17.11.11

A Contribuição de Sylvan Muldoon para a Ciência da Projeção da Consciência para fora do Corpo

Publicado originalmente em 1929.
Por Dr. Fernando Salvino
Parapsicólogo Clínico, Psicoterapeuta, Conscienciólogo


1. Sobre a História da Projeciologia Moderna

A história da Projeciologia Moderna, ou a investigação científica da consciência em sua condição extracorpórea, fora do corpo e do cérebro, começa decididamente com o projetor e pesquisador autodidata, Sr. Sylvan Muldoon. Isto não quer dizer que antes de Muldoon não tenha havido pesquisa sobre o tema, visto que o assunto e mesmo a experiência projetiva já vem sendo falada de uma forma ou de outra desde a antiguidade, em todos os cantos do planeta. Mas a pesquisa científica propriamente dita, inicia a partir deste renomado e corajoso sensitivo.

A primeira experiência projetiva de Sylvan Muldoon foi aos 12 anos de idade quando passa pelo fenômeno da catalepsia astral ou projetiva. Tal fenômeno é muito comum e já ajudei mais de dezena de pacientes a lidarem melhor com o estado cataléptico. Em dada condição, paciente em regressão desperta abruptamente do estado de transe e afirma ter estado paralisado e não conseguia retornar ao corpo, afirmando que aquele seria o real motivo que o levou a buscar a terapia comigo. Os casos são inúmeros. De qualquer forma, Muldoon inaugura a pesquisa científica criteriosa sobre o fenômeno, que, como ele mesmo diz, foi muito pouco pesquisado pela ciência psíquica.

Muldoon renasce nos EUA em 1903, e em grave enfermidade escreve sua primeira obra junto com o renomado metapsiquista Sr. Hereward Carrington, "Projeção do Corpo Astral", publicada originalmente em 1929, inaugra, no planeta, a ciência da projeção da consciência, inicialmente, a projeção do corpo astral ou psicossoma (perispírito). Desencarna em 1969.

Em seguida dá continuidade às suas investigações publicando obras como "Os Fenômenos da Projeção Astral" (1951), quando após receber cartas de relatos de experiências de leitores de sua primeira obra, acaba por começar uma taxonomia da consciência projetiva, organizando os relatos conforme categorias de experiências, ao estilo fenomenológico no estudo de vivências e outras. Muldoon também publica outras duas obras especializadas no tema: "The Case of Astral Projection: Hallucination or Reality!" (1936) e "Psychic Experiences of Famous People" (?).

Outra obra de Muldoon foi publicada no Psychic Series Vol. II, intitulado "Famous Psychic Stories", em 1942.


II - Sobre os fundamentos e metodologia da ciência da projeção consciente (Projeciologia)

Muldoon afirma:

"Sin embargo, no podemos dejas de referir un factor sugestivo, a modo de conclusión. El cuerpo astral no piensa - no origina pensamiento - como tampoco lo hace el cuerpo fisico! Meramente es el vehiculo de la mente, que funciona en su propio plano. Al ser esto así, ha de resultar obvio, que algún principio mental superior (llamémoslo, espíritu, alma, o como queramos) funciona através del cuerpo astral; y, por ser tal el caso, debe representar un elemento todavia más transcendental de nuestro ser. Esta conclusión nos parece forzosa para todo aquel que medita sobre su experiencia personal en materia de proyección del cuerpo astral". (Muldoon, p. 59).

