12.12.10

A Consciência e a Psicoterapia pela Autopesquisa: da Dependência Afetiva à Autosustentação Saudável

Por Dr. Fernando Salvino - Parapsicólogo

Muito se tem falado acerca da revolução o qual a Psicanálise foi protagonista, e com todo mérito, merece tal título: a descoberta e a investigação mais criteriosa e científica do inconsciente. Freud foi um gênio e ninguem pode alegar outro mérito a ele. Sua coragem é admirável e sua obra merece ser aplaudida. Mas de que inconsciente fala Freud e a Psicanálise? Do inconsciente superficial, restrito a um paradigma que reduz o ser, a um conjunto sintomático que pode ser expresso através de três paradigmas psicanalíticos, conforme a classificação dada pelo psicanalista Renato Mezan: pusional, relacional e subjetal. Independente do paradigma trabalhado, o inconsciente é um local, uma dinâmica ou uma realidade cuja vida se dá na ausência da consciência do sujeito e cujos sintomas são a expressão desta realidade. Eis uma base pelo qual norteia a teoria e método psicanalítico. Apesar de toda coerência do pensamento de Freud, principalmente, quando defrontou os tabus da sexualidade humana em uma profundidade ainda não presente em muitos ramos da psicoterapia e ciência, não podemos nos reduzir a compreender o sujeito de forma refinada, somente olhando sua casca.

A técnica psicanalítica obviamente não é a melhor nem a definitiva. É excelente, mas não o fim. Nem abarca as profundezas do inconsciente, como conseguimos alcançar pela hipnoterapia e a retrocognoterapia, ao acesso de vidas ou séries existenciais passadas do sujeito, vidas extrafísicas ou quando fora do corpo (projeção da consciente), evidenciando a realidade da polêmica "reencarnação" e da multidimensionalidade e seus impactos na vida do sujeito, hoje, ampliando o espectro do inconsciente.

Desta forma, ocorre que um paradigma, seja ele qual for, tornou-se um dogma quando não amplia seus métodos nem revisa seus paradigmas para além do inconsciente. Para além do inconsciente já descobrimos existir a hiperconsciência das experiências de cosmoconsciência, pela projeção da consciência para fora do corpo, através do mentalsoma ou corpo mental (projeção psi-P). Da mesma forma, descobrimos que o inconsciente é estruturado como se fossem em "faixas vibratórias", cujas faixas, cada uma delas, revela experiências passadas que ultrapassam a fronteira desta vida, rumando para as vidas passadas. Assim, descobrimos também que o sujeito e sua personalidade não são realidades restritas a esta atual vida e à atual família. Existe uma dimensão inata no humano que transcende o corpo e a atual existência. Como já disse Sócrates, o ser humano esqueceu de si e necessita lembrar-se (anamnese). Para Sócrates, a palingenesia (reencarnação) era um fato normal e o esforço de um ser humano era lembrar de sua verdadeira natureza, parindo a si mesmo (maiêutica).

Na história da investigação da consciência, alguns paradigmas se separaram de forma radical: psicanálise, mesmerismo, metapsíquica e espiritismo. Naquele século, da metade de 1800 para cá, cada ramo desenvolveu um modelo próprio, porém, ao invés de trabalhando com o ser humano integral, inteiro, acabou refinando-o.

A psicanálise desviou-se e acabou se tornando um dogma centrando em Freud, Lacan e outros. O mesmerismo acabou tornando-se um ramo quase místico, onde a cura se centrava no magnetismo do curador, que detinha algum campo mágico magnético que curava a doença do paciente, este doente devido a desequilíbrios energéticos. Por outro lado, a metapsíquica, acabou se tornando um campo cético da pesquisa e foi atacada por não ter um rigor matemático e laboratorial em suas investigações, sendo posteriormente substituida praticamente em sua totalidade pelos pressupostos modernos da Parapsicologia, fundada por Max Dessoir. O espiritismo tornou-se uma igreja católica mais transcendente, cuja bíblia foi substituida pelo evangelho e os tratados de fenomenologia parapsíquica fora reduzidos ao livro dos médiuns e espírítos e outras obras, incluindo aqui o aspecto moral e ético da existência espiritual humana, sendo de todos, o sistema mais completo para a evolução da consciência. Devido ao fato da contaminação dos pressupostos religiosos dogmáticos da repressão sexual trazidas de membros católicos que se tornaram espíritas, a sexualidade tornou-se um núcleo não falado e pouco abordado, colocando a Psicanálise em posição privilegiada neste campo. Assim, embora estas áreas tenham atuado cada uma delas em diretrizes específicas e ali tendo desenvolvido paradigmas e técnicas, nenhuma delas é completa e nenhuma delas trata o ser humano de forma integral.

A tendência hoje é a investigação da consciência integral, transcendendo o inconsciente freudiano e psicanalítico com um todo, o modelo junguiano, reichiano e todos os outros que tentam abordar fatias de um ser humano irredutível a partes e indivisível psiquicamente.

