo e das conseqüências evolutivas da lembrança. Está ancorada naquilo que Matus (In CASTANEDA, Carlos. O Lado Ativo do Infinito) chamou de Ponto de Ruptura, onde a pessoa conseque ultrapassar a fronteira entre todo o conjunto neuro-biológico-cerebral e a memória associada a vida atual e todas as crenças, para um universo transcendente, rumo a uma realidade mais próxima daquilo que também chamou de Infinito. As conseqüências da irrupção rumo a uma realidade próxima do Infinito me parece ser a base etiológica da dinâmica da resistência ao acesso ao campo holomnemônico ou as memórias de vidas anteriores, sejam vidas en-carnadas (intrafisicalizadas, ressexualizadas) ou des-encarnadas (extrafisicalizadas, dessexualizadas).

O caso aproxima-se da classificação clássica da Dra. Louise Rhine, quando de forma clara definou as formas de Percepção Extrassensorial, quando ocorrem nos sonhos, principalmente, na mistura de conteúdos realisticos com oníricos, num limbo de memória com fantasia. A classificação da Sra. Rhine também se aplica nos processos de vivências clínicas do fenômeno retrocognitivo, ou regressivo, quando o paciente em meio ao transe começa a misturar fatos antigos com situações presentes, por exemplo, abrir um laptop em plena idade média. A principio, parece não ter lógica alguma, a não ser que compreendamos o fato rememorado como PES não totalmente realista, mas uma retrocognição semi-consciente. Da mesma forma com que ocorre na parafenomenologia projeciológica, na ocorrência da passagem entre uma projeção semi-consciente, que mistura realismo com onirismo, o mesmo ocorre no processo retrocognitivo, ficando a experiência misturada. Mas o paciente pode, prosseguindo, expandir a lucidez e extinguir todo conteúdo onírico e penetrar no campo realístico da holomemória. Qual a etiologia da retrocognição semi-consciente? Parece-me que é o medo da vivência do Ponto de Ruptura. Este medo se manifesta como uma experiência não-realística, como uma tentativa de amortecer o impacto do Ponto de Ruptura e consequente, Toque do Infinito. O fenômeno catalogado como Toque do Infinito manifesta o lado intencional do cosmos, o Intento ou o lado ativo do Infinito. Este aspecto intencional é aquilo que coloquei noutro artigo, a respeito do aspecto consciencial do Cosmos.

Uma razão existe, conforme esclareci acima, para a ocorrência da dinâmica da resistência, mesmo em estado de transe, como ocorre nos sonhos. A resistência entra como variável de impedimento, de distorção e manutenção do ego. O ego é o eu formado, o autoconceito limitado, toda a sintaxe restrita de um mundo formado e estruturado para dar segurança, para agir como escudo do Infinito. É uma resistência, pois, natural e, até certo ponto, essencial para a manutenção da vida tal como a conhecemos. Mas, devido ao processo de evolução também natural, os escudos começam a precisar ser abandonados, e é onde entra o sentido essencial das vivências para-normais, ou aquelas que colocam a pessoa em contato com o Ponto de Ruptura até que se sinta tocada pelo Infinito. A partir disso, aquilo que a pessoa faz não mais serve de escudo eficaz contra a pressão da realidade do Infinito. Os xamãs do antigo méxico, especialmente do clã Yaqui, trabalhavam com um conceito prático chamado de "ponto de aglutinação", onde representava a aglutinação da percepção num sentido profundo, incluindo a psicodinâmica do campo de energia humana ou como chamavam, o "ovo luminoso". Movimentar este ponto era um dos objetivos centrais deste método de autodesenvolvimento. Este movimento traduz-se pela vivência do ponto de ruptura até o acesso a dimensões do Infinito. O Infinito pode ser compreendido como a região do Universo chamada pelo Dr. David Bohm de a ordem implicada do holomovimento. Mas, para Bohm, trata-se somente de um conceito quase matemático daquilo que estamos aqui trabalhando experimentalmente através de experimentos transcendentes, como as retrocognições.

A forma como a resistência se manifesta se dá pela distorção da realidade, e é similar a como ocorre nos sonhos, onde vivemos realidades realmente impossíveis de existirem, em algumas situações. Como ver elefantes cor-de-rosa do tamanho de um edifício. As distorções cognitivas decorrentes da etiologia cuja base está na evitação do contato com o Infinito, tem como objetivo levar a pessoa a confundir realidade com fantasia e assim, retirar a importância da experiência a partir de significados distorcidos. A resistência tem como função trazer a dúvida para a pessoa, mas não uma dúvida comum, sadia, de questionamento. Mas uma dúvida de negação, representando um instinto básico de auto-preservação. Assim, a dúvida é um sintoma da resistência. Existe a dúvida sadia que, questionando o conteúdo onírico durante a experiência leva-a ao conteúdo realístico, expandindo a lucidez.