Continua nos esclarecendo:

"Si las experiencias extracorpóreas son reales - si sólo un caso se estabaleciera cientificamente - entonces la existencia de la mente separada y aparte del cerebro fisico se prueba de una vez y para siempre, y la probabilidad de supervivencia se torna aparente. De esa manera, la "inmortalidad" quedaría demonstrada de un solo golpe! Pues si la mente humana puede vivir e funcionar durante un solo minuto fuera del cerebro físico, que és lo que le impide de vivir y funcionar indefinitivamente, cuando el cerebro físico ya no existe?" (Muldoon, p. 40)

A ciência projetiva adotada por Muldoon se sustenta numa metodologia científica baseada no realismo da vivência, diante de sua extrema dificuldade de comprovação científica. A replicabilidade do fenômeno projetivo, a sua impossibilidade técnica e laboratorial de demonstração e elucidação diante da veracidade do fenômeno, a inconstância das repetições diante da aplicação de métodos e dentre todas as características básicas dos fenômenos psi-Gama, temos que a experimentação pessoal se torna o método central da auto-indução da projeção consciente do corpo astral (psicossoma). Diante disso, Muldoon adota o método da autoexperimentação como a base para uma ciência possível da experiência extracorpórea da consciência, senão vejamos suas palavras:

"Estou perfeitamente seguro de que, antes de acreditar, deve fazer-se a experiência da projeção astral consciente. E confesso que não a aceitaria como verdadeira se não a tivesse experimentado e se não soubesse que é uma verdade. Diz o cético: "Quero provas. Provas objetivas. Então acreditarei". E o projetor responderá: - "Não tereis provas objetivas. Deveis experimentar. Então tereis a prova". O argumento de que o projetor não poderá oferecer as provas ao cético é destituído de valor. Porque também o cético não lhe pode provar que se trata de um sonho. Assim, é inútil a discussão. Tão inútil quanto discutir se a matéria é causa primeira ou efeito final. Coloco-me numa posição clara: E digo: experimentai-o. "É comento que se prova o pudim." Nada procurei esconder nem recorri a supostos argumentos acerca dos "perigos" inerentes, o que constitui a maioria dos escritores do assunto. Dei métodos específicos para conseguir a projeção do corpo astral, tais quais os conheço, e desejo que verifiqueis a exatidão de minhas afirmativas diretamente dos resultados obtidos através da aplicação desses métodos. Quereis provas e eu vos digo que as poderei ter - mas deveis experimentar. Quereis saber como podereis experimentar, e eu voz digo como proceder. Nada mais me é possível. (...) Que este livro não seja julgado apenas pelo raciocínio. Que o seja pela experimentação. Não desejo que ninguém acredite no que escrevi. Digo: experimentai! Segui as fórmulas e depois julgai do mérito do que afirmo." (Muldoon, pp. 7-8)


III - Sobre o método e a categorização das experiências projetivas baseadas em critérios de indução (fator desencadeante ou gerador):

O diferencial em Muldoon era sua condição de auto-experimentador: ele mesmo passou por experiências desta natureza e, diante disso, fez ciência auto-investigativa e, posteriormente, fez investigação de casos experimentais de outros projetores, categorizando a fenomenologia projetiva a partir de 8 categorias mais 1 categoria em separado (Muldoon, 261-262):


1. Projeções produzidas por drogas e anestésicos
2. Projeções por ocasião de acidentes ou enfermidades
3. Projeções em ocasião de falecimento
4. Projeções devidas a desejos reprimidos e outros fatores espontâneos
5. Projeções nos que são médiuns ou vêem espíritos
6. Projeções experimentais e hipnóticas
7. Projeções espontâneas durante o sonhos
8. Projeções espontâneas em estado de vigília
9. Casos sintéticos (resumos)

O critério de categorização, análise e síntese utilizados por Muldoon, obedece aos princípios da pesquisa qualitativa, especialmente a fenomenológica, para o estudo de vivências a partir de estudo de relatos de experiências, tal como delineei em minha dissertação de mestrado em educação (UFSC). Ao estudar os relatos, Muldoon organiza as experiências a partir de categorias que respondem aos fatores indutores da projeção consciente. Assim, temos 8 fatores indutores gerais, o que não signfica que se resuma a estes 8. O delineamento das categorias e sua organização revelam processos decisórios do pesquisador, como é de praxe na investigação qualitativa. Outros pesquisadores, projetores, analisando as mesmas vivências podem chegar a categorias diferentes a partir de outra ordem de critérios, o que é sabido em pesquisa qualitativa, a única pesquisa realmente válida para o estudo de vivências.




