Por Dr. Fernando Salvino, Parapsicólogo
Todos nós já ouvimos falar de pessoas que se levantam a noite e saem por aí sem qualquer consciência e muitas vezes acabam tomando consciência de onde estão já afastadas de seu quarto, caminhando por algum lugar em estado de sonambulismo. O sonâmbulo é aquele que caminha e faz coisas tão somente guiado pela sua mente sub-consciente.
A mesma coisa ocorre todas as noites: saímos de nossos corpos e perambulamos pela dimensão espiritual sonâmbulos sem qualquer consciência de onde estamos e do que estamos fazendo. Da mesma forma, alguns sonâmbulos acordam e se percebem fora de seus corpos. Alguns conseguem avistar seu corpo deitado na cama e observam um fio de energia fino que liga ao seu corpo lá deitado.
Ainda, podemos viver a vida acreditando que estamos despertos, acordados. Mas perceba, o quanto fica disperso em seus devaneios e imaginações dentro de seu mundo mental, pensando nos problemas, em fantasias, em pensamentos fugazes, sensações diversas.... Lapsos de consciência... fragmentos de lucidez....
Acorde: você pode estar sonhando! Mas, acredita que está acordado.
Seu mundo, suas idéias.... fantasias.... aquilo que pensa de si mesmo ou que pensa de seu marido ou esposa.... namorada ou namorado..... familiares, irmãos, pais e mães...... filhos, filhas...... amigos e amigas....... cultura.... sociedade........... isto tudo pode ser um SONHO. É o seu sonho e você vive dentro dele. Quando você vai dormir, você continua seu sonho...... E quando acorda, pela manhã, acredita que acordou, mas continua sonhando. Da mesma forma quando algumas pessoas se despertam no sonho e sabem que estão sonhando, ainda assim, estão sonhando. A vida é a mesma coisa: acordamos pela manhã e acreditamos que estamos acordados, quando na verdade, podemos estar somente continuando o SONHO.
A noite quando sonhamos, no momento mesmo que estarmos sonhando, acreditamos que o sonho é realidade. E é! Mas é um sonho! Por outro lado, só sabemos que se trata de um sonho quando acordamos e tomamos consciência: era um sonho! Nossa mas como era real! Não importa o quão real parecia o sonho, era um sonho. Você já deve ter passado por estas experiências ou por experiências parecidas com esta.
A armadilha da consciência pode estar aqui
Quando você acorda do sonho e pensa que era um sonho, acredita que neste momento está na realidade e que não está mais sonhando. Errou! Você pode estar simplesmente consciente do SONHO, mas ainda assim permanece sonhando um SONHO LÚCIDO. O sonho lúcido é quando você sonha, mas sabe estar sonhando. Isto ocorre muito quando você está dormindo e começa a sonhar e num dado momento algo ocorre! Você pensa, raciocina e sabe de alguma maneira que está sonhando. Você tem controle sobre o sonho, você pode mudar o enredo do sonho, mudar imagens oníricas..... você está lúcido no sonho. Mas não veja agora o sonho como uma experiência que você experimenta somente ao dormir. Precisamos ver o sonho como um estado de consciência que pode ocorrer a qualquer momento de nossa experiência tanto “acordado” quanto “dormindo”.
Tempo e consciência: o sonho é atemporal
Dividimos o tempo em: dia e noite. Dia é quando estamos acordados, noite é quando estamos dormindo. Criamos uma crença de que é somente a noite que experimentamos os sonhos. E que de dia ficamos acordados, despertos. Alguns cientistas afirmam isto a partir das ondas cerebrais, pelo eletroencefalograma. Eles têm razão em parte. Mas aqui vou além dos eletrodos grudados na cabeça. Vamos examinar juntos como funciona nossa consciência.
Nosso dia a dia é marcado por lapsos de lucidez, fragmentos de memória... Perceba o quanto sua atenção flutua, o quanto sua mente divaga..... o quando fica absorvido pelos problemas e fantasias, o quanto suas emoções flutuam, idéias... dúvidas..... Fique lúcido neste momento, respire e fique lúcido: veja como estava antes, ontem....ante ontem..... é parecido com um sonho. Parece que você estava sonhando. Não que seus problemas ou tudo o mais não seja REAL, pois até mesmo o sonho é real. Mas temos de discernir o que é sonho e o que não é sonho. Geralmente a mente ou está no passado ligado a traumas, cenas, fantasias, experiências... ou está no futuro, pelas preocupações, ansiedade, angústia..... Não importa, você não está aqui e agora, lúcido no presente. Este estado de lucidez no presente marca a divisão entre sonho e não sonho. Mas repito: tanto o sonho e o não-sonho são REAIS.