Podemos expandir isso para a maneira como os cientistas mais céticos lidam com o assunto, pois estando ancorados no medo do confronto como Infinito, acabam por razões de ordem da resistência, na maioria das vezes inconsciente e bem fundamentada pelos recursos cognitivos que lhe são utilizados como intrumentos, negar a fenomenologia e mesmo as vivências que por ventura tiveram no campo parapsíquico e trancendente. O campo parapsíquico é o campo que leva-nos ao contato direto com o Infinito. Por Infinito não quero dizer Deus, mas aproximo do que os taoistas chamavam de Wu Chi e mesmo a realidade que fundamenta o universo manifesto (Tai Chi). Recentemente, em meio a uma prática de Tai Chi Chuan, passei por uma experiência que dificilmente posso traduzir em palavras, mas alguma coisa em mim se alterou. Foi como se fosse um estado de transe hiperconsciente, estado este de consciência não-ordinário. A minha dinâmica de resistência se instalou após a vivência e quando percebi, fiquei cerca de duas semanas sem realizar a prática.

É necessário para isso a criação de uma estrutura de personalidade que suporte, progressivamente, o contato mais íntimo e direto com o Infinito. E mais profundamente, o Lado Ativo do Infinito que se manifesta pelo Intento Cósmico, sendo este o fundamento, a estrutura e o núcleo inteligente, o eixo de tudo que existe no universo e do próprio universo (ou, multiversos). Pode ser chamado de Deus. Mas está além de qualquer significação relativa a cognição humana e mesmo extrafísica, dos espíritos mais lúcidos, visto que nem mesmo eles sabem ao certo e tem total clareza a respeito de tal nível de profundidade. Neste exato ponto estamos ainda além de qualquer ciência, mesmo as muito avançadas como a Conscienciologia: estamos na fronteira da Transciência.

A psicoterapia regressiva ou retrocognitiva adentra, pois, no campo da transciência, toca nela, é atravessada por ela e retorna para o campo da ciência e da clínica propriamente dita. A maioria de nós se agarra a crenças, a religiões, e mesmo quem se denomina cético, se agarra ao ceticismo ou a neurociência, ao cérebro e assim por diante. Não importa ao que nos agarramos, pois trata-se de uma mesma base etiológica da dinâmica da resistência ao ponto de ruptura que nos leva ao contato mais direto com o Infinito.

Aos terapeutas que atuam com esta técnica, de forma cosmoética, vale compreender esta dinâmica de resistência e incluir no trabalho de ajuda psicoterapêutica, e em tentar driblar esta faixa de defesa durante mesmo o curso da experiência para que o paciente possa se beneficiar de sua própria profundidade, daquilo que realmente é e relembrar por onde passou e esteve antes desta vida, seja neste, noutro país ou mesmo noutras orbes deste universo, infinito. A forma como o terapeuta fará esta condução depende de fatores altamente subjetivos, como intuição, amparo extrafísico e principalmente, criatividade ou a capacidade de criar técnicas de improviso durante a experiência. Oriento os terapeutas a investirem tempo e energia em atividades criativas, por exemplo, em artes, pintura, desenho, música ou outras que julgar adequado, como laboratório de improviso e criatividade. Outro fator determinante é que o próprio terapeuta tenha experiência relativa de acesso aos domínios chamados holotrópicos ou transpessoais, transcendentes, parapsíquicos da existência. Sem esta base, na minha opinião, uma terapia transpessoal adequada fica impossibilitada. A Parapsicologia Clínica é  e sempre será uma terapia transpessoal, porque lidamos com campos e domínios que transcendem o ego, adentram na estrutura do self e de campos multidimensionais da existência e do cosmos. E nada disso é teoria, mas se assenta na prática pessoal de cada profissional e da clínica.

Assim, as pessoas que não regridem, ou não conseguem atravessar a fronteira para a holomemória, estão manifestando na realidade não uma dificuldade de regredir, mas um intenso medo de entrarem em contato com o Infinito, mesmo que seja uma pequeníssima porção dele, a partir de si mesmo, e de nossa natureza palingenética. Esta blindagem é interna e não está vinculada a qualquer impedimento de ordem divina. É a própria pessoa que se blinda e estrutura sua resistência ao ponto de ruptura. Com esta virada de compreensão, podemos ajudar de forma mais efetiva nossos pacientes, compreendendo-os e mesmo conversando sobre estes assuntos todos antes de adentrarem na profundidade de si mesmos, com segurança e lucidez.

Concluo este pequeno artigo manifestando a minha sinceridade em dizer que facilitar experimentos de retrocognição, seja clínica seja na forma de vivências relacionadas experiências científicas, é das coisas mais difíceis que existe, porque exige do terapeuta uma vida ética o mais reta possível e uma estrutura de personalidade que possa sustentar o encontro com o Infinito vivenciado pelo paciente, mas co-vivenciado pelo psicoterapeuta, em cada sessão. Cada sessão é um acesso multidimensional, pois o psicoterapeuta necessita alterar por vontade própria sua consciência atuando como agente retrocognitor do paciente. Paro por aqui e deixo estas primeiras reflexões.