IV - Sobre os métodos de autoindução

Assim, os métodos adotados por Muldoon servem sobremaneira para que a consciência do projetor se desperte na condição extracerebral, extracorpórea, objetivando para si mesmo, a condição da projeção consciente do corpo astral (psicossoma, perispírito). Desta forma, os métodos são basicamente indutivos, experimentais, cujo sujeito, por conta própria, aplica um ou mais métodos objetivando alcançar o estado projetivo da consciência.

Para que o leitor possa realizar a autoindução, sugiro o estudo da obra (clique aqui), especialmente a parte metodológica.


V - Sobre minha posição resumida como projetor consciente diante dos trabalhos de Muldoon
Assim como Muldoon, minha primeira projeção consciente acontece na infância, ao que me parece, antes mesmo da minha projeção mais lúcida aos 9 anos, quando tentava imitar o super-herói americano em meus sonhos lúcidos e durante os mesmos acabava estando numa projeção consciente. Aos 9 anos, como já relatei noutros ensaios, tive uma experiência abrupta e decolagens forçadas e espontâneas decorrentes de enfermidade (febre alta e hepatite). Pelos meus cálculos, isso acontecera com cerca de 4 a 6 anos de idade, época em que passava o seriado na rede SBT. Em retrocognição clínica, sessão facilitada por dois amigos parapsicólogos clínicos, pude relembrar e reviver projeção consciente ocorrida durante a gestação de minha mãe, quando tentava avisar ao médico para realizar a cesária de meu parto pois sofreria acidente caso não o fizesse, portanto, as primeiras projeções ocorreram, nesta vida, em meu período intrauterino, comprovando para mim, a existência lúcida da consciência mesmo na condição fetal, quando no estado extracorpóreo. Desconheço sinceramente quantas projeções conscientes passei nesta vida, mas creio ter chegado perto das 100 ou até ter passado esta quantidade. Incluo aqui além das projeções conscientes de lucidez elevada, as de lucidez mediana e os sonhos lúcidos (projeções semi-conscientes). Projeções conscientes de alta e mediana lucidez creio ter passado das 50 experiências ao longo desta vida. Mas é uma dedução, nunca fui obsessivo de contar quantas foram tais experiências. Por outro lado, conheço relativamente bem o fenômeno para que possa avaliar a importância da obra de Muldoon.

O ponto comum que me indentifico profundamente com Muldoon é sua condição simultânea de projetor e pesquisador, condição ainda exceção entre os parapsicólogos sérios e mesmo projeciológicos/conscienciólogos. O perigo que caimos é o que apelido de "Síndrome de Blackmore", parapsicóloga que acabou categorizando a projeção consciente na orbe das fantasias ou mero epifenômeno psicológico, após induzir uma experiência parapsíquica usando haxixe. O parapsicólogo que manifesta esta síndrome é aquele que não tem experiência suficiente no campo projeciológico experimental para avaliar o fenômeno por dentro. Sylvan, a partir de suas próprias experiências pessoais acaba erguendo a ciência da projetabilidade, hoje conhecida por Projeciologia, nome cunhado pelo também projetor consciente e pesquisador Dr. Waldo Vieira, verdadeiro continuador de todo labor de Muldoon, fundador da maior e mais séria instituição científica da área, o IIPC - Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia, iniciado na década de 80. Da mesma forma, Vieira também teria vivenciado suas primeiras projeções conscientes na infância, tal como registra em suas extensas obras do assunto, transcendendo em muito os trabalhos de Muldoon em múltiplos aspectos.

