4.12.10

A Reconciliação Consigo Mesmo: Voltando a ser seu Melhor Amigo

Por Dr. Fernando Salvino - Parapsicólogo

O título parece até apelativo, ao estilo "auto-ajuda" ou algum best-seller internacional propagandista. Entretanto, o título encerra uma profunda necessidade humana, talvez a maior de todas. O ser humano tornou-se ao longo de suas vidas um inimigo de si mesmo e, por consequencia, alimenta, nutre pensamentos, sentimentos e energias de raiva, rancor, ódio, vingança, guerra, tristeza profunda, depressão, melancolia e dentre outras emoções desarmônicas. Não quero dizer com isto que temos de parar de sentir. Não. quero dizer com isto que, hoje, talvez nossa maior necessidade seja a de voltar a sermos amigos de nós mesmos. E isto implica uma profunda reconciliação consigo, cujo resultado é a tão sonhada paz interior.

Venho ao longo de minha vida buscando este estado interno e, como você bem sabe, leitor(a), não é tarefa das mais fáceis de se empreender. Por outro lado, não existe caminho mais fácil do que aquele em que buscamos sermos amigos de nós mesmos. Significa isto que "passarei a mão em minha cabeça"? Ou que "colocarei panos quentes" em mim mesmo? Isto não é ser amigo, isto é ser conivente. Ser amigo de si é olhar e se relacionar consigo mesmo com uma profunda honestidade, sinceridade e franqueza. Esta profundidade a cada passo no caminho de evolução se aprofunda e se intensifica, a ponto de cada um de nós conseguir gerenciar nossas vidas internas e externas com o máximo de honestidade e incorruptibilidade. A pessoa deixa de aceitar a autocorrupção: a sabotagem interna que é a pura expressão da inimizade que temos conosco.

Em nossa cultura, vemos aprendendo desde crianças e, indo mais a fundo, desde os tempos antigos da vida humana neste planeta, em nossas vidas ou encarnações passadas, que ser "esperto", "ganhar vantagem", sobressair-se sobre nossos semelhantes, pisoteando-os, subjugando-os, numa luta de poder sem precedentes, numa competição que descola nossa condição interna para o contexto da insanidade mental em massa, produzida em série, ao longo de muitas vidas, é o sentido de estarmos aqui. Somos os herdeiros milenares desta cultura que usa da falsa religião, falsa ciência e falsa filosofia para manipular povos e direcionar as massas para um modo de viver e pensar a vida destituida do sentido maior que permeia a existência e do autoconhecimento puro e livre.

No núcleo mesmo da alma humana encontra-se uma solidão sem precedentes. Encontra-se um conflito cujo núcleo mesmo é uma auto-rejeição, um certo ódio de si ou de áreas significativas de si mesmo, raiva e ressentimento por sermos a pessoa que somos. Eis a necessidade urgente de uma reconciliação profunda conosco, retornando a sermos os nossos melhores amigos.

Você pode começar fazendo uma coisa simples: uma lista com tudo o que odeia, rejeita ou não gosta de si. Ao fazer a lista poderá sentir uma série de coisas negativas sobre si mesmo. Ao começar a sentir estas coisas reprograme-se com pensamentos bons sobre si. Seja seu amigo, veja seu pior lado, tua pior face, seus piores defeitos com um olhar mais fraterno, sem negar qualquer parte de si nem "colocar panos quentes". Mas desenvolva uma capacidade progressiva de olhar para si, sentir-se em sua totalidade sem rejeitar-se por ser quem você é, agora.

Se você não se ama suficientemente para aceitar, como digo a meus pacientes, sua "coluna da esquerda" (a lista de defeitos, vícios e traços-fardos), então, será incapaz de amar com profundidade. Sem uma entrega profunda a si mesmo, não existe possibilidade de uma entrega profunda ao outro. Uma profunda crise assola o planeta: as pessoas perambulam carentes e vazias, em profundo conflito consigo mesmas, exteriorizando uma cultura de guerras e criminalidade. Eis a base espiritual ou consciencial da crise atual, sem precedentes.

A base da reconciliação consigo e da auto-amizade é o amor a si mesmo. O amor a si mesmo é a base da paz interior e da autorealização e o núcleo irradiador da energia capaz de criar uma nova sociedade e uma reforma integral nos governos e na política.