A consciência apresenta uma complexidade que vai além do sujeito, reduzido a um corpo existente nesta atual vida pertencente a uma família "X" e a uma biografia limitada a alguns anos. Do ponto de vista da evidência clínica experimental da parapsicologia e da ótica das investigações avançadas da consciência, o sujeito é consciência que já existia antes de nascer na atual família e permanecerá existindo após sua morte corporal, ficando somente a consciência e seus outros organismos energéticos (psicossoma, mentalsoma) para a sua manifestação, noutras dimensões. O universo é multidimensional e a consciência acompanha tal tendência.

Dentro da moderna tendência mais avançada na superação de problemas (psicopatologias, patologias e desafios existenciais) está a autopesquisa, onde o próprio sujeito investiga a si mesmo e sua forma de funcionamento, de um ponto de vista integral, inclusive incluindo as projeções conscientes para fora do corpo para descondicionar-se de sua concepção corpóral e biológica de si mesmo, além de acessar outras dimensões da realidade e aprender antecipadamente a morrer e a perder o medo da morte. A autopesquisa é a chave da independência pessoal e do descrobrimento do motivo que nos levou a retornar a este planeta, a reencarnarmos, a ressomarmos aqui e agora, a estarmos nesta família e assumirmos tal e tal papel nesta vida. Uma verdadeira psicoterapia precisa ajudar os pacientes a se encaminharem no sentido de conseguirem por conta realizarem esta investigação de si mesmos, o mais amplo possível. Por exemplo, é o caso da paciente que relutava em estar viva, em viver, apresentando uma resistência aguda em tomar responsabilidades para sua evolução, quando em regressão, lembra que não queria reencarnar e que foi praticamente "empurrada" por amparadores para que retornasse a desse continuidade a sua evolução. Após esta rememoração, a paciente compreende-se melhor e começa um trabalho de aceitar sua condição de estar aqui e inicia um processo de descoberta de uma tarefa para sua vida, já que veio sem uma tarefa específica. Agora, está envolvida num processo de aprender na prática a realizar a autopesquisa visando o conhecimento de si, chave para a saúde integral.

A autopesquisa é o modo de se compreender e de mudar que inclui algumas fases simples, cujo centro é o desenvoilvimento de uma relação de amizade e amor consigo mesmo (sem "passar a mão na cabeça"):

1. Realização de auto-diagnósticos contínuos, que pode ser ajudado por psicoterapeuta ou não, que visa aprofundar o problema e dinamizar a evolução íntima. Aqui inclui a auto-análise o mais sistêmica possível visando uma noção geral de si mesmo, multiexistencial, multidimensional, etc.

2. Escolha consciente de experiências que poderão ser instrumentos para se superar certos traços dificultosos e mesmo dinamizar certas qualidades já desenvolvidas.

3. Análise, Síntese, Reflexões sobre os resultados das experiências e criação de novos rumos para novas experiências, análises e reflexões.

4. Experiências novas, novos testes e desafios escolhidos conscientemente para a autosuperação e evolução o mais consciente possível.

A vivência da autopesquisa traduz-se numa vida mais autêntica, segura e ancorada na realidade de si e do cosmos, e pode levar a pessoa a completar sua tarefa de vida e a obter uma morte tranquila e lúcida, feliz e serena, traduzindo num esforço para se plantar uma vida pós-morte lúcida e sincronizada.

No entando, admito que é dos procedimentos mais dificeis de se fazer e que requer muito estudo de si mesmo, horas semanais de auto-estudos, auto-análises e auto-sínteses. Muitos não têm fôlego para isto o que traduz a necessidade da psicoterapia mais branda para alguns casos e da psicoterapia mais profunda para os pacientes que têm fôlego para uma autopesquisa mais aprofundada e responsável. Esta inclui exercícios de auto-diagnóstico e sugestões de experimentos durante a semana visando a análise de resultados e a mensuração de si e dos fatos evolutivos.

Por fim, já estamos muito além da Psicanálise, o que não quer dizer que para muitos a psicanálise ainda não seja útil. Pelo contrário, a Psicanálise é bastante útil dentro dos limites que trabalha. Mas devemos ter em mente nosso discernimento de que, a pessoa humana é integral e não refinada, e quanto mais andar com suas próprias pernas e decidir por si mesmo sem necessitar de terceiros, o que obviamente nunca será uma liberdade absoluta ou uma independência total (todos dependemos dos outros em alguma coisa), melhor será para ela mesma. A Psicoterapia que se utiliza da autopesquisa visa justamente isto: dar instrumentos para o paciente caminhar com suas proprias pernas e conquistar maior liberdade de ser e estar no mundo, e com isto, vislumbrar a possibilidade real e não imaginária, de uma vida mais realizada e feliz.