O desafio aqui é, até certo ponto, motivá-lo(a) a acordar do sonho que você vive dentro. O sonho que digo é o que chama de “vida”. A sua vida inclui tudo: tanto o que ocorre dentro de você como o que ocorre fora de você. Uma dor, um incômodo emocional e existencial, uma doença pode ser a chamada de sua consciência para mostrar-lhe que está sonhando. Mas meu desafio com você não para aqui. Quero mostrar a você que seu sonho tem 24h de existência. Veja agora sua vida como tendo 24h e não somente as poucas horas que acredita estar acordado. Perceba-se uma consciência em vários estados de consciência durante estas 24h. Mas estas 24h continuam.... agora procure ver sua vida como uma experiência única sem interrupções, que vem de um passado muito antigo..... antes de desta vida e chega até seu momento agora, presente. Você está aqui, agora, lúcido. Não importa o que houve, você existe agora, sua consciência neste momento está aqui. Fique consciente deste estado de lucidez no presente. Você pode ficar mais lúcido ainda: olhe agora para sua mão direita com bastante atenção. Repare em todos os detalhes de sua mão, simplesmente observe. E perceba sua lucidez aumentar. Respire mais calmo e sinta uma paz dentro de você: você está acordado(a).
Provavelmente, este estado desperto não dura muito mais que alguns instantes e você, ou vai pro passado ou vai pro futuro. Ou vai para algum lugar de sua mente, divagar em pensamentos, fantasias, imaginações. Você agora está novamente sonhando. Você pode agora que está neste onirismo, tornar-se consciência de que está criando estas imagens oníricas.
Fique consciente. Você acordou novamente.
A consciência não é uma espécie de hormônio produzido pelo cérebro. A consciência é este estado que se altera continuamente; que oscila; que desperta e que dorme; que sonha e que acorda. E que, pode tomar consciência de si mesma: autoconsciência.
E a consciência continua depois que o corpo morre. A morte é um outro estado de consciência: você sai do “estado encarnado” e passa ao “estado desencarnado”. Mas pode passar por estes estados sem qualquer consciência. Você pode simplesmente passar por estes estados em sonambulismo. Um corpo movente sem consciência. São aqueles que morrem e não sabem disso. Ficam perambulando. E tem os que morrem e tem uma leve consciência: estes estão num sonho lúcido. A consciência (eu, você, nós todos) somos esta realidade projetiva: nos projetamos para o passado, presente, futuro, para fora do corpo, para dentro de nossos devaneios, imaginações........ Estes vários locais para onde a consciência pode ir também marca os estados de consciência: ou estamos sonhando, ou estamos parcialmente conscientes (sonho lúcido) ou ainda estamos conscientes. Existe ainda outro estado: hiperconsciência.
O que é acordar? Diziam os orientais que Buda atingiu a iluminação. Na índia, no hinduísmo e nos antigos escritos védicos, encontramos o moksha ou a liberação de sansara ou o ciclo das reencarnações. Não importa o nome. Este ser despertou das ilusões, de “Maya”. Maya significa em sânscrito, ilusões, o mundo das ilusões, o SONHO. Isto significa que ele não mais sonhava, ele estava vivendo lúcido o tempo todo. Esta compreensão exigia uma prática de exame de si mesmo continuamente, um estar presente, uma união (ou pelo sânscrito “yoga”) consigo mesmo e com o Cosmos. Esta união se dava pela prática da meditação. Muitos métodos foram criados, mas o objetivo sempre o mesmo: levar o praticante aos estados de iluminação, transcendência do mundo das ilusões. Estas práticas incluíam um domínio sobre o sonho (sonho noturno), até que o praticante conseguisse dominar os sonhos e atingir os estados de consciência lúcida fora do corpo (projeção consciente para fora do corpo). Cerca de 1500 anos a.C na Índia e mais tardiamente no Tibet e nos países orientais que praticavam os ensinamentos hinduístas, budistas e mesmo os jainistas, já se dava importância crucial para o despertar para a hiperconsciência, o samadhi: a porta para moksha, a liberação dos ciclos de renascimento, reencarnação ou samsara.
A ilusão ou o sonho se dava pelos objetivos distorcidos da vida humana. Viver de acordo com a moral social, viver na busca de riqueza, poder e condecorações e pelo prazer sensual. Isto era Maya. Nada disto teria sentido se todos estes objetivos não estivesse orientados para moksha. Moksha então é o grande ensinamento antigo que parece ser o centramento de nossa lucidez e na metamorfose de todos os nossos objetivos de vida. Não sabemos quando, mas um dia estaremos libertos de samsara. E é nisto que remonta a visão védica do “paraíso”, o reino dos céus ou o mundo-céu. Somente pela libertação de samsara alcançaremos um dia, o mundo-céu.
E como nos libertar de samsara? Pela vivência temporária de moksha e pela prática do amor puro.
Muitos afirmavam que pela meditação poderíamos vivenciar níveis de realidade mais elevadas, transcendentes e superiores em evolução espiritual. E tais afirmações foram sendo repetidas século após século. Outras religiões usaram de métodos de oração. Práticas de teosofia acabaram usando da meditação. Outros ramos como a pesquisa psíquica e a pesquisa da projeção astral (experiência fora do corpo) usavam da projeção para fora do corpo o recurso de atingirem tais estados. Na essência todos buscam a mesma coisa: despertar do sonho e viver na realidade. E viver na realidade significa a extinção do sofrimento e a experiência da felicidade verdadeira.
