10.3.11

Existência Auto-dirigida: o poder de decidir o rumo de nosso destino

Por Dr. Fernando Salvino
Parapsicólogo Clínico, Psicoterapeuta, Conscienciólogo


Onde se situa o nosso poder pessoal? 

Esta é uma questão bastante complexa e não seria exagero afirmar que é o ponto onde grande parte da humanidade se defronta: a dificuldade de compreender onde se localiza a felicidade e o seu verdadeiro Eu, o self, o si mesmo real. Quando crianças, o menino percebe que tem um objeto prazeroso dependurado em si: o pênis. A menina ao ver o menino com aquilo dependurado, olha para si e conclui: o menino tem, eu não tenho. O que fica não é o fato de a menina ter vagina e o menino ter pênis, mas o fato do menino ter algo que ela não tem. Não vou entrar nos pormenores desta visão básica da formação da personalidade, organizada por Freud. Mas, obviamente que, quando o menino cresce e a menina também, o que está em jogo não é mais o órgão fisiológico, mas tudo o que se associa a ter o pênis: privilégios em casa que os meninos têm e as meninas não, como não precisar lavar louças e as meninas sim e assim por diante. Quando adultos, o pênis é o cargo maior, a remuneração maior, o emprego melhor, as posições de chefias, o carro do ano, o imóvel melhor e por aí afora. A mulher sente que não pode ter “isso” que o homem tem. De forma geral, o pênis se transforma no "falo" como o puro simbólico que substitui o "isso que não tenho" e que se relaciona com o poder: a sensação de ter este algo que não tinha antes e agora passo a ter. E é no poder que me concentrarei neste texto: no local exato do poder pessoal e que transcende o gênero e toda conflitiva do complexo de édipo (sem querer anular esta poderosa influência). Coloco aqui o complexo de édipo ou a poderosa conflitiva afetivo-sexual que aparece na infância e carregamos para a adultidade e mesmo para as sucessivas vidas posteriores como o que temos de transcender, rumo a condição suprassexual, da natureza mais profunda do ser, a consciência, que ora renasce como homem, ora como mulher e que fundamenta o ser humano.

Muitos de forma simplória responderiam: a felicidade se encontra dentro de nós. Mas é uma resposta pronta, enlatada, fast food. Precisamos aprofundar e para isto, quero trazer a questão do "local do poder pessoal".
Eu e você, cansamos, ao longo de muitas vidas, de acreditar que nosso poder pessoal se encontra fora de nós mesmos, em objetos, amuletos, talismãs, imagens, santos, guias espirituais, mentores, anjos da guarda, carros, patrimônios, dinheiro, empregos, família, filhos, Deus, ciência e assim por diante. Podemos ir adiante. Muitos atualmente acreditam que o seu poder se encontra em ser psicólogo, psiquiatra, parapsicólogo, conscienciólogo ou mesmo ser voluntário de alguma instituição, ser professor, etc.  Não importa o que você faz: você não é aquilo que faz. Você é aquilo que escolhe o que faz. E isto que escolhe, você, existia antes de nascer e permanecerá existindo após a morte. E isto que existe de fato, é a consciência, o eu real que transcende o sexo e que fundamenta a complexidade da vida humana. As coisas que fazemos são importantes, relevantes. Mas, a relevância de uma coisa que fazemos está no sentido que vemos naquilo que escolhemos fazer e não na coisa em si. A coisa é secundária. E este sentido que está na coisa que fazemos é o que tecnicamente podemos chamar de "proéxis" ou "programação existencial". A programação existencial é o sentido que encontramos dentro de nós e o exteriorizamos na vida humana, através de coisas que fazemos e que possuem sentido. Pois, de nada adianta colecionar uma série de coisas ou fazer uma série de coisas se, no íntimo, tais coisas não possuem sentido. E uma vida sem sentido é uma vida sem poder. E uma vida sem poder é uma vida impotente. E uma vida impotente é uma vida vazia. Uma vida vazia é uma vida regada por melancolia, depressão e tantas outras psicopatologias. E isto faz com que sejamos os criadores de nosso próprio sofrimento.

E o que escolhe o que você faz?

