Por Dr. Geraldo Sarti (MSc)
Parapsicólogo, Pesquisador da Consciência, Engenheiro
Engenheiro Mecânico, Esp. Física e Mestre em Engenharia Nuclear
Presidente da ABRAP - Associação Brasileira de Parapsicologia
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ATENÇÃO : o autor deste ensaio é parapsicólogo e não expert no assunto “ autismo “, embora muita atenção tenha sido dada por ele ao estudo amplo e cronológico do “autismo “. Pessoas abalizadas , nas áreas das ciências neuro-psicoterápicas e pedagógicas, foram consultadas e não manifestaram nenhuma indisposição profissional com relação ao tratamento dado aqui ao tema central, muito ao contrário.
O conceito de “autismo “, formulado por Leo Kanner em 1943, aproveitando termo original de Bleuler e Freud, é aqui estudado de forma muito geral e com as especificidades casuísticas sendo praticamente abandonadas. Por isto, talvez possa situar-se na esfera de uma “ filosofia do autista “.
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“As palavras ou a língua, escrita ou falada, parecem não ter função alguma no mecanismo do meu pensamento. As entidades psíquicas servindo como elementos no meu pensamento, são certos signos e imagens, mais ou menos claros, que podem ser reproduzidos e combinados intencionalmente (voluntarily). Naturalmente,há certa conexão entre esses elementos e conceitos lógicos relevantes. É claro, também, que o desejo de alcançar conceitos logicamente interligados constitui a base emocional desse jogo bastante livre ( rather vague play ) com os elementos acima mencionados.. Contudo, do ponto de vista psicológico, esses jogos combinatórios parecem constituir o aspecto essencial do pensamento produtivo – antes que surja alguma ligação com construções lógicas verbais, ou outra espécie de signos que possam ser comunicados a outros”. Albert Einstein
Com “ A Máquina de Abraçar”, peça teatral de José Sanchis Sinisterra, protagonizada por Mariana Lima, esta pôde sintetizar, sobre sua personagem autista, a concepção “...o autista não faz metáfora”.
Como é de amplo conhecimento, a metáfora, é um dos dois elementos essenciais na formação da linguagem, junto à metonímia. As duas são as formas complementares da formação do inconsciente lingüístico de Lacan-Jakobson , consideradas as condensações metafóricas por similaridade e os deslocamentos metonímicos por contigüidade, do inconsciente freudiano. São as duas formas da associação livre verificada por Jung.
Não absorvida pela criança, qualquer que seja a suposta causa orgânica clássica e paralela, a linguagem completa do desejo do Outro, ou a linguagem materna, ou do Supereu inconsciente, dominador sobre e pela criança, desenvolvendo-se em geral na sua completude articulada e reprimida, metafórico-metonímica, o autista, ao contrário, é, unicamente, o desejo puro do Outro, a intenção “alheia”, sem a linguagem materna intermediária , e está imerso no mais puro inconsciente do autocrático Supereu., este sem repressão e outros mecanismos secundários de defesa.
É a metonímia lacaniana, que isoladamente, sem a metáfora, não se situa no registro do Simbólico e é a manifestação fundamental básica do Desejo estruturado no Inconsciente.
O autista, estando além da ordem simbólica e da linguagem, não forma o Eu sob a repressão imposta pelo Supereu . O Eu não surge e o autista está fundido telepaticamente ao desejo do Supereu , o que não sofre repressão por ser biologicamente exterior ( opinião público-social).
Entretanto, o autista é um ser, bio-cerebral local dentro da atmosfera quase não-local mental do Supereu , mais próximo do Self transpessoal e coletivo da psicologia profunda do Jung que do self psicanalítico de Hartmann e Kohut ou do selbst de Freud.
E assim, nesta atmosfera externa, telepática e empática, um ser único e isolado, estará exposto a todo tipo de influências, desde os desejos do Outro às informações fragmentadas ( embora individualmente pré- articuladas pela síntese-memória-pré consciência Pcs ) mas aglutinadas nestes desejos. Neste sentido, o autista é um telepata, extraordinariamente conhecedor do que está além de si, do que está fora das incapacidades perceptivas dos seres conceituais, reprimidos e falantes como nós. O autista é espacial. Esta é sua especialidade.