O trabalho de Muldoon é, no meu ponto de vista, o melhor trabalho científico sobre projeção consciente que conheço, seguido do amplo tratado Projeciologia - Panorama das Experiências da Consciência para fora do Corpo Humano, do Dr. Waldo Vieira (médico). Minha posição diante disso se dá pela experiência direta do autor e pela clareza, didática, honestidade, franqueza e cientificidade de sua obra, associada a sua coragem de lançar o desafio a todos cientistas psiquicos e interessados, à experimentação direta. Lembramos que tal livro fora escrito na década de 20, do século passado, onde tinha recentemente sido criado o rádio, não existia a televisão e a comunicação era mediante cartas que demoravam bastante tempo até seu remetente. As condiçõesde vida eram outras, a locomoção, carros eram raros, presença de carroças, cavalos, os meios, a cultura da época ainda dogmatizada pelo modelo mais mecanicista e positivista da ciência e a religião ainda em fervor. É neste contexto que Muldoon começa a ter suas experiências e, após acessar a obra do Sr. Carrington (leia na íntegra aqui), inicia troca de cartas. Para uma pessoa se expor como Muldoon se expôs naquela época, diante do assunto tão picante e corrosivo como é o da projetabilidade e suas consequencias sociais e humanas, há de ter coragem rochosa diante do público e da comunidade científica. Em meio ao nascimento da Parapsicologia Moderna, libertando-se das amarras qualitativas da anterior Metapsíquica, eis que surge o trabalho de Muldoon, como um retorno lúcido e sólido à investigação qualitativa e científica da experiência humana mais complexa de se pesquisar: a projeção consciente do corpo extrafísico (astral, psicossoma, perispírito). Enquanto os fenômenos psi-Gama acabaram sendo abandonados e sendo substituidos gradualmente por PES, e os restantes sendo arbitrariamente classificados no esboço das hipóteses de sobrevivência, o clássico de Muldoon acaba sendo um retorno à Metapsíquica, por um lado, e uma ampliação da Parapsicologia, por outro. Os experimentos de Muldoon são exemplares e seu incentivo à autoexperimentação como método da Projeciologia é condizente com as dificuldades desta ciência e da indução da projeção consciente para fora do corpo e cérebro físico. Seus argumentos pertencem a alto nível de honestidade e comprometimento com a ciência séria e não-dogmática, aberta e universalista.

Assim temos que, na História da Projeciologia Moderna, Muldoon inaugura o universalismo da ciência extracorpórea e da possibilidade da existência compartilhada e pública, abrangente, da condição extracorpórea da consciência projetada. Para tanto, cabe a todos nós experimentarmos, para somente então, sabermos. A experiência da projeção, tal como afirma Muldoon, é a única experiência real, concreta, que viabiliza a comprovação definitiva da existência da consciência separada do cérebro físico e do corpo inteiro. O que advém em suas conseqüências de amplo espectro, desta evidência, ou arriscando-me a dizer, desta "verdade", está além de nossa compreensão. O centro aqui é a consciência. Assim, Muldoon me parece também ser o precursor da Conscienciologia, junto com o filósofo Miguel Reale, criador do termo que, posteriormente, iria ser adotado pelo Dr. WaldoVieira, para a nova ciência da consciência integral, colocando a Projeciologia como uma de suas especialidades (anteriormente pertencente à Parapsicologia). Deixo aqui as palavras de Muldoon e como "precognitor" da Conscienciologia:

"El cuerpo astral no piensa - no origina pensamiento - como tampoco lo hace el cuerpo fisico! Meramente es el vehiculo de la mente, que funciona en su propio plano. Al ser esto así, ha de resultar obvio, que algún principio mental superior (llamémoslo, espíritu, alma, o como queramos) funciona através del cuerpo astral; y, por ser tal el caso, debe representar un elemento todavia más transcendental de nuestro ser."

Em resumo, o principio mental superior que funciona através do corpo astral (psicossoma) é a consciência. Quanto ao veículo da mente, o mentalsoma ainda é uma hipótese, visto que para ser corpo, é necessário que possa ser objeto da consciência e, a consciência quando se manifesta fora do psicossoma (corpo astral), ainda sim, não pode se ver ou se detectar como um veículo. Ficamos aqui com este impasse de classificação, que nada altera a fenomenologia projetiva.