Seu centro de discernimento, ou a consciência, ou a consciência dos outros. Fomos ensinados e não sabemos ao certo quando se iniciou isto: a acreditar que a fonte do poder se encontra fora de nós mesmos. Desde a antiguidade acredita-se que os Deuses são os responsáveis por tudo o que ocorre ou que as psicopatologias ou fisiopatologias são derivadas de ações demoníacas ou de espíritos malévolos, ou que são de ações de micro-organismos (modernamente), ou ainda, de ações de desequilíbrios neuroquímicos. Não importa: o modelo mental é o mesmo, de que o responsável por aquilo que nos ocorre não somos nós. Tende-se a dizer que é um "outro". E ao delegarmos a fonte de poder para fora de nós, seja para um governo seja para uma outra pessoa ou mesmo acontecimentos passados, seja para um neurotransmissor ou uma glândula ou a uma área do cérebro, ainda assim, estamos delegando nosso poder para um "outro". Não que estes agentes não nos causem problemas, mas no centro, está a decisão de permirtir a influência dos agentes. E fazendo isso, acabamos por nos centralizar no local da impotência e da vitimização. Assim, queremos um remédio, um milagre, um Cristo para nos salvar.

O local da impotência é quando delegamos ao(s) outro(s) o poder que cabe a nós exercer, qual seja, o poder de decidir acerca de nossos próprios destinos e assimir os riscos e consequencias de nossos atos. Portanto, procure parar gradualmente de responsabilizar seu pai, sua mãe, seu passado, suas vidas passadas e tudo o mais que não é você. Por que? Porque ao fazer isto você delega a todos eles o seu poder de mudar, de mudar o seu destino como ser no universo e na sociedade. E para que mudar? Porque não existe outro caminho para alcançarmos a autorealização mais plena e a viver a felicidade. E se permanecer responsabilizando os outros pela sua desgraça existencial, esta postura somente lhe deixará parado, estagnado e imerso num oceano de lamúria e negatividade. E negatividade atrai negatividade. Se você for sensitivo, o processo se agrava, pois você se tornará um pólo atrativo da negatividade do meio onde está; será um aspirador de energia negativa que explodirá a qualquer momento. E não importa o que fizeram contra você. Seja o que for, saia do local da vítima e da impotência. O local da vítima é o local da impotência e da sua incapacidade temporária de não saber ao certo para onde dirigir sua vida. Se não conseguir sair sozinho, procure ajuda.

Assim, vemos pessoas investindo grandes doses de energia e tempo para concentrar suas vidas em acumular bens e patrimônios, batalhando para cargos cada vez mais altos numa empresa ou na vida pública, no governo, de forma que estejam com mais poder (falso-poder). Dinheiro e status, vaidade e prepotência, acompanham este modelo de vida tão amplamente ensinado ao longo dos milênios, vida após vida. E podemos dizer que é a própria expressão da competição animal pelo maior "falo", o maior pênis. A própria guerra dos sexos traduz esta base instintiva. A inveja do pênis atinge também o homem que, olhando ao lado, vê-se diante de outro homem que tem o pênis maior que o dele. E obviamente, sempre terá algum homem com o pênis maior que o seu. Isto ocorre também com a mulher que, não tendo muito seio, olha ao lado e vê uma outra com seios fartos. Ela sente que não tem. Desta forma, a "inveja do pênis" acomete àquele que olha o que não tem, o que lhe falta, e torna-se uma pessoa insatisfeita com o que tem e ansiosa para ter aquilo que sempre lhe faltará. Pois, sempre nos faltará alguma coisa. Mas quem decide viver tudo isto? É a própria pessoa que decide permitir que os valores ilusórios da sociedade e da cultura orientem sua vida e suas opções.


Reciclando nosso modelo interno de direção: a existência auto-dirigida.