Toda a seletividade e percepção parcial autística da informação fragmentada mas aglutinada no desejo geral torna-se decorrência da não funcionalidade paranormal em termos de complemento bio-cerebral atual, haja vista que o recrutamento neural, cortical, dispararia e desorganizaria totalmente a atividade eferente, tal como a hiperatividade que os acompanha, em geral, e que resulta em comportamentos estereotipados e repetitivos, como forma automática em circuito de “auto”- controle , equilíbrio e homeocinese .
Em síntese, o autista é localmente cerebral imerso em um conjunto mental não-local para ele (ou quase-não local no sentido físico). Deve ser dito que a não-localidade envolve o tempo, também não-local e, neste sentido, o autista é também precognitivo / psicocinético, dentro do sistema em que se encontra.
No mínimo, o autista é um ser humano quântico e poderia ser endeusado e “ouvido” em seu mutismo expressional. A difícil aquisição da linguagem materna o transformaria em um psicótico, Mas, como ouvi-lo enquanto ele mesmo ? O que nos seria revelado?
Em outros termos, a associação por contigüidade prevalece sobre a associação sintética por semelhança, e os objetos da mente autística são sempre parciais e seletivos das informações individuais simbolicamente articuladas ( pré-conscientes próximas do sistema Cs) que estão desagregadas entre si mas metonimicamente suspensas ou suprimidas no desejo do Outro e não pelos mecanismos repressivos do ego.
A expressão interna do autista torna-se , assim , impossível de ser formulada por ele , de maneira inteligível para os “falantes conceituais” sob repressão e mecanismos secundários de defesa do ego ( articulações lógico - lingüísticas ).
Neste sentido, o autista estaria além das nossas possibilidades de conceituação. Habituais.
A introdução forçada e repressora , através da educação e da terapia, da metáfora associativa, em uma matriz autística dela desprovida, ( muito difícil de ser alcançada ), e uma conseqüente erupção do sujeito oral ,de tal forma que possibilite a prova de realidade ao ego-consciente, repito, a pretensa “cura” clássica de uma característica em ascensão, não deverá ter outro destino que não a psicose. Lacan deixa isto parcialmente claro em Écrits, “D’une Question Préliminaire à Tout Traitement Possible de La Psychosis “, pág 577, traduzida por Nasio, J.D. em “ La Forclusion Locale : Contribution à la Théorie Lacanienne de la Forclusion “ como sendo : - “Para que a psicose se desencadeie, é preciso que o Nome do Pai, foracluído, jamais vindo no lugar do Outro, seja chamado aí em oposição simbólica ao sujeito. ( Talvez esta descrição lacaniana possa ser melhor compreendida sob o nome de ‘psicose simbiótica’ )
A predominância marcadamente metonímica no autismo, impeditiva das associações por similaridade e do vislumbre da prova do Real, conduz o autista a viver o inconsciente puro, saltando para cima um sujeito completamente narcísico e primário, sem noção da dor biológica e da sobrevivência ( não deverá sentir nem a dor biológica nem a necessidade, do Outro ). Por isso aparenta frieza e desprezo expressionais e inadaptabilidade social.
Um esquema psicanalítico mental de referência seria:
→ ID → EGO →→→ ← SUPEREGO
↓ ↓ ↓
−−− −−−−−− SELF-OBJETO−−−−−−−−−−−
O esquema da mente autista seria como a seguir:
→→ ID PRÉ-NATAL→→→→ ← SUPEREGO
↓ ↓ ↖
−−−−−−−−−OBJETO−−−−−−−−−−−−−−−−SELF TRANSPESSOAL UNIVERSAL NÃO- LOCAL −−−− VÁCUO i
Esta característica espacial, que está sendo considerada uma “capacidade superior”, pode ser descrita, do lado de fora, por nós, como perceptiva e transgressora da 2ª ordem das informações coletivas do inconsciente tirânico superegóico e mais além, na direção de uma 3ª ordem ditada pelo arquétipo transpessoal. Para mais , só poderá ser encontrada a gama infinita de símbolos ao acaso, informações e probabilidades quânticas, que pode ser considerada como um nível adimensional a que normalmente ou conceitualmente não se teria acesso pela ausência de qualquer sistema que seja, nem mesmo associado ao desejo e que poderá ser confundido com o vácuo.
