6.9.09

Decepções.... (basta o autoconhecimento?)


Por Dr. Fernando Salvino - Parapsicólogo

Quando penso se existe uma coisa do campo psíquico difícil para qualquer pessoa lidar, na prática orgânica de uma vida vivida organicamente, trago aqui a realidade da "decepção".

Quem de nós nunca de decepcionou com alguém, por alguém? Como se o mundo caisse de uma hora para outra... Como se a pessoa que ora se apresentava uma coisa, num dado momento apresenta-se diferente. Mas este diferente possui um toque de um comportamento que nos é agressivo. E eis que surge a decepção.

Algo como: "achei que era outra pessoa..." ou... "não esperava que você fosse assim"... ou... "eu tinha a esperança que nunca mais agisse desta forma".... e assim vai....

Decepção é um sentimento, mas não qualquer um deles. É sentimento de tristeza que acompanhada um descontentamento e frustração aguda, em relação a um fato inesperado. Tal fato representa um "mal". Decepção também se relaciona quando alguém tem um comportamento em que faz algo de ruim, imperfeito e reprovável.

A palavra tem origem no latin "deceptio-onis" e sugere a etimologia "engano, dolo". Enganar é mentir, iludir, fazer-se de algo que não se é. Farça... e assim por diante.

Portanto, a decepção é um estado psíquico, alterado de consciência, onde nos sentimos vítimas de um "enganador", de alguém que se fez passar por algo que não é, na realidade.

Muitos casais se decepcionam uns com os outros. No entanto, a decepção é mais complexa do que imaginamos, pois carrega dentro dela, nossas fantasias e projeções em relação ao parceiro ou parceira.

No território das fantasias, os conteúdos apresentam-se como reais a pessoa que sente que foi decepcionada. A fantasia que o parceiro ou parceira não era o que esperava, significa um tipo de "traição".

Assim, na complexidade do funcionamento do sistema psíquico, temos que a fantasia muitas vezes é mais real, do que a pessoa real que comporta-se de forma divergente da fantasia. Parece estranho isto, mas é o que ocorre. É um fenômeno estranho que a fantasia seja vivenciada como um fato mais real do que a pessoa real. E isto tem uma razão simples: a fantasia é mais prazerosa ou serve para evitar dor. Assim fantasia-se dor, para evitar dor. Fantasia-se fracasso para evita-lo. Fantasiar a felicidade é angustiante para a maioria das pessoas, devido a crença de que é algo quase impossível. Então, o que sobra, parece-me que é fantasiar fracasso. Numa visão simples, parece mais ou menos assim. No entanto, esta é somente mais uma camada do sistema multidimensional psíquico.

Como mesmo Freud já salientou, nem todo distúrbio tem correlação com um trauma, mas pode ter correlação com uma fantasia. O recalque de uma fantasia gera uma série de problemas na pessoa. Uma fantasia de fecilidade recalcada é a represália de energia vital, que impulsiona a pessoa para a vida. Uma fantasia de dor represada pode ser a porta de entrada da resistência ao coágulo traumático que, de acordo com a clínica parapsicológica, ultrapassa a fronteira da atual vida e ruma para as experiências de vidas passadas.

O mais difícil do campo da "decepção", é o retornar para dentro de nós mesmos e investigar minuciosamente nossas fantasias e nossos traumas, compreender como funcionamos, como nossa mente se opera, nossos pensamentos e nossa forma de reação. É necessário coragem para olhar no espelho de si e tirar dali o conhecimento necessário para a compreensão da decepção e do parceiro ou parceira.

Compreender-se é compreender o outro.

É possível que a decepção seja um sinal dado pelo outro de que estamos errando em nossa percepção. Quando o outro diz: "não, eu não sou este que imagina que sou... eu tenho este lado que é um pouco feio também".

Todos nós escondemos áreas psíquicas dolorosas tanto de nós mesmos como dos outros. A decepção é antes de tudo, com a gente mesmo. Porque, ao confundir uma fantasia com a realidade, estamos nos enganando, antes de nos sentirmos enganados. Ao insistir que a fantasia seja a realidade (e o parceiro e parceira insistem em dizer que não), somos como "ditadores da fantasia" impondo-a no parceiro ou parceira, que obviamente poderão repeli-la.

E, como tudo nesta vida humana e organicamente formada pela sexualidade, acabaremos nos defrontando com o campo da sexualidade em sua complexa natureza transversalizante. A sexualidade atravessa todos os campos da vida humana. Pais com filhos, filhos com pais, filhos com filhos, pais com pais, filhos com amigos, pais com amigos, amigos com filhos......... Os zigotos se relacionam, eis um fato muito prático.

Muitas vezes também nos decepcionamos quando o outro, num dado momento acaba mostrando que é diferente de nós. Algo como um narcisismo...

Quem sou eu? Eis a máxima socrática. Mas basta pararmos na sexualidade? Não. Antes de renascermos estavamos do "Jardim do Éden", o "mundo-céu", o "plano das idéias" como diria Platão, nossa dimensão extrafísica de origem. E tal vida extrafísica é orgástica por natureza e o renascimento será sempre uma espécie de "castração". É o que apelidei de "castração reencarnatória", ou o abir mão do "mundo céu" pelo "mundo cão". Morrer é mais prazeroso que nascer. Grande parte dos nascimentos encarram algum tipo de "trauma". Grande parte das mortes encerram alívio espiritual. Há algo de sexual nisso, diria: morrer é orgástico.

Aqui vem a famosa relação da morte com orgasmo. Mas uma morte boa. A morte não decepciona. A vida humana sim. Senão vejamos: em mais de 90% das regressões de vidas passadas os traumas se localizam nos períodos "encarnados". Os períodos "desencarnados" são relatados como momentos de paz e prazer espiritual.

Então, a primeira decepção natural é conviver com a "reencarnação". E depois com os pais. E depois com toda a fantasia que criamos sobre o que é a vida adulta e sobre muitas outras coisas. Então temos que, a decepção faz parte do aprendizado evolutivo humano.

Enquanto teimarmos em fantasiar (e crer que a fantasia é real) ao invés de viver no chão lúcido da realidade, estaremos fadados a nos decepcionar.

O autoconhecimento é a solução para todos nossos males. Mas basta? Deixo a resposta para ti.