Quando digo reciclar nosso modelo interno de direção (existência auto-dirigida) quero dizer com isto algo bastante simples: existem forças externas potentes que atravessam nossas vidas e que, se não estivermos conscientes, lúcidos, tais forças acabam assumindo um elevado grau de controle, influência, no nosso destino. Tais forças podem ser resumidas em duas: a cultura social e familiar e a moral social e familiar. Estas realidades são expressas pelos valores e princípios que estão nas falas de professores, educadores, padres, pastores e líderes de todas as ordens; nos pais e mães e na família. Esta lavagem cerebral. Está presente de forma que a humanidade em massa, compartilhando do paradigma da fonte externa do poder pessoal, acaba criando um campo de energia psíquica, consciencial, de larga escala, planetária, limitador. Este campo exerce uma pressão para que sejamos direcionados para os anseios desta moral dominante. Uma boiada que caminha sem saber para onde. Agora vejamos com bastante honestidade: quem permite a influência dominadora destas forças somos nós. É este o local exato do nosso poder. Ao compreendermos que somos nós quem permitimos que as forças que nos cercam e nos limitam nos domimem, é que podemos começar um movimento de anular a influência destas forças a partir do local interno de nosso poder: o poder de fazermos as escolhas que consideramos as melhores para nós, com o máximo de honestidade consigo mesmo.
Estas forças externas atuam em nós de forma mais fácil, nos direcionando, inconscientemente, pelo fato de que acreditamos que a fonte do poder se encontra fora de nós. Vamos aprofundar.

Aprendemos a agradar os outros desde criança, vida após vida. Se seu pai queria algo, ele lhe pedia. E se você negasse, ela ficava zangado e até lhe agredia fisicamente ou energeticamente. Se você lhe desse o que ele desejava, em geral, ainda assim, não era suficiente. Se você tirava 9 na prova, deveria ter tirado 10. Se tirou 10, não fez mais que sua obrigação. Da mesma forma, a mãe diz: "filho, você precisa de um emprego melhor, ser dentista, ser juiz...." O filho se esforça o máximo e consegue. Um dia chega para sua mãe e diz: " mãe, consegui, sou dentista, estou com um consultório". A mãe responde: "mas filho, consultório é arriscado, precisa passar num concurso público". Ou seja, é a indústria da insatisfação e da ansiedade. O filho ao ouvir a insatisfação da mãe, passa num concurso. E ela lhe diz: "mas filho, este ainda não é um bom concurso, você poderia ter feito um concurso para algo melhor". E assim por diante. Existe uma repressão nisso, um distúrbio evidente. Assim, você aprende a não ser quem você é. Você aprende que ser quem você é, tornou-se arriscado e ameaçador. Se você for quem você é, um outro irá criticá-lo até que você comece a ser o que o outro quer que você seja. E se você ser o que o outro quer que você seja, será uma pessoa infeliz e ouvirá deste outro: você precisa ser feliz! Mas, o mais seguro acabou sendo ser aquilo que você não é: você se tornou o que os outros desejam que você seja. Você neste momento pode estar sendo como um médium: a incorporação das expectativas dos outros. Escolhe ser infeliz porque é menos arriscado. E nunca será suficiente. Por que? Porque os outros também deixaram de ser quem são para obedecer os anseios de outros, que também deixaram e assim por diante. É o que já chamei de indústria da insanidade mental.


Eu e você só temos um único poder: o poder de decidir o rumo de nosso destino

Se você fizer o que os outros dizem para fazer, provavelmente, ocorrerá o que vem acontecendo há muito tempo com você: você não será feliz e acabará colocando a culpa nesta pessoa que lhe disse para ser esta ou aquela pessoa, para ser isto ou aquilo na vida. Não importa onde está hoje. Não importa que idade você tem ou para onde levou sua vida. O local do poder está dentro de você, agora. O local do poder está na liberdade e no direito natural que você tem de escolher.