Traçando uma analogia futebolística, “o autista é um ser que, estando em um jogo de futebol, desconhece as regras do futebol, é o objeto do desejo da torcida, sabe tudo o que está suprimido dentro deste desejo, inclusive o resultado do jogo, mas não o revela, por desconhecer suas regras”. E, por desconhecê-las, as supera.
Devemos acrescentar, finalmente, que o conteúdo deste ensaio tem respaldo concreto em alguns aspectos científicos pontuais, mas dignos de consideração, tais como :
A- O conceito de mãe-geladeira de Kanner, associado à síndrome, tomado, não no sentido da frigidez materna, mas no da ausência de intermediação lingüística entre a mãe e o filho. Ao contrário, o chapamento amoroso entre ambos prevalece sobre a interlocução e a ordem simbólica completa e, fica claro que o desejo materno de inseparabilidade é fundamental. Talvez tenha-se que rever muito sobre o desejo feminino de ter um filho e sobre a própria natureza psicológica da mulher.
B- O desempenho e o interesse superiores dos autistas nos testes psicométricos não-verbais de alta performance e criatividade ( conforme Butcher) de Wechsler. Mais especificamente, seus rendimentos elevados em WAIS III e WISC III, para Cubos e Percepção Tridimensional (provavelmente incluindo raciocínio matricial em Wechsler ).
C- A não aplicabilidade, óbvia, dos testes verbais de Binet- Simon e suas variantes alpha e beta Stanford- Binet para as forças armadas norte-americanas, como formas de mensuração de QI dos autistas. Os novos tipos de testes psicométricos, introduzidos por Spearman para gradação de um fator G de inteligência geral, e suas variações de Cattel e Raven- matricial, são fortemente criticáveis, como por exemplo em Gardner- 1993 sobre “gênios ( gifted ) , ou por não detectarem habilidades intelectuais específicas ou por não considerarem a memória de longo prazo, elementos altamente desenvolvidos nos autistas. Treffert, em 2009, em suas pesquisas sobre as Savant Disorders, encontrou que 50% dos sábios savants ( conhecedores isolados muito específicos ) são autistas, com inegáveis capacidades artísticas, espaciais e mnemônicas, ou pré-conscientes de informaçôes. Treffert, pondo o autista como elemento único de sua atenção, encontrou que 10% deles apresentam inequívocas habilidades de sábios savants. O enfoque de Treffert é marcantemente fenomenológico, colocando o autista como entidade psíquica única dentro do universo das possibilidades mentais.
D- A plena concordância com as abordagens neurobiológicas de Hutt e Hutt, de 1964 a 1970, sobre o chamado “hyper-arousal approach” , o superdesenvolvimento neural fetal, a participação sistêmica da ativação reticular ascendente como contato pouco seletivo do pobre ambiente amniótico e a ausência consentânea de estimulação precoce, basicamente com hipervalorização dos batimentos cardíacos e sons maternos e das décalages e encapsulamentos DIP com possível sofrimento fetal (ou embrionário), e introjeção superlativa dos estímulos ex-utero e do próprio exterior abdominal. A superinclusão informacional deste feto designa um canal espacial tipicamente telepático com o exterior e provavelmente, com a própria mente materna (canal aberto ou channeling ). Seria como um ente local receptivo –perceptivo do conteúdo hiperdimensional da bolha hiperesférica materna que o contém e com a qual está unido pelo desejo exclusivo da mãe.
E- A sugestão de Hutt e Hutt de evitação ( avoidance ) de mecanismos externos supressores ou repressivos da livre manifestação autística, como tentativas errôneas de “curá-los”.
F- A evidência histórica e, algumas vezes hipotética, de que gênios- gifted publicamente festejados com alto desempenho como , Newton, Joyce, Everett III, Wiener, Michelangelo, Chico Xavier, Wittgenstein Mozart, Majorana, Garrincha, Dirac, Kubrick, Darwin, Thomas Jefferson etc., e o próprio Einstein, foram ou teriam sido autistas Asperger- Kanner de alto funcionamento.
E, não devemos esquecer que na ordem do tempo :
"O fluxo do tempo é uma ilusão aborrecida e persistente"
Albert Einstein