5.12.10

Os "Espíritos": pela Teoria dos Psicons e Projeciologia

Por Dr. Fernando Salvino - Parapsicólogo

"Na Teoria Psicônica, os espíritos seriam produções mentais paranormais sob dissociação e sob a ilusão da percepção sensorial." Dr. Geraldo Sarti, Parapsicólogo e Pres. ABRAP.

É bem exatamente aqui que inicio a desafiante tarefa de definir o que é um "Espírito". Espíritos são aqueles seres que apesar de existirem, não possuem um corpo físico como o nosso aqui e agora. São seres que manifestam-se, apesar da ausência de um corpo físico, carnal e sexual, a partir de uma plástica similar a de um corpo humano, sexuado, ora similar a uma mulher, ora a um homem. Eis uma das dificuldade de se aceitar que os "Espíritos" sejam em sua aparência como o são as pessoas humanas, de carne, osso e sexo.

É a partir da teoria psicnônica que irei observar tal fato e também pela ótica projeciológica, especificamente a partir de minhas experiências extracorpóreas, a partir daquilo que se chamou: projeções pelo psicossoma e pelo mentalsoma (ou como prefiro chamar projeção psi-P).

Os Espíritos conservam a forma humana devido ao condicionamento mental. Vou partir desta premissa básica de uma das funções próprias da consciência (o sujeito em si), que é a ideoplastia ou a capacidade que a mente tem de modelar formas de energia carregadas da fantasia que lhe for mais adequada. Assim, uma pessoa humana, vive uma vida inteira olhando-se no espelho físico ou no espelho d'água e, mesmo após a desativação do sexossoma (corpo humano biológico) com a morte, ainda conversa a forma humana no pós-morte, por uma simples ideoplastificação do 2º veículo da consciência: psicossoma ou corpo psicônico.

Assim, Espíritos são produções mentais paranormais, visto ser uma expressão típica de uma [auto]para-psicocinesia para a modelagem energética da fantasia corpórea que está operante na mente (transcendente) do sujeito. Extrafisicamente, o sujeito ou pessoa humana, fora de seu corpo biológico, pelo psicossoma, pode plasmar-se como um cão, como um outro (falsificação paraideológica) e mesmo manifestar-se como uma núvem de energia sem forma humana definida, ambas experiências que já presenciei fora do corpo.

O psicossoma como o corpo extrafísico mais comumente usado nas viagens extrafísicas, possui propriedades parafisiológicas bastante peculiares, como a capacidade imediata de responder aos desejos e aos impulsos da vontade, intenção e fantasias mentais do sujeito que ali se manifesta. Assim, numa definição objetiva, os "Espíritos" são aquelas consciências que, mesmo após terem passado pela morte do corpo ou sexossoma, ainda conservam o apego à forma humana, sexualizada e expressam-se ora numa forma sexuada masculina ora feminina. São estes "Espíritos" que manifestam-se nos fenômenos de aparição ou são vistos por clarividentes como pessoas quase reais e, inclusive, usando roupas, trajes humanos. "Espíritos" são consciências que possuem em suas mentes uma auto-imagem humana, condicionada pelas precárias experiências que anulam a natureza intrinsecamente humana do Ser.

O rompimento definitivo da auto-imagem ou o conceito de si como sendo um corpo se dá pelas experiências de projeção psi-P (psi-Pura) ou pelo mentalsoma (corpo mental). Nestas experiências a consciência sente-se numa condição vividamente livre de corpo, não enxerga qualquer apêndice corporal ou extensão energética que parece colocar-se como um objeto de si mesmo (como ocorre quando olhamos para nossas mãos ou para nossas para-mãos). Nas experiências de projeção pelo mentalsoma o ser vive sua natureza mais intrinseca, subjetiva, pura, livre de corpo, massa, tempo e espaço como o conhecemos aqui. Por outro lado é possível a expansão do "si mesmo" para um nível transcendente onde a pessoa neste estado sente como sendo ela mesma, mais que qualquer outra experiência. Esta vivência mostra pela experiência direta que o Eu é incorpóreo e livre de forma: o Eu é na verdade, pura Consciência. O pico da dissolução da auto-imagem e auto-conceito corporal do Ser se dá nas experiências de cosmoconsciência. Nestas experiências o Eu sente-se irradiando para o Infinito, numa direção cósmica vasta, icomensuvável, que transcende qualquer noção humana e sexuada. Ultrapassa as barreiras de qualquer noção e conceito acerca do humano e migra para as vivências cósmicas e galácticas, estelares da irradiação consciencial hiperlúcida; anulação temporária de toda neurose a partir da religação do ser com seu eu real incorpóreo, pura consciência operante e livre de forma, espaço, tempo e matéria, convenções e paradigmas. Neste hiperespaço, a consciência é transparadigmática: a consciência pura é o próprio paradigma, vívido.

E é esta Consciência que se opõe à idéia de que somos "Espíritos". Como disse, "Espíritos" são as consciências que ainda detém uma autoimagem de que são Corpos e não Consciências. "Espíritos" são as consciências que ainda preservam em si, em suas representações mentais e fantasias, a autoimagem sexossomática. Eis a distorção de percepção básica: os seres sexuados somente são aqueles que nascem e morrem e que iniciaram este ciclo a partir de um ato sexual, da fecundação, embriogenese e todas as fases de crescimento biológicas, a vida humana e a morte propriamente dita. Quando uma consciência passa deste estado, chamado "intrafísico", para outro estado, chamado "extrafísico", a consciência se dessexualiza, pelo simples fato cósmico de ter saído deste ciclo sexuado que carrega o fenômeno da morte como fenômeno central. E ao se dessexualizar (também chamado de dessoma ou desencarnação), a consciência geralmente permanece como crendo que é um corpo, mas agora, um corpo espiritual. Assim, não percebe que o centro doador de significados, sentidos e conceitos, geradora das fantasias é justamente quem ela é: a Consciência. E como Consciência pode alterar sua forma e desidentificar-se sexossomaticamente e retornar a sua origem mesma de um campo de energia informe, quando pelo psicossoma.

Os condicionamentos são graves para a consciência que se dessexualiza ou morre (desencarna, dessoma). Ela pode voar, mas caminha como se estivesse ainda viva, em corpo e carne, sob o julgo do campo gravitacional. Ela pode atravessar estruturas densas materiais com facilidade, mas não o faz, crendo ainda que precisa abrir portas e subir escadas. Ainda crê que precisa de comida, onde não raro, são lhe servidos "sopas" para alimentar as consciências. A questão é complexa e encerra um processo de distorção de percepção bastante aguda.

Assim, como é o objetivo deste pequeno ensaio, defino "Espíritos" como as consciências que, ao passarem pela morte (desecarnação, dessoma) ainda conservam o condicionamento mental e a necessidade de manifestarem-se a partir da plástica sexuada, como homem ou mulher, usando vestes, roupas, chapéus, plasmando-se corporalmente como uma réplica humana, embora sutil e "vaporosa".

Por outro lado, posso definir "Consciência" como o núcleo real do Ser, o que realmente sobrevive e existe, não sendo produto de qualquer condicionamento mental mas, antes disso, apresenta-se como o núcleo doador de sentido e representações da realidade, moldando-a como bem entender, expressando-se como lhe é melhor e mais conveniente aos seus condicionamentos e crenças.

E por fim, estou de acordo com a teoria psicônica quando Sarti afirma que "Espíritos" são "produções mentais paranormais sob dissociação e sob a ilusão da percepção sensorial."