25.9.17

A partida de meu pai: evidência da sobrevivência

Dr. Fernando Salvino
Parapsicólogo e Psicoterapeuta



No exato dia 03 de agosto de 2017, meu pai foi tido como "falecido", cuja certidão de óbito constou como causa a insuficiência respiratória aguda.

O presente relato apesar de estar impossibilitado de expor com toda a clareza a profundidade da experiência que vivenciei, poderá no entanto, apontar para uma direção, qual seja, a da continuidade da vida após a morte do corpo biológico.

Um fato acompanha a vivência: meu pai estava lúcido no momento em que seus pulmões pararam de funcionar. Ele passava por uma internação por câncer no pulmão com metástase na coluna e permanecia sob efeito da morfina e outros medicamentos para a anulação total da dor. Porém sua lucidez mantinha-se presente. Esta lucidez é evidenciada pelo modo como olhou-me profundamente nos olhos, assim como nos olhos de meu irmão, instantes antes de ter seu corpo desativado.

E foi justamente neste contato transcendente com total ausência de palavras que olhamos nos olhos um do outro e nos comunicamos como nunca conseguimos nos comunicar. Se eu pudesse dizer que foi uma comunicação de espírito a espírito poderia ser mais preciso. Mas não tenho palavras para descrever. Ali pude "ver" meu pai e ele a mim. O mesmo aconteceu entre ele e meu irmão. Ali eu entendi uma vida inteira. Ali eu entendi a vida, o amor, a amizade verdadeira, a liberdade. E foi ali que eu disse a ele que estava tudo bem e que ele poderia se entregar e ir. Nada mais poderia ser feito. A radioterapia tinha sido cancelada. A quimioterapia não pudera ser nem iniciada. So restava aguardar este tempo misterioso do momento exato da morte. E ele nos olhou e ali disse tudo, sem falar nada. Lúcido, calmo e convencido de que chegou sua hora de partir. E nada vi ali de morte. E nada encontrei ali de morto. O que vi na morte foi a mais pura evidência da vida. A beleza do amor e da amizade, da gratidão e do carinho e da certeza de que aquela lucidez permaneceria existente mesmo após a morte daquele corpo já velho. Não havia morte ali. Havia um corpo velho e em fase final de vida, enquanto que meu pai (e não o corpo), mostrava uma lucidez incomum e a beleza do momento, a profundidade do amor apontou-me para a continuidade. Somente um cego ou um tolo não "veria" esta verdade. A verdade que na morte o que se mostra é a vida novamente.

E meu pai foi, partiu para mais uma viagem existencial. Lembro de meu pai após se despedir de mim e de meu irmão, olhar para cima e ver alguém flutuando no quarto. Os arrepios e o choro me vieram junto com a certeza de ser minha tia, irmã de meu pai, falecida muitos anos antes. Ele viu a luz, viu a verdade, viu sua irmã e partiu em paz.

E diante de todas as evidências que já presenciei esta é uma das mais convincentes.

E novamente afirmo: a sobrevivência da consciência (alma, espírito e tudo o que somos) mais uma vez foi comprovada nesta vivência.