Eu, você, somos os primeiros maiores interessados em desenvolver um discernimento para sabermos cada vez mais para onde precisamos dar nosso próximo passo em nossas vidas. Não são seus pais, a sociedade, o clero ou o pastor, a esposa, marido, os filhos, os amparadores, Deus ou os guias espirituais que estão interessados mesmo em sua vida. Eles até podem estar. Mas, se você não for o maior interessado em saber para onde está guiando sua própria vida, então, honestamente, está plantando as sementes do fracasso interno e da infelicidade, do sofrimento. E é você que é responsável pelos resultados de sua vida.
É neste ponto, neste exato ponto que se localiza o local do poder. O poder pessoal se encontra no exato lugar onde assumimos a responsabilidade por tudo aquilo que escolhemos, seja de forma consciente, seja de forma inconsciente. Significa que interrompemos o movimento inverso de culpar um "outro" por aquilo que nos cabe assumir. O poder pessoal se encontra justamente no local onde compreendemos de forma franca, honesta, autêntica e sincera, que somos os únicos responsáveis por nosso destino, por aquilo que escolhemos o tempo todo. Esta autoconsciência é a profilaxia para que possamos interromper de vez qualquer pulsão por reclamar de nossas condições ou reinvindicar seja lá o que for que nos falte a seja lá quem (o "outro"). Se conseguirmos nos ancorar firmemente neste local interno, o local de onde provém nossas decisões, na maturidade de nosso livre-arbítrio, nossas escolhas, estaremos dando passos mais seguros para uma vida de maior liberdade. Assim, o poder pessoal está no exercício prático da liberdade de escolha. Se temos somente um único poder, e este poder é o poder de tomarmos nossas próprias decisões, o poder de escolhermos nosso destino, desta forma, é neste mesmo local que podemos encontrar a felicidade. A felicidade é o estado interno de espírito resultado de uma vida de escolhas positivas, visando o bem estar pessoal, o desenvolvimento do amor próprio e do discernimento num nível transcendente de vaidade e narcicismos psicopatológicos.

E o que é exatamente este local do poder?

É o núcleo, o self, a consciência. A consciência, ou seja, eu e você, que transcende o gênero e não importa se somos homens ou mulheres, é a fonte do poder pessoal que escolhe nosso destino. A consciência tem atributos que transcendem o sexo, atributos estes que nos acompanham para que possamos evoluir. O que quero dizer com evoluir? Autodesenvolvimento, autosuperação em direção ao prazer, a felicidade verdadeira e a realização pessoal integral. A felicidade se encontra nesta vida e não após morrer, num paraíso ou numa outra dimensão. O momento é agora. Você pode até esquecer tudo a respeito de vidas passadas ou de vidas futuras se preferir. Se você não acreditar em nada disso não importa. Você e eu, estamos agora existindo e escolhendo o tempo todo e somos responsáveis por isto. Este poder de escolha revela que somos responsáveis pelo que pensamos, sentimos e agimos; pelas energias que exteriorizamos nos ambientes e pelos nossos atos na vida social; pelos empregos que tivemos e pelo que temos agora; pelos trabalhos que assumimos e pelos que fazemos hoje; pelos relacionamentos que tivemos e pelo que hoje estamos. Somos responsáveis pelos nossos resultados evolutivos. Não importa no que e nem onde: você sempre será responsável por sua vida pessoal e pelo que ocorre com você e dentro de você. Você nunca está sozinho, esteja você amparado extrafisicamente ou não, é você quem escolhe estar amparado ou não.
A psicopatologia está enraizada numa visão onde a pessoa sente que a fonte do poder está fora dela. Assim, sente-se vítima e impotente para dar passos adiante em sua evolução.
Seja qual for a doença ou sofrimento que você esteja passando, a etiologia básica é a crença de que o local do poder está fora de você e no fato de que a sua capacidade de escolha está imatura ou carente de maior precisão nas escolhas: você não sabe bem para onde ir e fez escolhas erradas ou imprecisas. Não importa. Comece a fazer escolhas mais acertadas para você a partir de agora. O tempo do poder é o agora. É agora que você existe. Você pode até lembrar de seu passado antigo, na China ou na Europa, mas lá você passou, foi.... aquele eu já não existe mais como existiu. Você existe agora e caminha para o futuro. Você decide para onde se movimenta.

Questões para reflexão (seja o mais sincero possível):

1. Defina para você mesmo, porque decidiu retornar para esta dimensão física, aqui na Terra? Renascer em sua família, como homem ou como mulher, neste ou naquele país?
2. Assim, defina qual sua exata tarefa de vida?

3. Defina  o sentido da vida para você e seu nível de autorealização integral?
4. Defina quem você é para você mesmo?
5. Faça uma lista exata de 5 a 10 coisas proritárias que você considera importante para você definir para si mesmo.

Que conclusões você pode tirar deste exercício?