16.2.15

Svadhyaya: Ensaio sobre a Autopesquisa da Consciência através do Yoga

Yogue chinês deixando o corpo
em meditação microcósmica.
Fernando Salvino (M.Sc)
Parapsicólogo, Psicoterapeuta
Professor, Praticante e Pesquisador do Tao Yoga - Tai Chi Chuan, Holocosmologia e Ciências Avançadas da Consciência



O Yoga é aos olhos do preconceito e mesmo do leigo desinformado alguma coisa ligada a malabarismos ou simplesmente ficar sentado sem fazer nada, ou meditando e assim por diante. Infelizmente o Ocidente consegue diminuir qualquer contribuição significativa que não tenha sido produzida em território ocidental.

Apesar da mistificação dada por gurus de todos os tipos, e por ser a ciência um feito difícil de ser efetivado, ainda mais uma ciência da consciência pautada em autoexperimentações, autopesquisas e tão dependente assim do sujeito que é ao mesmo tempo objeto de si mesmo, entre os anos 200 a.C e os anos posteriores a cristo, Patañjali nos deixou o legado do Yogasutra como o tratado racional expondo a sistemática do Yoga enquanto caminho definitivo para a dissolução das perturbações, o assentamento no samadhi e a liberação total do ser, ou kaivalyam. Simples assim. Nem menos, nem mais.

Patañjali sintetiza:

"A realização do Yoga provém da disciplina e desapego, do auto-estudo e da auto-entrega."

A antiquíssima ciência do Yoga, que tem em sua realização, ou Krya Yoga, a autopesquisa (autoestudo, auto-observação, autoanálise, intuição de si mesmo, acesso à sabedoria interna e entrega à sabedoria interna) ou o estudo de si mesmo como o centro mesmo para a auto-entrega ou o caminho de cada um no universo.

Então, o Yoga em nada tem a ver com malabarismos, ginástica ou contorcionismos, como vem sendo atacado por leigos e desinformados, e não raro, por pessoas de índole de bem, porém, influenciados por opiniões de outras pessoas nada informadas, como é o caso da comunidade associada a Waldo Vieira, que desconhecem o que é realmente o Yoga e sua real função como ciência aplicada da consciência, em uma perspectiva de autopesquisa evolutiva em direção ao que chamou Patãnjali de kaivalyam.

Assim, define Patañjali que a realização do Yoga se dá pela disciplina e desapego, pelo esforço em permanecer no recolhimento dos meios de expressão da consciência e ater-se ao centro em si mesmo corrigindo a percepção de si e da realidade, no acesso direto ao saber interno e na entrega a este saber, até a liberação total do ser, ou kaivalyam.

Svadhyaya é assim a autopesquisa parapsíquica, profunda, do Yoga assim sistematizado por Patãnjali, e estando num dos angas iniciais, ou o Nyama, está contido em todos os demais angas, como forma de orientação a prática correta do Yoga.

Yoga sendo a união do microcosmo ao macrocosmo, em um estado superior de holofusão, ou kaivalyam, além ainda do samadhi (a condição para a meditação), tem em svadhyaya seu principal suporte, visto é através dele que desenvolvemos o correto discernimento que corrige a confusão das perturbações geradas pelo apego, aversão e outras formas de perturbação e obstáculos.

A ênfase na auto-experimentação levada a cabo por uma disciplina e um desapego persistente, acompanhado de uma autopesquisa criteriosa, parapsíquica e racional, assim como um assentamento na autoconfiança quanto a entrega à sabedoria interna faz do Yoga, em minha opinião, a sistemática mais completa para a evolução da consciência, sendo todas as demais derivações em menor ou maior grau do Yoga real, ou Raja Yoga.

A autopesquisa da consciência através do Yoga inicia primeiramente pelo estudo aprofundado do Yogasutra, obra das mais profundas já escritas na humanidade. Com o estudo iniciamos um autoestudo indireto, convidados por Patãnjali a trilhar os quatro capítulos que esclarecem o sentido da existência humana e a verdade por detrás das perturbações e como dissolvê-las definitivamente. Após tem-se nos angas ou nas partes da ampla sistemática do Yoga, sendo que as primeiras são regras de restrição ética e a segunda regras de autoaperfeiçoamento. Diante de tais pressupostos epistemológicos da auto-ciência do Yoga, o praticante vê-se diante de si mesmo e em relação aos demais seis angas, todos trabalhando as regulações que se iniciam na regulação do centro intencional da consciência (chamada por Patãnjali de citta) seguindo dos demais angas, que regulam a força física, o alongamento e fortalecimento dos músculos e tendões (ásanas) seguindo da prática correta da respiração e movimentação da energia (pranayama). Após regula-se o recolhimento (pratyahara) preparando para a correta concentração num único ponto (dharana). A partir disso, ocorre a meditação num único objeto (dhyana) para que o praticante alcançe o samadhi e inicie a meditação. Pela meditação o Yoga prevê a meta superior do kaivalyam, quando extingue-se qualquer noção de um eu separado do mundo, num estado de dissolução hiperlúcida-holocósmica de consciência, pondo fim a necessidade de um ego e dando início ao fim de todo mal e a manifestação de todo o bem universal.

Estes últimos estágios do Yoga acompanham experiências parapsíquicas e projeciológicas, sendo comum praticantes avançados sairem de seus corpos com inteira lucidez e mesmo obterem as percepções parapsíquicas mais claras da realidade, associadas a função psi-gama, psi-kapa, psi-theta e psi-ómicron.