E não é este o maior desafio da medicina? A extinção do sofrimento, de pathos (patologia)?
Mas o que a medicina consegue é somente a extinção de alguns sintomas, e não do sofrimento. O sofrimento é resultado do fato de estarmos vivendo dentro de um sonho. O mundo, a cultura, as leis, grande parte de tudo isto é uma materialização de conteúdos oníricos, tornando-se um SONHO. A vida humana é o SONHO HUMANO. Quando as religiões afirmaram que teríamos de nos unir a Deus, o que estaria dizendo? Estariam dizendo que deveríamos nos unir à Verdade e não à Ilusão. A “Verdade” foi chamada pelos védicos de Brahmam, e pelos taoistas de Tao. Muitos espíritos superiores a chamam simplesmente de “Verdade” e colocam como o Caminho e mesmo a Verdade, o amor. Muitos espíritos colocam o “Cristo” como um marco da orientação espiritual da humanidade por ter falado sobre o amor. Mas antes dele, ainda Confúcio, na China, já falava do homem benevolente e do sábio. E antes dele, no Tibet, na Índia, muitos já falavam no Bakti Yoga, ou o caminho do amor puro, o yoga do amor puro. Não importa quem começou, quem é mais evoluído ou quem é o grande líder espiritual da humanidade. Muitos alcançaram a Verdade nos diversos locais do planeta e trouxeram para nós suas experiências vívidas. Muitos já estão se despedindo das reencarnações, de samsara e deixam suas pegadas pacíficas por onde caminham. São os testemunhos da “Verdade”, aqueles espíritos puros que alcançaram os degraus sublimes da evolução e se libertaram de todo SONHO, de todo sofrimento e exalam o amor puro que reverberam a hiperconsciência do espírito. São os arcanjos do Universo, os querubins da existência cósmica infinita.
A felicidade então se encontra no amor, no caminho do amor, nos pensamentos de amor, numa vida de amor, em relações sexuais de amor, em idéias, reflexões e tudo o mais na direção do amor. As repetições de padrões, de crenças..... o fato de vivermos num sonho releva nosso nível evolutivo: somos crianças espirituais. Os espíritos puros ou como antigamente chamados pelos védicos por “rishis”, são os adultos espirituais, dentro da maturidade de consciência alcançada ao longo de infinitos ciclos de samsara ou reencarnações vividos pelo cosmo afora.
A vida humana então é a experiência da pequena liberação, o pequeno moksha.
Ao nos libertarmos a cada dia dos venenos de nossa mente, pela compreensão de si mesmo, nos esforçando para melhorar, nos desapegar (perdão, reconciliação...), nos atermos a uma vida ética, honesta, renunciando ações negativas e acolhendo a liberdade (prajna), mudando nossa maneira de comunicar tornando-nos pessoas mais pacíficas, sinceras e não-ofensivas, ainda de maneira não prejudicial aos outros, ao planeta e ao universo; um meio de vida onde seguimos uma vida correta, retilínea, mantendo uma disciplina mental para desenvolvermos um domínio sobre a mente, seja pela meditação seja por outro método; a consciência de ver as coisas como elas são, com a consciência clara, consciente da realidade presente dentro de si mesmo, sem qualquer desejo ou aversão; e buscando experiências transcendentes, sair de si mesmo, transcender o ego, elevando-se no cosmo. Estas orientações foram dadas por Sidartha Gautama, o Buda, há mais de 2.000 anos (O Caminho Óctuplo).
Não importa por onde, nem como: chegaremos no mesmo lugar. E como nos diz a Teosofia, somos parte de um mesmo todo, de um mesmo Divino. E se somos fagulhas, centelhas do Divino, somos irmãos provenientes de um mesmo centro de vida: Deus, Brahmam, Tao..... A fraternidade, a união dos povos, a proteção ecológica do planeta, a paz, o amor tornam-se o caminho e a caminhada, agora e sempre.
Era da Transciência: união fraterna da Religião, Filosofia e Ciência
Estamos com isto adentrando a era da Transciência, onde Religião, Filosofia e Ciência encotram seu elo perdido e começam a caminhar de mãos dadas dentro da grande fraternidade universal.
ॐ भूर्भुवस्वः ।
तत् सवितुर्वरेण्यं ।
भर्गो देवस्य धीमहि ।
धियो यो नः प्रचोदयात् ॥
"Ó, Criador do universo! Meditamos sobre Teu supremo esplendor. Possa Teu radiante poder iluminar o nosso intelecto, destruir os nossas ilusões, e nos guiar no caminho certo."
Verso 3.62.10 do Rig Veda (1.500 a.C)
27.7.10
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Consciência, Sonho e Lucidez: a vida humana como o pequeno moksha
By Fernando Salvino (M.Sc) 12:33